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O Jardim Botânico é um passeio perfeito para quem quer fugir
do calor. Na imagem, o Chafariz das Musas |
Pra começar, já aviso que esta lista sobre o melhor do Rio de Janeiro é pessoal, intransferível e profundamente inspirada pela saudade — e não uma saudade turística, mas a saudade de um cotidiano que não se repete fora do Rio.
No início de agosto, me despedi da condição de moradora do Rio de Janeiro. Estou de volta a Brasília, trocando o mar e as montanhas pelo Cerrado e o Planalto. Minha saudade não é dos grandes cartões postais do Rio de Janeiro, porque eles continuam lá, a uma hora e meia de voo da minha nova casa.
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A Enseada de Botafogo deixa de ser minha vizinha de
porta pra voltar a ser cartão postal |
Minha saudade é doméstica. O melhor do Rio de Janeiro, pra mim, não era ir ao Corcovado ver a cidade lá do alto. Era entrever o Cristo entre as nuvens, saindo do Metrô Flamengo depois do trabalho. Era voltar do trabalho escoltada pelas fragatas que tomam o céu do Rio, todo final de tarde. Eram das palmeiras imperiais da Rua Paissandu, onde eu morava (os ipês de Brasília já me conquistaram, também) .
O melhor do Rio de Janeiro são as livrarias sensacionais onde é sempre fácil chegar (vai demorar pra me acostumar com a mania brasiliense de colocar as melhores livrarias em shoppings que ficam lá onde Judas perdeu as botas... 😉)
O melhor do Rio de Janeiro são as livrarias sensacionais onde é sempre fácil chegar (vai demorar pra me acostumar com a mania brasiliense de colocar as melhores livrarias em shoppings que ficam lá onde Judas perdeu as botas... 😉)
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Esta visão do Pão de Açúcar ficava a uma estação de metrô da
minha casa. Agora está a uma hora e meia de voo |
Mas não tudo é sensação de perda. A parte boa de não ser mais uma local, é que meus passeios no Rio de Janeiro, a partir de agora, vão ganhar outro sabor.
Sempre que deixo as minhas cidades, elas readquirem essa condição de “lugar de férias”, de playground e novidade. A intimidade não acaba, mas os sabores se reacendem na memória e temperam os reencontros.
Se quiser ver um Rio além dos grandes cartões postais, dê uma olhada em alguns dos meus passeios preferidos na cidade:
O melhor do Rio de Janeiro (pra mim)
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Ministério da Fazenda, no Centro do Rio. Andei muito por lá
fazendo entrevistas e jamais cansei de admirar a escadaria central do edifício |
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A águia na cúpula do Theatro Municipal era a primeira a me mandar um tchauzinho quando eu sai da estação do metro a caminho do trabalho |
O Corcovado continua lá, mas deixou de ser a paisagem corriqueira de quem sobe a Paissandu, voltando para casa. A cúpula do Theatro Municipal e o vão livre do Palácio Capanema não são mais os companheiros da caminhada do metrô para o trabalho.
O Pão de Açúcar deixou de ser um lugar para descansar os olhos, nos meus passeios por Botafogo.
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Eu tenho dois Corcovados: o monumento e mirante que
todo visitante ama admirar e a paisagem que eu via voltando do supermercado, na
Praça São Salvador, arrastando meu carrinho de feira (abaixo) |
O Jardim Botânico volta a ser um programa, e não mais a escapadinha aconchegante para admirar o velho Chafariz das Musas, nos dias infernais de dezembro e janeiro.
O desfile da Banda de Ipanema é de novo uma efeméride, não mais o painel que adorna a estação de metrô, desembarque a caminho do sorvete de pitanga da Mil Frutas e das prateleiras da Livraria da Travessa.
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Já estava tão íntima do Jardim Botânico que o considerava o "meu jardim" |
O Rio que me faz falta não aparece nos guias de viagem. Ninguém vai à cidade para ver o saguão do Auditório da ABI, ou a escadaria do Ministério da Fazenda — que eu namorava, entre uma pauta e outra, mas nunca tive tempo de fotografar decentemente — ou o Casarão do Instituto Alves Affonso, na Rua Ipiranga — um dos meus caminhos para o supermercado...
Talvez eu mesma esqueça a alegria que sentia, num dia comum qualquer, ao olhar para cima e ver a mania iluminada dos cariocas de construir jardins suspensos nos edifícios mais insuspeitos — mas, se eu esquecer, talvez seja para resgatar a felicidade de descobrir de novo essas paisagens.
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A parte boa é que vou perder o olhar de dona do pedaço e voltar a ver as orquídeas, bromélias e palmeiras imperiais como a maravilha que elas são |
Afinal, deixar uma cidade é sempre perda e resgate. Perdi a companhia das fragatas e das palmeiras, mas também perdi aquele olhar dono do pedaço.
O que era cotidiano agora é cartão postal. O Rio que me faz falta agora é pessoal e intransferível. É memória, é afeto. É aquela saudade boa, fadada a muitos reencontros combinando surpresa e intimidade.
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