Ilhas do Rosário na Colômbia - meu Caribe particular

Cartagena não tem praias boas, mas do ladinho estão as muy caribeñas Ilhas do Rosário, ótima opção de esticada da visita à cidade 

Quem vai a Cartagena pensando em praia tende a se decepcionar: embora tecnicamente a cidade esteja às margens do mar do Caribe, é banhada por águas barrentas que nada lembram o cartão postal.

Mas nada de arrancar os cabelos, porque as Ilhas do Rosário estão lá exatamente para compensar essa falha da natureza.

Prepare-se para o dolce far niente à beira-mar nas Ilhas do Rosário

 Escolha uma das Ilhas do Rosário  — são 27 maiores e uma profusão de barranquinhos que mal comportam uma casa — e se mande para esse arquipélago, a uma hora de lancha, ao Sul de Cartagena.

Os barcos para as Ilhas do Rosário saem da Doca de los Pegasos, em Cartagena

Lá, você vai encontrar um mar muito azul, calminho, morno, que sempre acaba numa prainha de areia tão branca que parece farinha de trigo.

Veja as dicas:

Ilhas do Rosário na Colômbia

Na verdade, em se tratando de Ilhas do Rosário, a gente não escolhe a ilha, e sim a hospedagem. O seu hotel  e a praia em frente, serão sua porção de Caribe para chamar de sua. Eu escolhi (pela internet) o Hotel San Pedro de Majágua, na Isla Grande.

Minha “sala de leitura” no hotel San Pedro de Majágua

O transfer até a Isla Grande é por conta do hotel. A saída é do Hotel Sofitel Santa Clara, em Cartagena. Os futuros hóspedes de Majágua pegam carona com a excursão bate e volta oferecida pelo hotelão.

Dia marcado, às 7h da manhã fui me juntar ao grupo de uns 30 gringos que esperava o micro-ônibus para o Muelle de los Pégasos, de onde saem os barcos para os passeios às Ilhas do Rosário.

O hotel fica completamente imerso na mata e de cara para a praia

As cabanas dos hóspedes (à direita) ficam quase camufladas entre as árvores

Árvores de majágua que dão o nome ao lugar

Galera animada... Cheguei a temer pelo meu sossego diante da profusão de camisas floridas e bonés de beisebol que faziam verdadeira algazarra de pura excitação, antecipando o encontro com o Caribe de verdade do Arquipélago de Rosário.

Mas não se assuste: a excursão passa apenas algumas horas em Majágua, testando a eficácia de seus protetores solares, e volta a Cartagena depois do almoço. 

A primeira visão de San Pedro de Majágua, ainda na lancha — e já com uma vontade doida de mergulhar nesse mar

A lancha que me levou a Isla Grande era bem robusta, berrando ritmos caribenhos em onipresentes caixas de som — se você pensou em trio elétrico, não está muito errada, não...

À medida que nos afastávamos de Cartagena, o mar ia ficando mais azul e cada vez mais transparente. Vai dando uma vontade enorme de chegar.

A faixa de areia em frente ao hotel é estreitinha e quase some com a maré alta. Mas, pra mim, quanto mais desse mar, melhor

Depois do desembarque na Isla Grande, foram três dias de Caribe só para mim. Entre as 10h e as 14h eu dividia minha praia com o grupinho de excursionistas — para ser justa, devo dizer que ficavam bem mais silenciosos que a bordo da lancha. Depois, éramos só eu, um casal de canadenses e três senhorinhas americanas.

Os passeios bate e volta às praias das Ilhas do Rosário podem ser contratados nas diversas agências de turismo de Cartagena. Mas garanto que você vai gostar muito mais se pernoitar em alguma pousada do arquipélago para aproveitar o silêncio e o céu estrelado. Leve um (ou mais) livros.

Eu aproveitei o sossego para ler o bom romance La Nostálgia del Melómano, do escritor colombiano Juan Carlos Garay, que descobri numa pequena livraria do Bairro de San Diego, em frente à  Muralha de Cartagena.

