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O Beijo (1908), de Gustav Klimt, é a obra mais famosa
do acervo do Museu do Palácio Belvedere, em Viena |
Faz muito tempo que eu queria falar aqui na Fragata sobre o Museu do Palácio Belvedere em Viena, dono de um acervo tão sensacional que eu arrisco dizer que é o mais importante dessa cidade tão cheia de museus sensacionais.
O problema é que quando visitei o Belvedere o blog ainda não existia e eu, totalmente embasbacada pela profusão de maravilhas de Gustav Klimt (1862-1918), Egon Shiele (1890-1918), Oskar Kokoschka (1886-1980) e outros gênios, não fiz uma única foto do museu.
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O recheio do Palácio Belvedere é deslumbrante, mas
a embalagem também faz um bem danado para os olhos, né? |
Bora ver essas dicas?
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Homens na Praia (1908), de Edvard Munch |
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Egon Schiele é um show de bola: no alto, Retrato de
Victor Ritter von Bauer (1918). Acima Casal Agachado, ou A Família (1918) |
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Tem mulher no museu: no alto, o sensacional Sonhos (1913), de Helene Funke. Acima, Início de Primavera nos Bosques de Viena (1883), de Tina Blau |
Apesar de seu nome oficial original — Österreichische Galerie
Belvedere, ou Galeria Austríaca Belvedere — a coleção do Museu Belvedere vai muito além dos artistas austríacos, reunindo um acervo de arte europeia que vem desde a Idade Média.
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Emoção (1900), do suíço Ferdinand Hodler |
É por isso que na “Coleção Austríaca” do Museu do Palácio Belvedere você vai encontrar não apenas a maior coleção de obras de Gustav Klimt reunida no planeta, mas também obras de artistas de outras procedências e estilos.
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Acho A Anunciação, de Kokoschka, simplesmente
arrebatadora |
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Autorretrato com Cigarro (1871), do alemão Anselm
Feuerbach |
E tem barrocos, impressionistas (Manet, Monet e Renoir, por exemplo)... uma festa.
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A Caçada (1876), de Claude Monet (no alto, um
detalhe do quadro) |
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Mais Monet: O Cozinheiro (1882) |
A origem do Museu do Palácio Belvedere
O Belvedere funciona como espaço de exposições desde o final do Século 18. E ainda que o recheio (o acervo) seja de rasgar a roupa, é importante prestar atenção na embalagem, porque o conjunto é lindo: são dois palácios barrocos separados por um jardim muito bonito, além das antigas cavalariças e da estufa de plantas (a Orangerie).
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Os jardins barrocos são uma das grandes atrações do conjunto
arquitetônico do Palácio Belvedere |
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Antes de virar museu, o Belvedere era o palácio de verão do
príncipe Eugênio de Saboia |
Tudo isso servia como residência de verão do príncipe Eugênio de Saboia, comandante militar do Império Austro-Húngaro desde 1683 até sua morte, 1736.
O príncipe esteve metido em todas as guerras e escaramuças
dos imperadores Habsburgo num período de 60 anos. Fico curiosa por saber onde
ele arrumou tempo pra curtir seu palácio e ainda se notabilizar como mecenas e
colecionador de arte.
Acrescido da coleção da família reinante, os Habsburgo, o Palácio Belvedere foi aberto à visitação em 1781, um dos primeiros museus públicos do mundo.
Mais recentemente, o conjunto do Palácio Belvedere ganhou um irmão caçula, o Belvedere 21, pavilhão de Arte Contemporânea, com cinema e auditório para espetáculos musicais. Ele fica no Schweizergarten ("Jardim Suíço"), uma área verde a cerca de 800 metros do Oberes Belvedere.
Klimt, a maior estrela do Belvedere
Mais de 100 anos depois de sua morte, Gustav Klimt permanece
como o ídolo pop que foi em sua época — a virada do Século 19 para o 20 não
tinha redes sociais, mas também produzia ídolos e deuses.
Ele é considerado o principal líder da chamada Secessão Vienense,
movimento de ruptura com os padrões acadêmicos que reunia artistas identificados
com os mais diversos estilos. Uma de suas obras mais importantes, aliás, é o
Friso Beethoven, que adorna uma das salas do deslumbrante Edifício Secessão,
sede do grupo.
(Recomendo muitíssimo que você visite o Edifício Secessão,
que fica na Friedrichstraße nº 12, a menos de 500 metros da estação de metrô de
Karlsplatz).
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Retrato de Mulher (1894) |
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Retrato de Sonja Knips (1898) |
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Retrato de Fritza Riedler (1906) |
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A Noiva (1918) |
Como você já leu aqui, o Museu do Palácio Belvedere tem 50 trabalhos de Klimt em seu acervo — entre eles O Beijo, a obra mais conhecida do pintor — e é um lugar perfeito para constatar como a obra do artista foi se afastando dos traços mais acadêmicos (como em Retrato de Mulher, de 1894), até explodir no escancarado Jugendstil de A Noiva, de 1918.
Nesse meio tempo, Klimt produziu algumas das obras mais icônicas da Belle Époque, como Judite (1901), um de seus retratos mais famosos, que também está no acervo do Museu do Palácio Belvedere.
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Klimt também pintava (lindamente) paisagens. No alto, Alameda
no Castelo Kammer (1912). Acima, Casa de Fazenda em Bushberg (1911) |
As mulheres de Klimt são chiques, altivas e etéreas, meio irreais. É que ele não pintou o povo. Suas modelos eram, em geral, integrantes
da alta sociedade, anfitriãs de salões badalados onde as vanguardas circulavam
com a mesma desenvoltura que o dinheiro.
