04 novembro 2024

O que ver na Península de Mani, na Grécia

Githio na Grécia

Githio é uma deliciosa vila pesqueira com alguns milênios de idade. Com 6 mil moradores, é a maior povoação da Península de Mani


Na última década, a Península de Mani entrou de vez no radar dos viajantes que querem escapar das regiões mais muvucadas da Grécia.

Com apenas 18 mil habitantes, paisagens quase selvagens e aldeias onde o tempo parece ter parado, a Península de Mani (pronuncia-se Mah-ni) é o dedo médio da mão formada pelo Peloponeso, se esticando entre o Golfos da Argólida, a Leste, e o Golfo Messênio, a Oeste.

E o melhor: a Península de Mani está a menos de 300 km de Atenas e encaixa direitinho em um roteiro de carro pela Grécia.

Mapa do Peloponeso na Grécia
Na mão do Peloponeso (no alto) a Península de Mani é o dedo médio. A seta aponta o Cabo Tânio, ponto mais meridional de toda a Europa Continental
Mapa da Península de Mani na Grécia
Mani tem 40 km de Norte a sul e não chega a 30 km no seu ponto mais largo, de Leste a Oeste

A Península de Mani é um terra de verões longos e invernos amenos. Afinal, ela é a região mais meridional da Grécia: sua pontinha mais extrema, o Cabo Tênaro, é o ponto mais ao Sul no território do país e de toda a Europa Continental.

Visitei a Península de Mani no meu roteiro de carro na Grécia, em maio deste ano, e entendi que preciso voltar lá com muito mais tempo pra explorar as belezas meio misteriosas que ela tem a oferecer.

Areópolis na Grécia
Areópolis na Grécia
Areópolis é pequenininha e muito charmosa

Ponta final da Cordilheira de Taígeto, que corta o Peloponeso ao longo de cerca de 100 km, desde o centro até o extremo Sul, Mani é uma região de terreno muito acidentado, com estradinhas desafiadoras serpenteando montanha acima e abaixo — e algumas delas acabam meio de repente, no meio do nada, como eu e minha companheira de viagem Rose constatamos quando nos perdemos no caminho de Areópolis pra Olímpia.

Estrada na Península de Mani na Grécia
Estrada na Península de Mani na Grécia
Curvas, subidas, descidas e montanhas. As estradas da Península de Mani exigem atenção dos motoristas
Estrada na Península de Mani na Grécia
E de vez em quando o Google Maps joga a gente numa trilha feita para cabritos 😁

Meu roteiro em Mani passou pela Praia de Mavravouni, sempre apontada como uma das melhores do Peloponeso, pela vila pesqueira de Githio e pela pequenina Areópolis, capital administrativa da região.

Vejas as dicas pra descobrir a encantadora Península de Mani:

Viagem à Península de Mani

Leia também:

Península de Mani na Grécia
A paisagem de Mani é rústica e meio poética

Meu roteiro na Península de Mani


A Península de Mani, ainda que pequenininha (40 km de Norte a Sul e menos de 30 km em seu ponto mais largo, de Leste a Oeste) tem muitos recantos encantadores.

Pesquisando pra montar esse roteiro, fiquei encantada com as fotos e vídeos que vi da aldeia pesqueira de Limeni, com apenas 20 moradores fixos, a impressionante Vathia, a mais famosa das vilas montanhesas fortificadas da região (78 habitantes) e a fofíssima Kardamyli (população de 400 pessoas), que reúne o charme da montanha com a beira-mar.

Miniatura de capela à beira da estrada na GréciaCapela
As capelinhas à beira da estrada, sempre perto de uma bifurcação de caminhos, são uma tradição da Grécia. Elas estão lá para abençoar os viajantes e para que esses não percam sua rota
 
Se eu tivesse uma semana pra explorar a Península de Mani, todas essas localidades (e outras mais) teriam entrado no meu roteiro. Mas, como já disse aqui na Fragata, a arte de fazer um bom roteiro de viagem é cortar destinos. Então, escolhemos nos concentrar na praieira Githio e na montanheira Areópolis.

Por coincidência, esses são os dois maiores centros urbanos da Península de Mani. Githio tem 7 mil habitantes e Areópolis, a capital administrativa da região, tem 1.000 moradores. Naturalmente, é nessas duas vilas que o viajante vai encontrar mais infraestrutura turística, como hotéis, restaurantes e mercados.

Githio na Grécia
Areópolis na Grécia
Meu roteiro em Mani teve mar (Githio, no alto) e montanha (Areólpolis, acima)

Githio e Areópolis não decepcionam: as duas estão bem preparadas pra receber turistas. Em Githio, ficamos hospedadas numa pousada maravilhosa, a 500 metros da Praia de Mavravouni. Em Areópolis, ficamos em um hotel muito bem estruturado, no Centro da vila.

