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Show de Robert Plant em Brasília: maravilhoso |
Em 1973, eu era uma garota míope e magricela, de 12 anos de idade, que colocava a calça US Top de molho na água sanitária, tentando reproduzir aquele desbotado que os jeans só ganham de verdade com muitos e muitos quilômetros de estrada.
Minha literatura preferida era a Revista Pop, publicação que dava aos adolescentes da época um vislumbre de um mundo distante, onde não havia repressão, censura ou aula de Educação Moral e Cívica.
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A capa do Houses of the Holy, do Led Zeppelin |
Em 1973, a ditadura militar parecia ter vencido. Para os fedelhos de então, ouvir Rock’n’Roll no máximo volume permitido por nossas radiolas Phillips era o máximo de transgressão possível.
O Brasil ia mal, fora do meu “quarto de som”, território livre construído em cima da garagem da casa dos meus pais, onde a molecada do bairro se reunia para descobrir as novidades sonoras.
Lá dentro, porém, íamos treinando para virar rebeldes, questionadores, irreverentes.
Pois foi em 1973 que meu coração parou por alguns segundos, ao som de um agudo de Robert Plant.
O disco era Houses of the Holy — nem é o melhor disco do Led Zeppelin, mas eu ainda não sabia disso — presentaço que meus pais trouxeram do Rio de Janeiro pra mim, (junto com o The Dark Side of the Moon, do Pink Floyd. Como é que eu ia crescer sem ter com quem me revoltar?).
Quando eu coloquei a agulha da vitrola sobre o vinil, restavam apenas um minuto e 27 segundos — o tempo entre a a primeira pancada de Jimmy Page nas cordas da guitarra, no solo de introdução da primeira faixa (The song remains the same, ou "a canção permanece a mesma"), e a entrada de Plant nos vocais — para me despedir da menininha e virar roqueira de uma vez.
Vocês não fazem a menor ideia de como eu sonho em experimentar aquela sensação de novo...
Estou falando tudo isso porque ontem (25/10) eu fui ver o velho Robert Plant, que se apresentou aqui em Brasília.
Fui sem grandes expectativas , depois de ler as críticas gélidas publicadas na imprensa, após os primeiros shows da turnê no Brasil. E não é que o filho da mãe me fez cair do cavalo outra vez, como em 73?
O que eu assisti no Ginásio Nilson Nelson foi um grande show de Rock'n'Roll. É verdade que Plant não atinge mais aqueles agudos que dilaceravam minha alma — e aquele corpinho de deus viking foi levado pelo tempo —, mas who cares?
O fundamental está todo lá: uma voz privilegiada, a emoção roqueira em cada nota e a paixão pela busca de outras sonoridades, que tanto enriqueceu o som do Zeppelin.
Melhor: o horizonte de Plant hoje vai muito além do experimentalismo de inspiração "druídico/galesa" para ir buscar na África e no Oriente os timbres que temperam lindamente a base simples, pura e inimitável do blues.
Como ele e Page já tinham feito no primoroso Unledded, show que assisti, arrepiada, no Hollywood Rock de 1997, no Rio (o disco com o repertório dessa turnê, No Quarter, toca pelo menos uma vez por semana, aqui em casa).
Confira 20 segundinhos do show de Robert Plant em vídeo (tá meio tremido, porque eu estava dançando...)
Fora que emendar Whole Lotta Love com Who Do You Love (de Bo Diddley) é revelar o óbvio que ninguém enxergava, tipo covardia, mesmo.
Com oito canções do Zeppelin (a maioria com arranjos bem diferentes dos originais), Robert Plant também fez a festa de quem foi apenas em busca de um reencontro com um sobrevivente da banda. Showzaço, daquele para soltar todos os bichos.
Hoje eu não preciso mais colocar o jeans de molho na água sanitária. São décadas de estrada, muito bem vividas. Graças a momentos como os de ontem, porém, eu posso dizer sem susto: meu coração permanece o mesmo.
Gosta de música e viagens? Siga o link para mais dicas 😉.
Veja o que Robert Plant cantou em Brasília
O Brasil ia mal, fora do meu “quarto de som”, território livre construído em cima da garagem da casa dos meus pais, onde a molecada do bairro se reunia para descobrir as novidades sonoras.
Lá dentro, porém, íamos treinando para virar rebeldes, questionadores, irreverentes.
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Plant já não alcança certos agudos. Mas ainda canta muuuuuito |
Quando eu coloquei a agulha da vitrola sobre o vinil, restavam apenas um minuto e 27 segundos — o tempo entre a a primeira pancada de Jimmy Page nas cordas da guitarra, no solo de introdução da primeira faixa (The song remains the same, ou "a canção permanece a mesma"), e a entrada de Plant nos vocais — para me despedir da menininha e virar roqueira de uma vez.
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Plant continua explorando diversas sonoridades |
Estou falando tudo isso porque ontem (25/10) eu fui ver o velho Robert Plant, que se apresentou aqui em Brasília.
Fui sem grandes expectativas , depois de ler as críticas gélidas publicadas na imprensa, após os primeiros shows da turnê no Brasil. E não é que o filho da mãe me fez cair do cavalo outra vez, como em 73?
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Meu ingresso para o show de Robert Plant agora é guardado como uma relíquia |
O que eu assisti no Ginásio Nilson Nelson foi um grande show de Rock'n'Roll. É verdade que Plant não atinge mais aqueles agudos que dilaceravam minha alma — e aquele corpinho de deus viking foi levado pelo tempo —, mas who cares?
O fundamental está todo lá: uma voz privilegiada, a emoção roqueira em cada nota e a paixão pela busca de outras sonoridades, que tanto enriqueceu o som do Zeppelin.
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Meu sobrinho Bruno, eu e minha irmã Simone: será que a gente estava feliz? |
Como ele e Page já tinham feito no primoroso Unledded, show que assisti, arrepiada, no Hollywood Rock de 1997, no Rio (o disco com o repertório dessa turnê, No Quarter, toca pelo menos uma vez por semana, aqui em casa).
Confira 20 segundinhos do show de Robert Plant em vídeo (tá meio tremido, porque eu estava dançando...)
Fora que emendar Whole Lotta Love com Who Do You Love (de Bo Diddley) é revelar o óbvio que ninguém enxergava, tipo covardia, mesmo.
Com oito canções do Zeppelin (a maioria com arranjos bem diferentes dos originais), Robert Plant também fez a festa de quem foi apenas em busca de um reencontro com um sobrevivente da banda. Showzaço, daquele para soltar todos os bichos.
Hoje eu não preciso mais colocar o jeans de molho na água sanitária. São décadas de estrada, muito bem vividas. Graças a momentos como os de ontem, porém, eu posso dizer sem susto: meu coração permanece o mesmo.
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Veja o que Robert Plant cantou em Brasília
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Eu também assisti a esses shows, mas em São Paulo: 1994 (Plant) e 1996 (Plant & Page) no Hollywood Rock, 2012 (Plant) no Espaço das Américas. Um post como esse me emociona, parabéns!
ResponderExcluirObrigada, Henri :)
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