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Um grande atrativo de Montevidéu é a liberdade de
desfrutar dos espaços públicos com muita tranquilidade. Na imagem, a Rambla
Mahatma Gandhi, em Punta Carretas |
Acabei de voltar de lá — minha quarta visita à cidade. Nas três viagens anteriores, o roteiro em Montevidéu nunca ultrapassou os quatro dias, com direito a bate e volta a Punta del Este ou a Colonia del Sacramento. E sempre ia embora levando o gostinho de quero mais.
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Programinha gostoso em Montevidéu é fazer um safári
fotográfico clicando as construções da virada do Século 19 para o 20. A cidade
cuida bem de sua arquitetura mais antiguinha |
Há muito que eu vinha namorando a ideia de uma temporada mais longa na capital uruguaia. Onze anos depois da última visita, finalmente montei um roteiro em Montevidéu do jeito que eu queria, com tempo para conviver com a cidade do jeito que ela convida e merece.
Os dois anos de retiro forçado da pandemia me deixaram doida por uma viagem que me desse o prazer de explorar uma cidade. Não queria praia nem mato, queria a paisagem urbana, mas sem muitas turbulências.
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Quem curte livrarias, como eu, simplesmente pira em Montevidéu. Estas são a Linardi y Risso (no alto) e a Más Puro Verso, as duas na Ciudad Vieja |
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Duas visitas que eu super recomendo em Montevidéu: o Museu
Torres García (no alto) e o Museu Figari |
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Parque Rodó, área verde muito frequentada pelos moradores de Montevidéu |
Roteiro em Montevidéu
Minha viagem de Brasília a Montevidéu foi um pancadão de quase nove horas e três voos (de BSB a Campinas, de lá para Porto Alegre e, finalmente, POA-Montevidéu).
Acordei às 3:30h da manhã, embarquei antes do sol nascer e cheguei à capital uruguaia um pouco depois das 14 horas.
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Uma tarde nas Ramblas. Montevidéu me recebeu tão bem... |
À noite, já caí na parrilla na adorável La Pulpería, restaurante simples que é uma verdadeira instituição montevideana.
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Logo na chegada a Montevidéu, um jantar de responsa em La
Pulpería, de cara para o braseiro |
2º dia, sábado - Ramblas e MNAV
Talvez tenha sido o longo tempo de confinamento da pandemia, mas raras foram as vezes que cheguei a um destino de viagem com tanta sede de andar e explorar um lugar.
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Medialunas doces e salgadas e um bom café. Eita jeito com de começar o dia |
Comecei meu sábado em Montevidéu com café e medialunas (os croissants platenses, um hit dos cafés da manhã em Buenos Aires e na capital uruguaia). O estoque de calorias animou nada menos do que 14 km de caminhadas.
Do hotel até o Letreiro Montevidéu, o percurso de 1,7 km cobre toda a curva da Praia de Pocitos, delícia de passeio à beira d’água — eu me recuso a dizer à beira-mar, quando falo da Orla do Rio da Prata — pela Rambla República de Peru, onde os moradores pedalam, se exercitam ou simplesmente contemplam as águas do rio, que ficam muito azuis em um dia de sol.
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A curvatura da praia e os prédios altos deram a Pocitos o
apelido de "Copacabana de Montevidéu" |
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Tem que ter uma certa paciência pra esperar a chance de
clicar o Letreiro Montevidéu sem gente pendurada nele |
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Cenas de Montevidéu: tango na rua em uma manhã de sábado |
Como eu falei no Instagram, vou azucrinar o juízo de todo mundo que for a Montevidéu e não colocar o MNAV em seu roteiro. Que museu legal!! E com entrada gratuita, ainda por cima.
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O MNAV é uma deliciosa aula sobre as artes plásticas uruguaias. E tem entrada gratuita |
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Petrona Viera (1895-1960) foi a primeira mulher a se
profissionalizar como pintora no Uruguai. Sua Composição - Retratos em um
Jardim (1927) é um dos destaques do acervo do MNAV |
No caminho, a escala para reabastecer as calorias foi no Mercado Williman, centro gastronômico no estilo que está super na moda em Montevidéu: uma praça de alimentação moderninha e com uma boa variedade de opções, a preços moderados.