Veja as dicas: Hospedagem no Peloponeso

Também encontramos bons bares e restaurantes e comemos bem direitinho nessas duas paradas na Península de Mani. Veja: Onde comer no Peloponeso

⭐Praia de Mavravouni

Praia de Mavravouni na Grécia
Nossa hospedagem em Githio foi na Praia de Mavravouni

Já falei bastante da Praia de Mavravouni aqui na Fragata. É uma praia comprida, sem recortes ou enseadas, com ondinhas na maré cheia e piso de pedriscos. 

Tem infraestrutura de bares e restaurantes simples, farto estacionamento gratuito e costuma ser bem movimentada no verão, pois aparece em todas as listas de melhores praias do Peloponeso.

Praia de Mavravouni na Grécia
Não esqueça as sapatilhas pra caminhar sobre os pedriscos da praia

Leia mais: Praias do Peloponeso  

Chegamos a Mavravouni no meio da tarde, aproveitamos a praia, jantamos na nossa ótima pousada e, no dia seguinte, seguimos viagem para Areópolis, com uma larga parada na vila de Githio

Githio

Githio na Grécia
Os polvos secando ao sol são parte da sedução de Githio

Githio é uma vila pesqueira com alguns milênios de idade e hoje em dia é a cara das povoações que vi em ilhas gregas como Hidra, Spétses ou Sými: fica diante de uma enseada movimentada por muitos barquinhos, tem casas coloridas em estilo neoclássico e um calçadão à beira mar onde os turistas fazem o footing ou farreiam nas mesas ao ar livre dos muitos restaurantes especializados em frutos do mar.
 
Desfile de primavera em Githio na Grécia
Mini-desfile de primavera. E eu ganhei um cravo vermelho

Passamos uma manhã e metade da tarde em Githio, bom tempo pra bater pernas à beira-mar e almoçar. E ainda assistimos ao desfile de primavera na vila, uma tradição da Península de Mani: bandas de música integradas apenas por mulheres acompanham as menininhas em trajes típicos, distribuindo flores aos espectadores.

Enseada de Githio na Grécia
A enseada de Githio foi um porto da poderosa Esparta, na Antiguidade
 
Githio foi colocada no mapa pela poderosa Esparta, que fez de sua enseada um quartel-general de sua frota guerreira. Depois, vieram os fenícios, que estabeleceram ali uma colônia para a exploração do murex, molusco de cuja casca se extraía uma tintura púrpura, muito apreciada na Antiguidade.

Githio na Grécia
Githio na Grécia
Githio na Grécia
Se eu soubesse o que sei agora, teria programado mais dias em Githio

Mas não espere encontrar muitos vestígios dessa Githio antiga, pois um terremoto, no Século 4º de nossa era, levou boa parte da vila para o fundo do mar.

O marco mais importante da Antiguidade em Githio é o Teatro Romano, datado do reinado do Imperador Augusto (Século 1º a.C.), que fica logo ao Norte da vila.

⭐Areópolis

Areópolis na Grécia
As construções de Areópolis preservam as fachadas de pedra nua

A origem de Areópolis, situada numa montanha logo acima de LImeni, é uma vila fortificada cuja origem se perde na bruma do tempo. As casas rústicas, com fachadas em pedra nua, são uma espécie de logomarca da Península de Mani.

As famosas torres que serviam de moradia e refúgio aos aldeões de Mani já não são tão marcantes na paisagem urbana de Areópolis, mas a Casa-Torre Pikoulakis, hoje sede do Museu Bizantino de Mani, ainda nos dá uma boa ideia de como eram essas construções.

Igreja de Taxiarchos em Areópolis na Grécia
Em 17 de março de 1821, o hasteamento da bandeira grega na Igreja dos Arcanjos de Areópolis foi a fagulha que acendeu a Guerra de Independência da Grécia na região

Até 1912, a vila se chamava Tzimova. A troca de nome para Areópolis (“Cidade de Ares”, o deus da guerra, Marte para os romanos) é uma homenagem ao papel desempenhado por seu povo na Guerra da Independência da Grécia (leia mais abaixo).

Ainda que tenha apenas 1.000 habitantes, Areópolis estava movimentadíssima na tarde e noite que passamos lá, com muitos turistas esticando o feriado da Semana Santa Ortodoxa e um brejeiro desfile de primavera animando os bares e restaurantes, semelhante ao que já tínhamos assistido em Githio.

