Viagem a Ítaca - o poema

Ítaca 
Ιθάκη (Ithaka)
Konstantínos Kaváfis

Escrito em 1911, publicado postumamente em 1933

Tradução de José Paulo Paes

Quando partires de volta para Ítaca,
faz votos de que o caminho seja longo,
repleto de aventuras, repleto de saber.

Nem os Lestrigões nem os Ciclopes,
nem o colérico Posêidon te intimidem:
tais seres jamais encontrarás em teu caminho
se o teu pensar for elevado,
se uma rara emoção tocar teu espírito e teu corpo.

Nem os Lestrigões nem os Ciclopes,
nem o bravio Posêidon encontrarás,
se dentro de tua alma não os levares,
se a tua alma não os erguer diante de ti.

Faz votos de que o caminho seja longo,
que numerosas sejam as manhãs de verão
em que, com prazer, com júbilo,
entres em portos nunca dantes vistos;

que aportes em mercados fenícios
para comprar belas mercadorias,
madrepérolas e corais, âmbar e ébano,
e perfumes sensuais de toda espécie,
tantos perfumes sensuais quanto puderes;

que visites muitas cidades do Egito,
e aprendas, aprendendo sempre, com seus sábios.

Guarda sempre Ítaca em teu pensamento.
Chegar lá é tua meta.
Mas não apresses de modo algum a viagem.

É melhor que ela dure muitos anos,
e que, já velho, ancores na ilha,
rico do que ganhaste no caminho,
sem esperar que Ítaca te dê riquezas.

Ítaca deu-te a bela viagem.
Sem ela, não terias partido.
Mas nada mais tem a oferecer-te.

E se a encontrares pobre, Ítaca não te enganou.
Tendo-te tornado sábio, com tanta experiência,
já deves ter compreendido o que as Ítacas significam.

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