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No alto, almoço tardio no Mercado Williman. Depois teve pôr
do sol em Playa Ramirez |
Pensa que acabou? Voltei a pé para o hotel (mais 3,7 km). No caminho, uma parada estratégica no ótimo Bar Tabaré, para drinks e petiscos, que ninguém é de ferro 😉.
Será que eu acordei moída da maratona de voos da sexta e do surto caminhante do sábado? Mas domingo em Montevidéu é dia da Feira de Tristán Narvaja, a mistura de mercado de pulgas e feira livre mais divertida que já vi.
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Eu adoro o tumulto cordial da Feira de Tristán Narvaja |
Entre bancas de livros usados, trailers de comidinhas diversas, barracas de hortaliças, brechós de roupas e tabuleiros de quinquilharias e antiguidades, a multidão circula pela Feira de Tristán Narvaja na maior cordialidade. Taí outro programa imperdível em Montevidéu.
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A Porta da Cidadela, na Praça Independência, marca a
fronteira entre a Cidade Velha e a "nova" Montevidéu |
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O Palácio Salvo é gêmeo do Palácio Barolo de Buenos Aires |
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Estátua equestre de José Artigas no mausoléu do general, bem
no centro da Praça Independência |
É bem fácil ir de Punta Carretas à Cidade Velha (o ônibus 116 deixa a gente de cara pra o gol. A passagem custa 48 pesos uruguaios, algo como R$ 6,20).
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No movimento da Avenida 18 de Julio, vale caminhar devagar,
garimpando muitos cliques de belas fachadas neoclássicas e ecléticas |
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A Plaza de Cagancha é um dos respiros verdes da
Avenida 18 de Julio |
No caminho, fui curtindo os belos edifícios neoclássicos, ecléticos, Art Nouveau e art déco que margeiam a principal avenida do Centro de Montevidéu. Uma parada imperdível é na Livraria Puro Verso, uma das mais tradicionais da cidade, onde precisei de muita disciplina pra comprar apenas um livrinho.
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Imaginem a vontade que me deu de esticar a estadia em
Montevidéu pra aproveitar a temporada de ópera do Teatro Solís |
A Puerta de la Ciudadela era um dos portões da muralha colonial de Montevidéu e hoje é praticamente a única memória em pedra e cal que ainda resta dessa fortificação.
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A Catedral de Montevidéu, do começo do Século 18, merece uma
visitinha |
A Peatonal Sarandi atravessa a agradável Plaza Constitución, ou Plaza Matriz, onde está a Catedral de Montevidéu (vale a visita, que é gratuita) e o edifício onde funcionou o Cabildo (uma espécie de parlamento colonial das cidades espanholas nas Américas).
Depois de almoçar e visitar a Catedral, rumei para o grande programa do dia, a visita ao querido Museu Torres García, dedicado a um dos meus pintores favoritos. A entrada custa 100 pesos uruguaios (R$ 13).
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Haja disciplina pra não passar meus nove dias em Montevidéu
enfurnada no Museu Torres García |
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Meu primeiro dia de passeio pelo Centro e Cidade Velha terminou com pôr do sol no terraço panorâmico da prefeitura de Montevidéu |
Passeio pela Cidade Velha de Montevidéu
Esse dia começou com um café da manhã em dois tempos, contemplando dois ícones da Cidade Velha de Montevidéu.
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Cês tomem cuidado quando forem à Confitería 25 de Mayo porque vicia, tá? |
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Café Brasilero: histórico, bonito e gostoso |
Minha desculpa para a glutoneria é que acordei muito cedo e a Livraria Linardi y Risso — outra veneranda instituição da Cidade Velha — só abre às 10h. Então, a comilança foi só pra fazer hora 😁.
Depois de quase estourar o cartão de crédito na Linardi y Risso, fui inspecionar as prateleiras de outra bela livraria, a Más Puro Verso, que tem um café bem simpático no mezanino (mas não, não comi nada lá😊).
