Viajar sozinha pelo Caminho de Santiago

Catedral de Santiago de Compostela, na Praza do Obradoiro, ponto final do desafio

Fazer o Caminho de Santiago é uma experiência inesquecível para qualquer viajante. Basta um pouquinho de preparo físico, disposição para abrir mão do conforto e alguma dose de curiosidade antropológica para o caminhante viver uma aventura única, atravessando bosques, aldeias, vinhedos e vales que jamais estarão acessíveis a quem usa outros meios de transporte que não os próprios pés (ou a bicicleta).

A boa notícia é que essa é uma aventura que pode, sim, ser encarada por mulheres que viajam sozinhas.

A Praza do Obradoiro, diante da Catedral de Santiago de Compostela, é o ponto de chegada do Caminho de Santiago. Depois de dias de caminhada, atravessar aquela amplidão é uma sensação indescritível

Veja minhas dicas do Caminho de Santiago para quem viaja sozinha e você vai ver que é bem mais fácil do que imagina. Veja as dicas:

Viajar sozinha: Caminho de Santiago 

Em julho de 2005, fiz o Caminho Português de Santiago com uma amiga, saindo de Valença do Minho, em Portugal. Cada uma caminhava no seu ritmo, o que significa andar, a maior parte do tempo, sozinhas.

E viajar sozinha pelo Caminho de Santiago é muito tranquilo. A rota é muito bem sinalizada e jamais me senti ameaçada ou mesmo apreensiva.

A única situação complicada que enfrentei foi quando um carro passou raspando por mim, num trecho do Caminho que margeava a Rodovia N-550. Mesmo esse tipo de risco já é bem menor, hoje em dia. O Caminho Português de Santiago tem sofrido pequenos desvios para que os peregrinos fiquem longe das autoestradas.

A Praza do Obradoiro vista do adro da Catedral de Santiago de Compostela

Uma alternativa, se você não quiser andar só no Caminho de Santiago, é unir-se aos outros caminhantes, que saem sempre de manhã cedinho dos albergues.

Se você sonha com essa experiência, meu conselho: vá sem medo. Veja essas dicas do Caminho de Santiago para quem viaja sozinha e comece a planejar:

A emoção de completar o Caminho de Santiago

Depois de cinco dias de caminhada — 120 quilômetros, subindo e descendo as íngremes encostas das Rias da Galícia — eu avistei as torres da Catedral de Santiago de Compostela pela primeira vez.

Eu vinha atravessando um bosque e, de repente, do outro lado do vale, as agulhas barrocas com a cor das pedras da Galícia surgiram no horizonte, avisando que minha jornada, iniciada em Valença do Minho, ainda em terras portuguesas, estava perto do fim.

Depois do esforço, a pose para a foto

Nem mesmo quem faz o Caminho de Santiago sem qualquer propósito religioso, como eu, consegue escapar ao efeito mágico daquela visão.

Mais de sete anos depois, voltei a Santiago de Compostela para celebrar a chegada de 2013. Cheguei de carro, sem os perrengues e emoções dos caminhantes, mas com o mesmo prazer de contemplar a paisagem mágica das Rias da Galícia envoltas na névoa ao longo da estrada, de reconhecer ao longe as muralhas e campanários das cidades do Caminho de Santiago.

Voltar a Santiago só fez crescer meu imenso carinho pela cidade, um destino instigante, não importa como você chegue lá.

Arcadas do Pazo do Raxoi, sede da Presidência da Comunidade Autônoma da Galícia

Um pouquinho da História do Caminho de Santiago

Santiago de Compostela é uma cidade linda, vibrante, alegre, sem qualquer ranço da carolice que poderia impregnar aquelas ruas lotadas de peregrinos há 12 séculos.

Santiago de Compostela é o ponto final de um roteiro que começou a se tornar popular no Século 9, logo após a descoberta no anos 814, do que seria o túmulo do apóstolo Tiago Maior, martirizado no ano 44 de nossa era.

Essa é a origem do Caminho de Santiago: a peregrinação ao túmulo do santo martirizado na Judeia, cujo corpo teria sido trazido para a Galícia por seus discípulos.

Pouco a pouco, o Caminho de Santiago tornou-se um hit absoluto no mundo cristão.

Vou ter que fazer uma terceira visita a Santiago de Compostela pra garantir fotos decentes. A cidade é muito bonita, mas na minha segunda passagem por lá choveu literalmente o tempo inteiro

A jornada foi percorrida por heróis e santos (Rodrigo Díaz de Vivar, ou El Cid, e São Francisco de Assis), por soberanos poderosos (os reis católicos Fernando de Aragão e Isabel de Castela, Eduardo I da Inglaterra, Carlos I e Felipe II da Espanha) e por grandes artistas (o pintor flamengo Jan Van Eyck).

Curiosamente, o primeiro papa a fazer o Caminho de Santiago como peregrino é nosso contemporâneo, João Paulo II, que fez a caminhada em 1982.

Em 2012, 183 mil pessoas fizeram uma das rotas que levam a Santiago de Compostela, a mais popular delas o Caminho Francês.

O desafio pra fotografar o interior da Catedral de Santiago de Compostela é que as luzes são apagadas logo que as missas acabam

Sete anos depois da minha primeira visita a Santiago de , abrigada do temporal incessante sob as arcadas do Pazo do Raxoi, eu ainda conseguia reconhecer muito bem a euforia dos peregrinos que entravam na Praza do Obradoiro e se viam, finalmente, diante da majestosa catedral. 

Alguns ajoelham, outros abraçam os companheiros de jornada. Há os que rezam em silêncio e os que celebram como se fosse um gol em final de Copa do mundo.

Com fé ou sem fé, chegar a essa praça é vencer um desafio feito de bolhas nos pés, músculos doloridos, hospedagens espartanas e roupas eternamente molhadas. Porque uma coisa precisa ser dita: como chove na Galícia!!

Se você anda sonhando em fazer o Caminho de Santiago, meu conselho: vá, sim, mesmo sem companhia. Para estimular e sua viagem, confira os posts com o meu diário de viagem, que estão lincados abaixo. E nos próximos posts tem as dicas que eu  trouxe da última visita. 

O meu Caminho de Santiago

A Espanha na Fragata Surprise

A Europa na Fragata Surprise

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