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Comer no Peloponeso é um jeito muito |
Uma culinária tradicional sempre será a tradução comestível da alma de um povo e do ambiente que o cerca, né? Pois a comida grega expressa perfeitamente o que me vem à cabeça quando penso na Grécia: a aparente simplicidade (como as linhas retas da arquitetura clássica) que embute imensa sofisticação — que os olhos até podem não ver, mas o paladar se encanta.
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Areópolis, na Península de Mani, tem tavernas especialmente fofas por toda parte |
Isso vale para a Grécia inteira (ou a Grécia que já visitei), mas comer no Peloponeso oferece um tête-à-tête mais intenso. Como a rusticidade daquelas montanhas, que esconde delicadíssimos tesouros urdidos desde o neolítico pelos povos que inventaram a Grécia. E a Península do Peloponeso é exatamente o berço da cultura que faz do país uma espécie de pátria afetiva de tanta gente.
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Nafplio tem bares e cafés cheios de charme |
Neste post, trago dicas de restaurantes que testei e aprovei na minha segunda viagem ao Peloponeso (em maio de 2024) e de algumas comidinhas deliciosas que complementaram muito bem meus passeios por essa apaixonante região da Grécia.
Viajei com minha amiga Rose Spina, que também atuou como “provadora” para a Fragata Surprise, além de contribuir com seu alentado conhecimento sobre vinhos — você sabia que o Peloponeso está cada vez mais famoso como região vinícola?
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Os vinhos de uvas Agiorgitiko são os mais produzidos no Peloponeso e sua reputação vem ganhando corpo e fazendo sucesso pelo mundo. Eu provei e gostei |
Leia também:
Onde comer em Atenas
O que comer na Grécia e na Turquia: os pratos que você não pode perder
Cafés e restaurantes dos museus de Atenas
Comer no Peloponeso
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Minha memória gastronômica de Nafplio era assim |
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As taverninhas adoráveis seguramente ainda estão por lá, mas estavam soterradas na muvuca do feriadão |
Não comi mal em Nafplio, muito pelo contrário — um dos jantares na cidade está entre as melhores refeições da viagem. Mas a verdade é que vou ter que voltar lá fora de temporada pra reencontrar a alegria de comer comida grega de verdade à sombra das buganvílias.
Das experiências que tive na cidade, recomendo três restaurantes/cafés. Veja a seguir:
⭐Kipos (Ο Κηπος)
Plateia Filellinon c/ Rua Michail Iatrou nº 1
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Restaurante Kipos: uma das melhores refeições da viagem |
Na Plateia Filellinon, um recuo do calçadão à beira-mar de Nafplio, este restaurante elegante tem mesas ao ar livre, serviço muito simpático e ótima comida, servida em porções generosas.
Nosso jantar no Kipos (significa “jardim”), no dia que
chegamos à Argólida, foi uma das melhores refeições de todos os 40 dias de viagem (que também passou pela Espanha e Portugal).
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A Plateia Filellinon é uma espécie de recuo do calçadão à beira-mar. Os restaurantes desse cantinho são mais sossegados |
Pedimos um prato contemporâneo que reunia várias tradições gregas: pasta skioufichta com molho de siglino (carne de porco curada e defumada, especialidade da Península de Mani) e queijo antótiros (de cabra ou ovelha, típico da Ilha de Creta). Simplesmente sensacional.
Esse prato custa € 12,50 e está bem na média de preços do menu da casa. Com vinho pra Rose e refrigerante pra mim (porque eu ia dirigir de volta à pousada em Tirinto), pagamos cerca de € 18 por cabeça.
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A skioufichta estava deliciosa |
A skioufichta é uma massa tradicional da Ilha de Creta que leva azeite de oliva e manteiga no seu preparo. É uma pasta curta, moldada em tiras estreitas que são enroladas e torcidas (skioufizo significa “torcer”). O queijo antotiros é um companheiro frequente desse tipo de macarrão.
⭐Sokaki Café
Plateia Syntagma nº 3
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Calçada com mármores milenares, Plateia Syntagma é um ótimo lugar pra relaxar depois dos passeios por em um café com sofá. Ao fundo, o Museu Arqueológico de Nafplio |
Uma coisa que adoro em Nafplio são os cafés e restaurantes com
as mesas ao ar livre e confortáveis sofás em lugar das convencionais cadeiras.