À tarde, fui matar uma vontade que já me acompanhava há muito tempo: conhecer a obra do pintor Pedro Figari, um dos grandes nomes das artes uruguaias. Desde que vi uma tela dele no Malba de Buenos Aires (Candombe), eu vinha namorando essa ideia.
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Museu Figari, tributo a um artista sensacional |
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Sala Principal do Teatro Solís |
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Tente resistir ao charme do Bairro de Cordón - e falhe, miseravelmente 😁 |
Colado ao Centro, Cordón tem tradição de engajamento e boemia, preserva muito de sua pegada residencial, combinada com uma cena moderna e descolada.
Passear por Cordón é encontrar cafés charmosos, bares animados, boas opções gastronômicas, belas livrarias, como a Escaramuza Libros, espaços culturais, como a Fundação Mario Benedetti, e uma arquitetura antiguinha e bem preservada, à sombra dos adoráveis plátanos, árvores que são meio que logomarca de Montevidéu.
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Visita imperdível em Cordón, a Escaramuza Libros tem um baita acervo e um café muito charmoso no pátio |
Depois, peguei o ônibus para El Prado, bairro a cerca de 7 km ao Norte do Centro de Montevidéu. A área, cheia de construções elegantes do início do Século 20, é conhecida também por seu parque público de 106 hectares — o maior de Montevidéu —, Jardim Botânico e Rosedal.
Meu principal interesse em El Prado, porém, era ver o Museu Juan Manuel Blanes, dedicado ao pintor do Século 19, instalado em um belo casarão no meio de um belíssimo jardim.
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Atração em El Prado: o Museu Blanes está cercado por um belo jardim e tem entrada gratuita |
Meu passeio ao ar livre por El Prado foi meio frustrado por um aguaceiro — a única chuva que vi cair em Montevidéu nos 10 dias em que estive por lá —, mas o museu compensou a viagem.
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Parque Zorilla: sossego no meio do vai e vem de Punta Carretas |
Depois de todo esse relax, bora pra farra, né? O Bar El Mingus, no Bairro de Palermo, caiu como uma luva na minha alma boêmia.
Tenho que confessar que meu roteiro em Montevidéu nesse dia obedeceu à inspiração da gula: eu estava doida pra arrumar uma desculpa para voltar à Confitería 25 de Mayo e devorar alguns quilos do delicioso polvorón (biscoito amanteigado) feito na casa.
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O MAPI é interessante e o Museu Gurvich (abaixo) é sensacional |
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Construtivo com Espiral (1960), de José Gurvich |
Ainda bem que eu tinha dois bons pretextos: o Museu Arte Pré-Colombiana e Indígena (MAPI) e o Museu Gurvich, dedicado ao discípulo de Torres García. (Pena que o Museu do Carnaval está fechado).
E ninguém me decepcionou. Os polvorones estavam perfeitos, o MAPI (ingresso a 150 pesos, ou R$ 20) tem acervo pequeno, mas interessante, e o Museu Gurvich (220 pesos, R$ 29) é demais de bacana — ainda mais que estava em cartaz uma ótima mostra temporária de outra discípula de Torres Garcia, Bertha Luisi.
Entre um museu e outro, fui bater o ponto e almoçar no Mercado del Puerto (Mercado do Porto), esse “templo da parrilla” em Montevidéu. Acho que os restaurantes do mercado estão cobrando pela fama — afinal, são a meca de dez entre dez turistas que passam por Montevidéu. Mas meu almoço no Palenque foi bem legal.
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Os restaurantes do Mercado do Porto já não são a pechincha de outras épocas, mas almocei muito bem lá |
À noite, fui finalmente conferir o badaladíssimo Baar Fun Fun, outra meca turística que promete apresentações de Candombe e Tango. O lugar até que é agradável, mas o show, meio “mãozinha pra cima, tchá, tchá”, é um saco — e sem Candombe nem Tango.
Pra mim, um grande motivo para ir a Montevidéu são as
livrarias da cidade — fiz um post todinho sobre elas. Assim como as livrarias de Buenos Aires, as da capital uruguaia têm um apelo
irresistível pra quem gosta do garimpo e de descobrir novos autores.
