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Camarão seco, tempero indispensável na cozinha baiana |
Vocês já sabem que sou fã de mercados e estava devendo essa dica: quando for a Salvador, coloque o Mercado do Rio Vermelho, ou Ceasinha, para os íntimos, no seu roteiro.
Além de ser uma ótima feira, a Ceasinha é um bom lugar para provar pratos muito baianos. Dobradinha, mocotó e mariscos de todo o tipo estrelam o cardápio dos restaurantes instalados no mercado — alguns mais "gentrificados", outros com pegada mais popular.
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A Ceasinha tem várias barracas especializadas em ingredientes para o caruru, festa/banquete que é uma das mais autênticas expressões da religiosidade baiana, com elementos cristãos e de matriz africana |
Também tem a opção de provar algumas comidinhas “importadas”, mas muito bem “aclimatadas” em Salvador, como o já clássico sanduíche de salsichão do Box do Alemão, na Praça de Alimentação da Ceasinha.
De bônus, você vai ter uma pequena aula – teórica e gustativa — sobre as tradições culinárias da Bahia, um mergulho muito além da moqueca. Experimente explorar os boxes da Ceasinha para ver doces, biscoitos, frutas, frutos do mar, requeijão e temperos mil da Bahia...
A Ceasinha é uma tentação.
Ceasinha de Salvador
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Fala se não dá vontade de encher a sacola e correr pra a cozinha? |
Não estranhe o nome. Ceasinha é o jeito informal do baiano chamar a filial da Central de Abastecimento da Bahia (Ceasa) que começou a funcionar na margem do Rio Lucaia, no bairro do Rio Vermelho, nos anos 80.
A feirinha fez sucesso e cresceu, especialmente pela variedade e qualidade dos produtos regionais e pelos restaurantes populares que serviam boa comida a preços módicos.
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O capítulo dos frutos do mar bate um bolão |
A Ceasinha também ganhou uma praça de alimentação que costuma lotar nos fins de semana.
Limpa, organizada e fácil de chegar (de carro ou táxi, porque em Salvador ônibus é para os fortes), a Ceasinha está fora do circuito turístico, mas a apenas 2,5 km do famoso Largo da Dinha, no Rio Vermelho.
Limpa, organizada e fácil de chegar (de carro ou táxi, porque em Salvador ônibus é para os fortes), a Ceasinha está fora do circuito turístico, mas a apenas 2,5 km do famoso Largo da Dinha, no Rio Vermelho.
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O cuscuz de milho da Lanchonete Shalom é uma grande ideia. Eu gosto do meu só com queijo (no alto, à esquerda). Minha irmã Giselle adora combiná-lo com ovos estrelados |
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Uma grande pedida é levar pra casa o bao (pãozinho chinês) do Empório Nipo Brasileiro. Depois, é só descongelar no vapor |
Doces na Ceasinha
Eu gosto de começar minhas incursões na Ceasinha nas bancas de doces e beliscos. Adoro as compotas (doces em calda) de frutas, uma variedade que deixa a gente tonta: de casca de laranja, goiaba, mamão verde, jaca...
Tem geleias de tudo, doce de leite de colher ou "tijolinho", goiabada cascão, cocadas branca, preta, puxa, queijadas, doce de amendoim...
Também tem bolachinha de goma, sequilho de nata, bolacha paciência, bolinhas de jenipapo...
As barracas de doces da Ceasinha reúnem todo um universo de delícias baianas que os forasteiros nem imaginam que existam.
O capítulo frutos do mar é um delírio. Camarões fresquinhos, recém chegados de Valença (pertinho do famoso Morro de São Paulo), lagostas, polvos, lulas, caranguejos, siris.
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Os temperos nesta panela fumegante, na casa da minha irmã, quando ficaram prontinhos pra receber os siris comprados na Ceasinha |
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As três etapas dos siris: à esquerda, lavados e prontos para a panela. À direita, prontinhos e apetitosos. Abaixo: na travessa, prestes a serem devorados |
Se você está imaginando qual seria a graça dessa parte para um turista que está a quilômetros da cozinha de casa, saiba que algumas peixarias preparam as ostras e servem nas mesas da praça de alimentação e até topam aferventar alguns mariscos de preparo mais simples para servir ao "freguês".
Uma coisa que eu gosto na Ceasinha é que os comerciantes e clientes ainda se tratam por "freguês" e "freguesa", oferecem "quebras" (quantidade a mais do produto comprado, de brinde) e "provas" —deixam o comprador experimentar o produto antes de comprar.