As Ilhas do Rosário têm pousadas para todos os gostos e casas de veraneio de todos os tipos, mas muitas áreas de mata preservada e praias desertas.

Dicas práticas das Ilhas do Rosário

O Arquipélago Corales Del Rosário é um parque nacional. Antes das leis protecionistas, correu sério risco de devastação por conta da ocupação irregular, mas hoje está muito bem cuidado. 

Não esqueça de levar pesos colombianos para sua estadia nas Ilhas do Rosário, para pagar a Taxa Ambiental.

Todos os turistas que visitam o Arquipélago Corales del Rosário devem pagar o imposto de 10.000 Pesos Colombianos (US$ 5.5)

Hospedagem nas Ilhas do Rosário

Hotel San Pedro de Majágua 

Isla Grande, Islas del Rosário

O Hotel San Pedro de Majágua é para quem quer sossego. Os bangalôs distribuídos pela mata garantem privacidade, silêncio e um sono dos anjos.

O hotel é rústico e o entorno é totalmente roots

Sem luxo, os apartamentos têm o básico: frigobar, mosquiteiro, ar condicionado ou ventilador (totalmente desnecessários, pois o vento sopra forte do mar a noite inteira) e água quente. O café da manhã é de boa qualidade.

O restaurante do hotel ica cheio no almoço, com os turistas que vêm passar o dia, mas nada que comprometa. A comida é boa e o forte, claro, são os frutos do mar.

Onde comer nas Ilhas do Rosário

“Lagosta delivery”

Os pacotes de hospedagem nos hotéis das Ilhas do Rosário geralmente preveem pensão completa — até porque a oferta de restaurantes nas ilhas é bem limitada.

Repare os entregadores de lagosta no canto esquerdo da imagem

Mas todos os dias a “minha” praia em frente ao hotel era visitada por moradores das Ilhas do Rosário, que chegavam em canoas e, do mar, acenavam com lagostas ainda vivas. 

Era só escolher a "vítima" e negociar o preço, que os pescadores a preparam a lagosta na hora, aferventando a bichinha num fogareiro.

É preciso uma certa prática para quebrar a casca da lagosta com o martelinho — e isso eu tenho de sobra, pois treinei a vida inteira na Pituba e nos verões da Ilha de Itaparica.

Os poucos hóspedes do hotel me olhavam com inveja e admiração pela destreza, a cada lagosta devidamente devorada. Com uma boa negociação, eles vendem três lagosta por US$ 10. Imaginem a farra...

Trilhas na mata levam a lagoas e a áreas para a observação de pássaros

O que fazer nas Ilhas do Rosário

O melhor, nas Ilhas do Rosário, é não fazer absolutamente nada, exceto aproveitar o conforto amniótico daquele mar, almoçar e fazer uma longa sesta nas redes espalhadas à sombra das Majáguas, árvores típicas da região.

O Hotel San Pedro de Majágua não tem TV nem internet. Entretenimento, só os livros e o IPod que você levar.

O hotel oferece guias para os passeios e desaconselha os hóspedes a se embrenharem sozinhos na mata

Mas se ficar de papo para o ar contando as folhas das árvores não for a sua praia, combine com o pessoal do hotel para destacar um guia e saia para caminhar pela mata preservada que cerca o hotel.

Há sempre um funcionário do hotel disponível para acompanhar os hóspedes nas trilhas pela área cheia de pássaros. Bem treinados, eles são um misto de seguranças, guias turísticos e educadores ambientais. 

⭐Mergulhe na "Laguna Encantada"

Laguna Encantada: para ver peixinhos de dia e ficar fosforescente à noite

O nome não é nada original, mas a Lagoa Encantada da Isla Grande permite mergulhos alucinógenos de snorkel: são milhares de peixinhos dourados na água transparente, apesar do tom meio ferrugem da lagoa.