A gente senta, afunda no estofado e fica olhando a vida passar enquanto
beberica e belisca comidinhas.
Os bares com sofá da Promenàde (o calçadão à beira-mar) são
deliciosos, especialmente por conta do visual e da brisa. Mas não deixe de
experimentar os cafés e restaurantes da Plateia (praça) Syntagma, o coração do Centro
Histórico da cidade. É um hit entre os turistas, mas também dos moradores de
Nafplio.
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Nosso almoço tardio no Sokaki Café foi bem agradável |
Nesta visita de 2024, experimentei um almocinho rápido no Sokaki Café, que é um dos mais bem reputados da Plateia Syntagma. O cardápio da casa é despretensioso, com saladas, pizzas, tortillas, crepes e hambúrguer e pratos de massa (preços na casa dos € 8 / € 10) e a carta de bebidas é interessante. Meu almoço custou € 20, com bebidas.
O Sokaki Café serve café da manhã (com waffles!), almoço/jantar e brunch. Bom para um almoço tardio, como o que tivemos lá. A pasta com ragu que pedi estava bem gostosa.
⭐AlphaPizza
Sidiras Merarchias nº 7
Para uma refeição mais despretensiosa, essa casa de comida
italiana é uma boa opção em Nafplio pra comer bem gastando pouco.
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A AplphaPizza tem mesas ao ar livre sob as árvores do Parque Kolokotronis, que fica bem em frente |
Almoçamos lá voltando da visita a Micenas, num horário meio ingrato (o meio da tarde do Sábado de Aleluia grego), quando boa parte dos restaurantes de Nafplio estavam fechados).
AlphaPizza está instalado em um casarão de cara para o
Parque Kolokotronis, na “parte nova” de Nafplio, mas bem perto do Centro
Histórico.
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Meu prato estava ótimo |
O cardápio é bem casual, com pizzas, hambúrguer, tortilhas, saladas e pratos de massa, servidos em porções bem grandes. A maioria das opções custa entre € 7 e € 8. O prato que eu pedi, pappardelle com frango e creme, estava muito saboroso.
Meu almoço, com bebidas, custou € 22,50.
Mais sobre Nafplio:
O melhor de Nafplio
Fortaleza de Palamidi em Nafplio
Dicas práticas de Nafplio
Por que visitar Nafplio no Peloponeso
Restaurante em Epidauros
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Alkion: é como ir almoçar na chácara dos amigos depois de visitar o majestoso Teatro de Epidauros (no alto) |
Apesar de ficar à beira da estradinha, você vai se sentir
como se estivesse visitando uma chácara sossegada de velhos amigos. No entorno
do restaurante, parreiras e oliveiras oferecem sombra no estacionamento.
Escolha uma mesa na generosa varanda, muito fresquinha.
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Escolha uma mesa na varanda e aproveite a brisa |
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Esses pimentões estavam sensacionais |
Nem lembro o que Rose pediu pra almoçar, mas eu delirei com os pimentões recheados (chamados de gemista, que significa "com recheio") que pedi. Gemista é feito no forno e também pode ser preparado com tomates. O recheio é de arroz com carne moída e muitas especiarias. É um prato que eu simplesmente adoro.
O atendimento no Restaurante Alkion é muito simpático, embora a família fale muito
pouco inglês (é impressionante como os gregos entendem e se fazem entender por pura
simpatia).
Gastamos cerca de € 12 cada uma e saímos muito felizes de
lá.
Sobre o Sítio Arqueológico e o Teatro de Epidauros, veja este post: Epidauros, espetacular!
Restaurante em Githio
⭐Trata (Η Τράτα)
Prothypourgou Tzanni Tzannetaki s/n
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No visual, a Taverna Trata parece um letreiro de neon azul piscando Gré-cia (by the way, Εστιατόριο significa "restaurante") |
Mas Τράτα também pode significar arrastão ou pesca de arrasto, uma modalidade lesiva aos ecossistemas marinhos, embora tenha caracterizado comunidades pesqueiras tradicionais, da Pituba e Itapuã até os mares da Grécia.