Areópolis na Grécia
Areópolis é bem servidíssima de bares e restaurantes

Por falar em bares, a cidade pode ser de Ares, mas poderia ser de Dionísio (Baco), porque acho que nunca vi tal concentração de tabernas num lugar tão pequeno. E cada uma mais fofa que a outra, às vezes com duas ou três mesas.

Achei Areópolis encantadora e sua fama de refúgio de inverno me pareceu plenamente justificada.

O povo da Península de Mani


Mais do que as paisagens e as praias, o que mais me atraiu à Península de Mani foi seu povo, os maniotas, gente que fala dialeto próprio, que se reivindica descendente dos espartanos e adorou os deuses do Olimpo até o Século 12 desta era, apesar dos esforços do Império Bizantino.

Hoje eles são apenas 18 mil pessoas, esparsos por sua península de paisagens intocadas e aldeias com poucas dezenas de moradores.

Península de Mani na Grécia
Mani é terra de montanhas, paisagens intocadas e de apenas 18 mil maniotas

Ao longo da história, os maniotas foram descritos como um povo com a rusticidade das montanhas, como nos acostumamos a pensar nos corsos e sicilianos. Gente aferrada a suas aldeias e clãs e dada a longas e sangrentas vendetas — prontamente interrompidas frente a ameaças de inimigos externos, fossem piratas de Creta, cruzados francos ou invasores otomanos.

É das vendetas e da resistência feroz a qualquer tipo de invasor que deriva uma das principais características da Península de Mani, as vilas cuidadosamente fortificadas, com suas casas-torre que hoje encantam os turistas, como Vathia.

Um pouco da História da Península de Mani

Githio na Grécia
Githio na Grécia
Githio na Grécia
Na paz e na guerra, Githio sempre viveu do mar

Graças aos maniotas, sua península teve sempre um quê de irredutível aldeia gaulesa de Asterix, resistindo ferozmente a todos os povos que tentaram colonizá-la, ainda que tenha sucumbido a militarmente às diversas invasões de invasões de romanos, bizantinos, venezianos, turcos e tantos outros.

A Península de Mani teve importantes aldeias e portos na Idade do Bronze, sob influência de Esparta.

Areópolis na Grécia
Areópolis na Grécia
As casas de pedra eram uma defesa contra piratas, invasores estrangeiros ou clãs rivais durante as vendetas

Com as sucessivas levas de invasores, os maniotas foram se fechando em suas aldeias. Nas montanhas, mandavam os grupos de bandoleiros chamados Cleftes, que assumiriam papel importante nos movimentos de libertação da Grécia do domínio otomano.

Os locais dizem com orgulho que a Independência da Grécia começou na Península de Mani, em uma revolta liderada pela irmandade secreta Filiki Eteria (Sociedade dos Amigos), em 1821.

Bandeira da Península de Mani
"Vitória ou Morte" (Νίκη ή Θάνατος), diz a bandeira da Península de Mani

Outras regiões da Grécia reivindicam a mesma honra — basta lembrar da armadora Lascarina Bouboulina, da Iha de Spétses, que transformou sua frota mercante em esquadra de guerra e converteu-se em almirante para combater os turcos por todo o Golfo Sarônico.

Mas é certo que uma reunião na Igreja dos Arcanjos de Areópolis, em 1821, o hasteamento de uma versão maniota da bandeira grega foi uma das fagulhas da guerra de libertação.

Githio na Grécia
Githio na Grécia
A Fragata adorou encontrar tantos priminhos na enseada de Githio
 
Na bandeira estava escrito “Vitória ou Morte” — e não foi “Independência ou Morte”, como no Brasil, porque os maniotas consideram que sempre foram independentes, apesar da presença de forças estrangeiras em seu território.

A Península de Mani na Mitologia


Na mitologia, a Cordilheira de Taígeto era considerada o reino da ninfa Taigete, matriarca de todos os lacônios (o povo de Esparta e de Mani, por exemplo), que teve um filho com Zeus e inaugurou toda uma linhagem de guerreiros e reis.

Farol da Ilha de Cranae em Githio na Grécia
A Ilha de Cranae hoje abriga um farol sem acesso ao público. Esta foto é do site Greeka

A lenda também diz que é em Mani que fica a entrada para o Reino de Hades (o reino dos mortos), em uma caverna próxima ao Cabo Tênaro. 

Segundo Homero, Helena de Troia e Páris teriam passado sua primeira noite juntos na Ilha de Cranae, na enseada onde está Githio — essa ilhota também foi uma fortaleza irredutível durante a ocupação otomana, refúgio de piratas que atacavam os turcos.

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