O "encanto" da lagoa é efeito dos planctons que, à noite, fazem os mergulhadores brilharem no escuro — desavisados podem achar que servem lagosta radioativa por lá, mas não entre em pânico.

⭐Leia autores colombianos

Além da grande estrela literária do país, Gabriel García Márquez — que tem uma casa com um muro altíssimo em frente à muralha de Cartagena, perto de San Diego — experimente Juan Carlos Garay, que escreve muito bem.

La Nostalgia del Melómano, que li em Majágua, tem um clima que remete aos livros de um favorito meu, o inglês Nick Hornby.

Além da Nostalgia, reforcei o suprimento com dois títulos do jornalista e escritor Alfredo Molano, um cronista da realidade rural colombiana, marcada pela violência da guerrilha, dos paramilitares e do narcotráfico. 

Garay e Molano me fizeram companhia no retiro nas Ilhas do Rosário

Em Águas Arriba - Entre la Coca y el Oro, Molano nos mostra a dura realidade enfrentada pelos camponeses da Colômbia. Trochas y Fusiles reúne relatos de vários ex-combatentes das FARC — jornalismo de primeiríssima qualidade.

Fiquei impressionada com o preço dos livros na Colômbia. Os três exemplares que comprei são da Puncto de Lectura, uma mega editora, presente nos países de língua espanhola. Custaram, juntos, cerca de R$ 60. São brochuras levinhas, de ótima qualidade. Depois deste encontro, tornei-me consumidora voraz das coleções da Puncto de Lectura.

⭐Visite o Aquário San Martín
Isla de San Martín de Pajarales, Parque Nacional Natural Corales del Rosario

O Aquário San Martín tem pelicanos espertos, tubarões, arraias, golfinhos e mais

O Aquário San Martín funciona diariamente, das 10h às 14h (na baixa temporada, só de quarta a domingo).

Fica a 40 minutos de lancha de Isla Grande, onde estava hospedada. De Cartagena, há barcos no Cais de la Bodeguita, às 7:45h e a viagem dura 1h30min. O retorno é às 15:30h.

Entrada: 15.000 Pesos colombianos.

Haja tubarão, viu?

OK, eu também detesto jardins zoológicos e assemelhados. Quando era criança, a penúria do Zoológico de Salvador me deixava deprimida dias a fio, após cada visita.

Mas tive que mudar de opinião depois de visitar o Aquário San Martín das Ilhas do Rosário, voltado para a educação ambiental.

Mas também tem peixinhos em festa

E arraias

Até o show dos golfinhos é simpático

Os pesquisadores e técnicos que trabalham no aquário são muito bem preparados, as explicações são objetivas e claras e até o show de golfinhos – abomino ver bicho transformado em objeto de entretenimento – é bacana.

Se você ainda reluta em banir as sacolinhas plásticas de sua vida, precisa dar um pulinho neste excelente centro de vida marinha. Os monitores do Aquário San Martin explicam muito direitinho o que o plástico faz à fauna dos mares. E as histórias são de arrepiar.

No Aquário San Martín, entre "viveiros" de tubarões-gato, tanques de golfinhos bailarinos, arraias, vários tipos de peixes — e a presença constante de pelicanos espertos —, a equipe de monitores e biólogos se esforça para que o visitante compreenda a importância de preservação dos mares. A palestra é curta, mas definitiva.

A maioria das Ilhas do Rosário mal comporta uma casa

Quem sofre mais com o lixo que despejamos nas águas são as tartarugas, que confundem as famigeradas sacolinhas com águas vivas, um de seus pratos prediletos. No estômago das simpáticas bichinhas, o plástico provoca dores horríveis e a morte. Depois de passar uma manhã em San Martín, adotei de vez a sacola reaproveitável para minhas compras.

Todos as dicas de praias na Fragata Surprise

Todas as dicas da Colômbia: post-índice com mapa

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