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Não teve polvo, mas os peixinhos e a lula estavam muito gostosos |
Vou preferir acreditar que o nome dessa taverna à beira-mar, em Githio, homenageie a dança — ainda que sem muita convicção.
Mas como esse é um post sobre onde comer no Peloponeso, bora falar do nosso almoço na Taverna Trata durante nossa passagem pela fofíssima Githio, uma vila pesqueira da Península de Mani, a porção de terra que avança mais ao Sul em toda a Grécia Continental.
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Os polvos secando no cais são o mais conhecido cartão postal de Githio |
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Nosso almoço na Taverna Trata foi bem simpático |
Minha esperança era comer polvo, afinal, o cartão postal mais conhecido de Githio são os moluscos recém-pescados secando em varais de cara para o mar. Mas parece que a vizinha Taberna 90 Moires — lotada e com um atendimento antipático — tinha arrematado todo o lote de polvos daquele dia.
Nos consolamos com lulas na brasa (eu) e peixinhos parecidos com sardinhas (Rose). Almocinho muito simpático que custou € 23,50 para duas pessoas.
Baya all day bar
Kapetan Matapa s/n
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Baya tem um astral contemporâneo e muito animado |
A Rua Kapetan Matapa é como a 5ª Avenida da pequenina Areópolis (1.000 habitantes), uma passarela onde moradores e visitantes fazem o footing e onde singelas fachadas de pedra nua abrigam lojinhas de artesanato e pequenos bares e restaurantes com mesas ao ar livre, cobertas por toalhinhas xadrez.
O toque contemporâneo nesse cenário pitoresco é o Baya All Day Bar, em uma estratégica esquina da “5ª Avenida”, com mesas ao ar livre à sombra do campanário de uma capelinha.
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Tradição da Península de Mani: mulheres e meninas fazem música e distribuem flores para celebrar a chegada da Primavera. O desfile de Areópolis eu assisti da minha mesa de pista no Baya |
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Baya abre cedinho para o café da manhã e funciona até tarde |
E quando Baya promete ser um “bar o dia todo” ele cumpre direitinho. A casa fecha tarde (na comparação com o resto da cidade) e é uma das primeiras a abrir para servir um café da manhã caprichado.
E foi assim que fizemos lá nossa farrinha noturna em Areópolis, com vinho, conhaque Metaxa e beliscos e voltamos no dia seguinte, antes de partir para Olímpia, para tomar um ótimo café da manhã.
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Baya também atende nas mesas desse larguinho, em frente ao restaurante, onde tomamos o café da manhã |
Baya tem um brunch super elogiado e seu cardápio aposta nos hambúrgueres e outros sanduíches, croissants, saladas, comidinhas para compartilhar e pratos de massa.
A farra noturna ficou nos € 15 por cabeça. O café da manhã, na casa dos € 10 pra cada uma.
Πολύγευστον (Polýgefston) Authentic Greek Street Food
Dumas c/ 3ª Regional (Δούμας & 3ης Περιφερειακής)
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O Restaurante Polýgefston fica bem no centrinho de Olímpia, bem perto do sítio arqueológico |
O Restaurante Polýgefston tem uma varanda muito agradável e
serve comida tradicional grega num ambiente simples, bem no centrinho de
Olímpia, onde funcionam várias casas similares, voltadas para os visitantes do sítio
arqueológico do Santuário de Zeus.
Com letreiro em grego (que eu penei pra transliterar na hora), tem preços muito moderados e o cardápio é bem o que um
turista reconhece como comida grega. A moussaka é o carro chefe e foi o que
pedimos — e estava bem gostosa.
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O cardápio do restaurante não é muito imaginativo, mas a moussaka estava gostosa |
É um lugar pra comer bem, sem grandes arrebatamentos, pagando pouco pela refeição. Não lembro quanto Rose pagou, mas a minha conta foi de € 14,50.
Pheidias Grill House
Praxitelous Kondily nº 60
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Um brinde (com Metaxa) ao Restaurante Pheidias, onde comi bem demais e dscobri que falafel grego bate um bolão |
Que achado esse tal de Pheidias (ou Fídias, como queira). A
casa é praticamente um balcão e mesas na varanda, numa esquinhinha próxima ao
Sítio Arqueológico de Olímpia. E como comemos bem lá!