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A baianíssima pimenta malagueta (esq), a cheirosa e suave biquinho (centro) e a dedo de moça |
A alma da Bahia na Ceasinha
Um passeio na Ceasinha também permite desvendar aspectos da religiosidade baiana, coisas tão incorporadas ao nosso dia a dia que nem nos lembramos de contar aos turistas, de tão comuns que nos parecem.
Você vai ver a banca de incenso, usado para defumar as casas em ocasiões especiais, as folhas usadas para preparar os banhos rituais que afastam os maus fluidos e ajudam a atrair amor, prosperidade e boa sorte.
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Festival de pimentas. Além de temperar, são tiro e queda contra o o mau olhado |
E vai descobrir que pimenta, além de ser um tempero indissociável da nossa cozinha, é tiro e queda para combater o mau olhado.
Pela quantidade de boxes especializados em ingredientes para caruru você vai perceber a importância dessa festa para os baianos.
Oferecido aos santos gêmeos Cosme e Damião, a quem os nossos antepassados africanos reconheceram como representações dos ibejis (divindades gêmeas protetoras das crianças), o caruru é um banquete com uma infinidade de pratos e acompanhamentos, celebrado no mês de setembro.
O caruru de Santa Bárbara (Yansã, no Candomblé) é oferecido no mês de dezembro.
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Temperos para o caruru: camarão seco, gengibre, castanha de caju, azeite de dendê... |
Oferecido aos santos gêmeos Cosme e Damião, a quem os nossos antepassados africanos reconheceram como representações dos ibejis (divindades gêmeas protetoras das crianças), o caruru é um banquete com uma infinidade de pratos e acompanhamentos, celebrado no mês de setembro.
O caruru de Santa Bárbara (Yansã, no Candomblé) é oferecido no mês de dezembro.
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O quiabo, a grande estrela do caruru (esquerda), e as tangerinas mais cheirosas da cidade |
As vendas dos ingredientes para os pratos baianos vão de vento em popa o ano inteiro na Ceasinha. Em Salvador, ainda é muito comum as famílias prepararem "comida de dendê" (caruru, vatapá, feijão fradinho, xinxim de galinha) para os almoços das sextas-feiras, dia sagrado para o Candomblé.
E pra você ver como Salvador é sincrética, a santificação da sexta-feira e o hábito de vestir branco nesses dias são heranças muçulmanas, legados do povo malê, um dos maiores contingentes de africanos escravizados na Bahia.
E pra você ver como Salvador é sincrética, a santificação da sexta-feira e o hábito de vestir branco nesses dias são heranças muçulmanas, legados do povo malê, um dos maiores contingentes de africanos escravizados na Bahia.
Na última vez que estive lá, com minhas irmãs, o passeio "só para beliscar" acabou virando um almoço antológico, com siris suculentos de entrada e escaldado de caranguejo como pièce de résistance. Dá só uma olhada na foto abaixo para entender o espírito da coisa 😀.
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Mais resultados da feira: os caranguejos ainda crus (esq) e já prontinhos para a mesa, hummmm |
Mercado da Ceasinha
Avenida Juracy Magalhães Júnior nº 1624, Rio Vermelho. Fones: (71) 3272 6777 e (71) 3018 5733
Horários: de segunda a sábado, os boxes atendem das 7h às 20h. No domingo, das 7h às 14h.
A praça de alimentação funciona das 7h às 21h de segunda a sábado e no domingo, das 7h às 16h.
O estacionamento custa R$ 1,50.
Horários: de segunda a sábado, os boxes atendem das 7h às 20h. No domingo, das 7h às 14h.
A praça de alimentação funciona das 7h às 21h de segunda a sábado e no domingo, das 7h às 16h.
O estacionamento custa R$ 1,50.
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Praça de alimentação da Ceasinha e o famoso sanduíche de salsichão do Boxe do Alemão - peça o seu com chucrute, você não vai se arrepender |
Feiras e Mercados - Índice
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Oi Cyntia!
ResponderExcluirVim aqui sentir "virtualmente" o cheiro do camarão seco e terminei com os olhos cheios de lágrimas. Que saudade disso tudo!
Beijos,
Patricia
Foi a pimenta, Patrícia :) Mas, sério, a gente até finge que se acostuma a viver longe da alma da Bahia, mas a saudade é permanente. Bjo, querida
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