A mais famosa dessas modelos foi Adele Bloch-Bauer
(1881-1925), que posou para pelo menos dois retratos feitos por Klimt. O mais
famoso deles é conhecido como A Dama Dourada, concluído em 1907 e que hoje
pertence ao acervo da Neue Galerie
de Nova York. Adele também teria sido a modelo para o famoso Judite.
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Amalie Zuckerkandl, modelo deste retrato inacabado de 1918,
foi assassinada pelos nazistas em um campo de concentração |
Adele morreu em 1925, antes da ascensão do nazismo. Mas sua
família — os Bloch-Bauer eram judeus — não escapou às perseguições, deportações
e extermínio. As coleção de arte da família foi roubada pelos nazistas e, no
pós-guerra, algumas dessas obras, a Dama Dourada, inclusive, foram incorporadas
ao acervo do Museu do Palácio Belvedere.
Os austríacos se atinham ao fato de que Adele, em testamento, legou a obra ao Belvedere. Os herdeiros se baseavam no testamento do viúvo de Adele, que deixou o quadro para os sobrinhos. Depois de muita disputa em tribunais da Áustria e dos Estados Unidos, A Dama Dourada foi restituída em 2004 a Maria
Altmann, sobrinha de Adele, que vendeu o quadro à Neue Galerie de Nova York.
Essa, porém, não foi a única obra de arte pilhada pelos
nazistas a ser devolvida pelo Belvedere aos herdeiros dos donos originais. A
primeira a retornar aos proprietários foi Quatro Árvores (1917), de Egon Schiele, em
1959. Em 2006, foi a vez de Noite de Verão na Praia (1903), de Edvard Munch, ser
restituída aos herdeiros do compositor Gustav Mahler.
Também em 2006, cinco obras de Klimt pertencentes à coleção dos Bloch-Bauer retornaram à família dos proprietários originais. Por fim, em 2014, a obra Cozinha de Fazenda, de Wilhelm Leibl foi devolvida aos herdeiros de seus donos.
Uma obra que teve a posse reclamada por herdeiros de vítimas do nazismo e que não foi devolvida pelo Belvedere é o Retrato de Amalie Zuckerkandl (1918), de Klimt. A reclamação foi contestada pelo Estado Austríaco, que afirma que o quadro não foi objeto de pilhagem. O fato é que Amalie, a modelo, e sua filha foram deportadas pelos nazistas para o campo de concentração de Belzec, na Polônia, onde foram assassinadas.
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Napoleão Cruzando os Alpes (1801), de Jacques Louis
David |
O Unteres Belvedere (“Belvedere de Baixo”, antiga residência
do Príncipe Eugênio, estufa de plantas e cavalariças, com acervo de diversas
épocas e uma coleção medieval) funciona diariamente, das 10h às 18h.
O Belvedere 21 abre de terça a domingo (e às segundas, em
caso de feriado) das 11h às 18. Às quintas, fecha às 21h.
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O Belvedere também recebe obras convidadas e exposições
temporárias. Kenneth e Alexandre, por exemplo, tiveram um feliz encontro com
esse Retrato de Adele Bloch-Bauer II, pintado por Klimt em 1912 e que
pertence ao Metropolitan Museum de Nova York. Adele também posou para o
retrato que entrou para a história com o título de A Dama Dourada, uma das
obras mais famosas do artista |
💲Ingressos: para ver o Oberes Belvedere, o preço da entrada é de € 16,70 para compras pela internet ou de € 19 na bilheteria do museu. Maiores de 65 anos e estudantes menores de 26 pagam € 13,40 (€ 15,50 na bilheteria) e menores de 19 anos entram gratuitamente.
No Unteres Belvedere, a entrada custa € 14,60 pela
internet e € 17 na bilheteria. Maiores de 65 anos e estudantes menores de 26
pagam € 10,90 (€ 12,50 na bilheteria) e menores de 19 anos têm entrada
gratuita.
O Belvedere 21 cobra € 9,30 pelo ingresso comprado
antecipadamente, online, e € 11 na bilheteria. Maiores de 65 anos e estudantes
menores de 26 pagam € 6,90 (ou € 8 na bilheteria) e menores de 19
anos entram gratuitamente.
Se quiser visitar os três espaços, há um tíquete combinado, válido para um único dia, que custa € 26,10 (comprado na internet) ou € 30,50 (na bilheteria).
Para ver apenas o Unteres Belvedere e o Oberes Belvedere, o bilhete
combinado sai por € 24,00 (internet) ou € 27,50 (na bilheteria).
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PS: Pra meu querido amigo Kenneth, o padrinho deste post, a visita ao Belvedere teve o sabor de uma jornada sentimental, já que sua mãe, Kersti Renate Flemming foi aluna da antiga Kunstgewerbeschule (Escola de Artes e Ofícios de Viena), onde Gustav Klimt também estudou, décadas antes.
Além disso, Renate morou na Prinz-Eugen-Straße , onde está a entrada principal do museu. É fácil imaginar a estudante de artes percorrendo as salas do Belvedere, um vizinho tão atraente.
Desde 1970 a Kunstgewerbeschule tem status de universidade,
sob o nome de Universität für angewandte Kunst Wien (Universidade de Artes
Aplicadas de Viena).
Kenneth e Alexandre são super generosos com suas dicas de viagem. São eles os responsáveis por todas as detalhadíssimas informações sobre a vista aos gorilas, em Uganda e os safaris na Tanzânia, publicadas aqui no ano passado.
Viena na Fragata Surprise
O Edifício Secession e outros dos meus museus favoritos
Mais sobre a Áustria
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