O atendimento do Restaurante Pheidias é simpaticíssimo. O
dono da casa não apenas atende às mesas, como dá dica de pratos, explica os ingredientes
e fala sobre a origem de cada um.
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As dolmades (no alto) estavam de rasgar a roupa. Acima, o carneirinho muito elogiado por Rose |
Essa aulinha sobre culinária grega foi abrindo meu apetite (em parceria com as generosas doses de conhaque Metaxa) e o resultado é que comi até mais do que devia.
Me acabei em uma poção de falafel com molhinhos interessante (não me pergunte como se chama em grego, mas essa herança otomana faz parte da culinária tradicional) e nas dolmades (charutinho de folhas de uva, outra herança otomana), acompanhadas de molho de iogurte e especiarias. Rose pediu carneiro e elogiou muito o prato dela.
Meu almoço custou € 30, muito bem pagos.
Vinhos do Peloponeso
Quando visitei o Peloponeso pela primeira vez, fui apresentada ao Vinho Malvasia, típico da deslumbrante Monemvasia, famoso desde a Idade Média.![]() |
Dionísio, deus do vinho |
O Malvasia (também chamado Malmsey, seu nome inglês) é um vinho licoroso, forte e adocicado, que cai muito bem com sobremesas. E ele pode ter sido o primeiro grande produto de exportação vinícola originado em território grego — dizem que os venezianos, no Século 17, não largavam o osso de Monemvasia por causa dele —, mas a tradição vinícola grega vai muito mais longe no tempo.
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Vinho Malvasia provado direto na fonte, a linda Monemvasia |
Basta ler duas páginas da Ilíada ou da Odisseia pra assistir a uma cena de empolgadas libações em honra aos deuses (e não fosse Dionísio o deus do vinho). A tão decantada cerâmica grega da antiguidade é muito bem representada nos museus por grandes vasos, conhecidos por crateras, cuja função exatamente era servir de recipiente para diluir o vinho em água, antes de ser bebido ou oferecido a divindades.
O famoso e apreciado Vinho Retsina (resinado e forte) é uma tradição com pelo menos 2 mil anos de idade.
Não é de espantar, portanto, que gregos saibam fazer vinho.
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Os vinhos eram fermentados na ânforas (vasos de pescoço comprido) e diluídos em água nas crateras (vasos de boca larga). Essas peças são do acervo do Museu Benaki em Atenas |
A novidade é que, em tempos mais recentes, a Grécia e, especialmente o Peloponeso, estejam voltando os olhos para mercados mais contemporâneos, investindo em tecnologia e levando sua produção para fora de suas fronteiras.
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A Lacônia está se destacando na produção de vinhos com uvas Mavrud |
Diversas zonas de Denominação de Origem Protegida (DOP) já foram estabelecidas, como em Acaia (região próxima a Patras), na Arcádia e na queridinha da hora, Nemeia (a mesma onde Hércules matou o Leão, no primeiro de seus 12 Trabalhos).
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Assim como Nemeia, Argos tem várias vinícolas que recebem visitantes para tour e degustação |
Nesta nossa viagem, provamos vários vinhos da Nemeia (afinal, estávamos na vizinhança) e gostamos muito de vários deles, como os da Vinícola Lantides que você vê na foto. A uva cultivada na região é a Agiorgitiko, que só existe na Grécia.
Entre as bodegas famosas da região estão a Nemea Winery, a Gaia, a Semeli e várias outras. Nos supermercados de Nafplio, encontramos uma bela variedade, a preços excelentes (com a desculpa de ter que dirigir sempre de volta para a hospedagem em Tirinto, à noite, adquirimos o hábito de sempre levar uma garrafa de vinho para o hotel. O estoque só acabou no final da nossa temporada na Ilha de Cefalônia).
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Esse vinhozinho bate um bolão |
Se você se interessa por vinhos, saiba que há diversas vinícolas na área de Nemeia e também em Argos que recebem visitantes e organizam degustações, principalmente na temporada mais turística no Peloponeso, que hoje em dia começa em abril e vai até outubro.
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