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Githio é uma deliciosa vila pesqueira com alguns milênios de
idade. Com 6 mil moradores, é a maior povoação da Península de Mani |
Com apenas 18 mil habitantes, paisagens quase selvagens e aldeias onde o tempo parece ter parado, a Península de Mani (pronuncia-se Mah-ni) é o dedo médio da mão formada pelo Peloponeso, se esticando entre o Golfos da Argólida, a Leste, e o Golfo Messênio, a Oeste.
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Na mão do Peloponeso (no alto) a Península de Mani é o dedo médio. A seta aponta o Cabo Tânio, ponto mais meridional de toda a Europa Continental |
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Mani tem 40 km de Norte a sul e não chega a 30 km no seu ponto mais largo, de Leste a Oeste |
A Península de Mani é um terra de verões longos e invernos amenos. Afinal, ela é a região mais meridional da Grécia: sua pontinha mais extrema, o Cabo Tênaro, é o ponto mais ao Sul no território do país e de toda a Europa Continental.
Visitei a Península de Mani no meu roteiro de carro na Grécia, em maio deste ano, e entendi que preciso voltar lá com muito mais tempo pra explorar as belezas meio misteriosas que ela tem a oferecer.
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Areópolis é pequenininha e muito charmosa |
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Curvas, subidas, descidas e montanhas. As estradas da Península de Mani exigem atenção dos motoristas |
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E de vez em quando o Google Maps joga a gente numa trilha feita para cabritos 😁 |
Meu roteiro em Mani passou pela Praia de Mavravouni, sempre apontada como uma das melhores do Peloponeso, pela vila pesqueira de Githio e pela pequenina Areópolis, capital administrativa da região.
Vejas as dicas pra descobrir a encantadora Península de Mani:
Viagem à Península de Mani
Meu roteiro na Península de Mani
Pesquisando pra montar esse roteiro, fiquei encantada com as fotos e vídeos que vi da aldeia pesqueira de Limeni, com apenas 20 moradores fixos, a impressionante Vathia, a mais famosa das vilas montanhesas fortificadas da região (78 habitantes) e a fofíssima Kardamyli (população de 400 pessoas), que reúne o charme da montanha com a beira-mar.
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As capelinhas à beira da estrada, sempre perto de uma bifurcação de caminhos, são uma tradição da Grécia. Elas estão lá para abençoar os viajantes e para que esses não percam sua rota |
Se eu tivesse uma semana pra explorar a Península de Mani, todas essas localidades (e outras mais) teriam entrado no meu roteiro. Mas, como já disse aqui na Fragata, a arte de fazer um bom roteiro de viagem é cortar destinos. Então, escolhemos nos concentrar na praieira Githio e na montanheira Areópolis.
Por coincidência, esses são os dois maiores centros urbanos da Península de Mani. Githio tem 7 mil habitantes e Areópolis, a capital administrativa da região, tem 1.000 moradores. Naturalmente, é nessas duas vilas que o viajante vai encontrar mais infraestrutura turística, como hotéis, restaurantes e mercados.
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Meu roteiro em Mani teve mar (Githio, no alto) e montanha (Areólpolis, acima) |
Githio e Areópolis não decepcionam: as duas estão bem preparadas pra receber turistas. Em Githio, ficamos hospedadas numa pousada maravilhosa, a 500 metros da Praia de Mavravouni. Em Areópolis, ficamos em um hotel muito bem estruturado, no Centro da vila.
Veja as dicas: Hospedagem no Peloponeso
Também encontramos bons bares e restaurantes e comemos bem direitinho nessas duas paradas na Península de Mani. Veja: Onde comer no Peloponeso
⭐Praia de Mavravouni
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Nossa hospedagem em Githio foi na Praia de Mavravouni |
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Não esqueça as sapatilhas pra caminhar sobre os pedriscos da praia |
Chegamos a Mavravouni no meio da tarde, aproveitamos a praia, jantamos na nossa ótima pousada e, no dia seguinte, seguimos viagem para Areópolis, com uma larga parada na vila de Githio
⭐Githio
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Os polvos secando ao sol são parte da sedução de Githio |
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Mini-desfile de primavera. E eu ganhei um cravo vermelho |
Passamos uma manhã e metade da tarde em Githio, bom tempo pra bater pernas à beira-mar e almoçar. E ainda assistimos ao desfile de primavera na vila, uma tradição da Península de Mani: bandas de música integradas apenas por mulheres acompanham as menininhas em trajes típicos, distribuindo flores aos espectadores.