Saí na sexta-feira, penúltimo dia de passeios em Montevidéu,
com essa excelente missão: revirar as livrarias do Centro e da Cidade Velha.
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O Subte realmente parece uma estação de metrô, mas é um centro cultural bem interessante |
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Eu adorei explorar os destaques do acervo fotográfico de Montevidéu |
E foi um passeio delicioso, interrompido, aqui e ali, pela
contemplação da arquitetura dos século 19 e 20, por recantos sossegados como as
praças de Cagancha, Constituição e Zabala, as duas últimas na Cidade Velha.
Uma escala que eu recomendo é no Centro Cultural El Entrevero,
ou Subte, na agradável Praça Juan Pedro Fabini, que realmente parece uma
estação de metrô (Subte), que tem entrada gratuita.
Vi duas exposições que estavam em cartaz lá. Uma delas
cortou meu coração: Infância na Ditadura lembra o impacto da repressão política
durante os 12 anos (1973-1985) da ditadura no Uruguai. Os relatos e,
principalmente, os brinquedos e livros de história feitos na cadeia pelos
presos e presas políticas para seus filhos são uma memória dilacerante.
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Restaurante Jacinto: descolado e muito gostoso |
A outra exposição muito bacana em cartaz em El Entrevero é Rara Avis, dedicada ao artista plástico uruguaio Ulises Beisso.
Saindo do Subte, 300 metros de caminhada deixam a gente na
porta do Centro de Fotografia de Montevidéu, mantido pela Prefeitura, que
recentemente abriu ao público os arquivos fotográficos da cidade. A exposição
Archivo Liberado, com entrada gratuita, apresenta destaques desse rico acervo e
também resgata as diversas técnicas e equipamentos fotográficos usados desde a
segunda metade do Século 19. Eu amei!
Outro programaço dessa sexta-feira foi o almoço no
Restaurante Jacinto, casa moderninha e muito competente, na Cidade Velha. O jantar também foi ótimo em La Criolla, casa de parrillas de Punta Carretas.
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O perigo do Parque Rodó é não querer ir mais embora |
9º dia, sábado – Parque Rodó e tango no Mercado de la Abundancia
Pra me despedir de Montevidéu, quis aproveitar ao máximo o sossego, o silêncio e a placidez que a cidade — uma metrópole em tudo, menos no caos — oferece. Em se tratando de um sábado, nada melhor do que fazer como muitos montevideanos e rumar para o Parque Rodó, a mais querida das áreas verdes da capital uruguaia.O Parque Rodó realmente fica adorável nos fins de semana, com gente passeando, se exercitando, brincando com seus cachorros — tem áreas especialmente dedicadas aos totós — cruzando o lago em pedalinhos ou, simplesmente, como foi o meu caso, mergulhando naquele sossego irresistível.
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Essa lua cheia me deixou com a sensação que Montevidéu estava me pedindo pra ficar |
Cheguei bem tarde para o almoço e para as apresentações musicais de tango no Mercado de la Abundancia, mas ainda deu pra curtir bastante.
O final do dia foi nas Ramblas, onde uma lua cheia deslumbrante parecia estar pedindo que eu ficasse mais um pouquinho em Montevidéu.
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Hasta pronto, Montevideo, sua linda (e só só eu que acho esse aeroporto bonito demais?) |
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Que delícia de viagem! Vou copiar todas as dicas kkkk tô louca pra andar horrores por alguma cidade interessante e no caso de Montevideo, principalmente pelas livrarias!
ResponderExcluirFoi mesmo uma viagem deliciosa, Fê. Acho que não poderia ter escolhido um destino melhor do que Montevidéu pra voltar ao prazer de viajar
ExcluirQue maravilha ! Já na lista de destinos desejados ! Parabéns e obrigada! 🥰
ResponderExcluirVocê não vai se arrepender. Montevidéu é uma cidade adorável
ExcluirQue lindeza ler seu relato, Cyntia! Montevideo é encantadora e seu olhar também! <3
ResponderExcluirObrigada, Mile. Seu Guia de Montevidéu foi fundamental para que essa viagem fosse tão gostosa. Bjo
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