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Maré cheia em Paraty |
Música deste post: Feeling Groovy, Simon & Garfunkel
Não me encanto tanto pelas “grandes obras”: gosto é de descobrir os pequenos detalhes, o que é único em cada lugar. O Centro Histórico de Paraty está cheio de detalhes que são um deleite. O resultado lírico (possivelmente acidental) de um rigor burocrático inventado nos tempos da Colônia.
As construções dos 33 quarteirões que compõem o núcleo histórico de Paraty não foram desenhadas ao acaso. Elas seguiram regras muito rígidas, ditadas na época da fundação da cidade. E descumprir o Código de Posturas, no Século 18, dava multa e até cadeia.
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Os símbolos maçônicos são uma das marcas das fachadas de
Paraty |
Essa cidade colonial rigorosamente planejada poderia ter resultado monótona. Mas pra quê existem cores e janelas? São elas — especialmente as janelas, iguais em desenho e tão únicas em personalidade — que se encarregam de expressar a individualidade de cada casinha de Paraty.
Diz o provérbio manjado que os “olhos são as janelas da alma”. Para mim, as janelas são os olhos das construções. Além de expressarem a idade, procedência e identidade de um edifício, em Paraty elas contam muito sobre a vida interior daquelas casinhas.
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A rigidez do código de construções do Século 18 vira lirismo
nas janelas de Paraty |
O arco-íris das janelas de Paraty é um livro de história, sociologia e de memórias pessoais e intransferíveis de cada morador. Bora passear por esse encanto?
Arquitetura colonial em Paraty
Mais de dois séculos antes de Brasília, Paraty é resultado de um planejamento urbano colonial que expressa bem as necessidades da época e do lugar.
Nada de casas de madeira, nem de telhados de palha, para evitar incêndios. E todas pintadinhas de branco, por favor.
As ruas obrigatoriamente tinham que ter traçado levemente curvo, para impedir o "vento encanado" (acreditava-se que o vento provocava doenças).
E se a maré cheia invade o terreno, vamos tratar de conviver com ela: em vez de barragens, ruas com piso inclinado, formando uma vala no centro — que recebe a água do mar — e casas construídas acima do nível da rua.
Tudo proporcional, simétrico, harmônico e caiado. As casas de Paraty são brancas, mas não são chatas: o arco-íris de suas janelas ilumina tudo e nos lembra que são incontáveis as possibilidades de cores e quase infinitos os tons da alegria.
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No Século 18, os construtores de Paraty sabiam conviver com
as marés |
Tudo proporcional, simétrico, harmônico e caiado. As casas de Paraty são brancas, mas não são chatas: o arco-íris de suas janelas ilumina tudo e nos lembra que são incontáveis as possibilidades de cores e quase infinitos os tons da alegria.
Um pouquinho da história de Paraty
A pequena povoação que começou a vingar no Século 17 tornou-se a Vila de Nossa Senhora dos Remédios de Paraty, mas só entraria para valer no mapa a partir do início do século seguinte, como peça importante no Ciclo do Ouro.
Era pelo porto de Paraty que entravam as mercadorias necessárias a movimentar a vida e a economia mineradora nas Minas Gerais. Uma antiga trilha indígena foi pavimentada para assegurar o transporte. E assim nasceu o Caminho do Ouro, hoje uma rota turística das mais interessantes do País.
Foi o crescimento e a prosperidade da vila que levou seus governantes a baixar o Código de Obras que desenhou a cara do Centro Histórico de Paraty que vemos hoje.
Nem tudo é idílico em Paraty. Depois do Ciclo do Ouro, o porto da cidade teve um papel de destaque no tráfico de africanos trazidos para a escravidão nas fazendas de café do Vale do Paraíba.
Hoje, enquanto o Centro Histórico de Paraty parece um pequeno paraíso, a maioria dos 50 mil habitantes da cidade vive uma realidade bem comum neste país tão desigual — e bem distante das casinhas encantadas do Século 18.
Hoje, enquanto o Centro Histórico de Paraty parece um pequeno paraíso, a maioria dos 50 mil habitantes da cidade vive uma realidade bem comum neste país tão desigual — e bem distante das casinhas encantadas do Século 18.

As populações caiçara, indígena e quilombola da região são as que mais sofrem com a pressão do turismo e da especulação imobiliária.
Não perca isso de vista quando for passear em Paraty. Siga aqueles mandamentinhos básicos do turismo responsável: cuide da natureza, mas também das pessoas. Procure contratar os serviços e consumir produtos locais, especialmente dos pequenos. São muitos os guias de turismo, barqueiros (que alugam traineiras para lindos passeios) e outros profissionais.
Procure também conhecer as manifestações culturais e o artesanato da região. Eu me acabei no belíssimo artesanato caiçara que encontrei em Paraty.
Veja as dicas práticas de Paraty no próximo post
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