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A enseada de Githio foi um porto da poderosa Esparta, na Antiguidade |
Githio foi colocada no mapa pela poderosa Esparta, que fez de sua enseada um quartel-general de sua frota guerreira. Depois, vieram os fenícios, que estabeleceram ali uma colônia para a exploração do murex, molusco de cuja casca se extraía uma tintura púrpura, muito apreciada na Antiguidade.
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Se eu soubesse o que sei agora, teria programado mais dias em Githio |
Mas não espere encontrar muitos vestígios dessa Githio antiga, pois um terremoto, no Século 4º de nossa era, levou boa parte da vila para o fundo do mar.
O marco mais importante da Antiguidade em Githio é o Teatro Romano, datado do reinado do Imperador Augusto (Século 1º a.C.), que fica logo ao Norte da vila.
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As construções de Areópolis preservam as fachadas de pedra nua |
A origem de Areópolis, situada numa montanha logo acima de LImeni, é uma vila fortificada cuja origem se perde na bruma do tempo. As casas rústicas, com fachadas em pedra nua, são uma espécie de logomarca da Península de Mani.
As famosas torres que serviam de moradia e refúgio aos aldeões de Mani já não são tão marcantes na paisagem urbana de Areópolis, mas a Casa-Torre Pikoulakis, hoje sede do Museu Bizantino de Mani, ainda nos dá uma boa ideia de como eram essas construções.
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Em 17 de março de 1821, o hasteamento da bandeira grega na Igreja
dos Arcanjos de Areópolis foi a fagulha que acendeu a Guerra de Independência
da Grécia na região |
Até 1912, a vila se chamava Tzimova. A troca de nome para Areópolis (“Cidade de Ares”, o deus da guerra, Marte para os romanos) é uma homenagem ao papel desempenhado por seu povo na Guerra da Independência da Grécia (leia mais abaixo).
Ainda que tenha apenas 1.000 habitantes, Areópolis estava movimentadíssima
na tarde e noite que passamos lá, com muitos turistas esticando o feriado da
Semana Santa Ortodoxa e um brejeiro desfile de primavera animando os bares e
restaurantes, semelhante ao que já tínhamos assistido em Githio.
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Areópolis é bem servidíssima de bares e restaurantes |
Por falar em bares, a cidade pode ser de Ares, mas poderia ser de Dionísio (Baco), porque acho que nunca vi tal concentração de tabernas num lugar tão pequeno. E cada uma mais fofa que a outra, às vezes com duas ou três mesas.
Achei Areópolis encantadora e sua fama de refúgio de inverno
me pareceu plenamente justificada.
O povo da Península de Mani
Mais do que as paisagens e as praias, o que mais me atraiu à Península de Mani foi seu povo, os maniotas, gente que fala dialeto próprio, que se reivindica descendente dos espartanos e adorou os deuses do Olimpo até o Século 12 desta era, apesar dos esforços do Império Bizantino.
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Mani é terra de montanhas, paisagens intocadas e de apenas 18 mil maniotas |
É das vendetas e da resistência feroz a qualquer tipo de invasor que deriva uma das principais características da Península de Mani, as vilas cuidadosamente fortificadas, com suas casas-torre que hoje encantam os turistas, como Vathia.
Um pouco da História da Península de Mani
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Na paz e na guerra, Githio sempre viveu do mar |
A Península de Mani teve importantes aldeias e portos na Idade do Bronze, sob influência de Esparta.
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As casas de pedra eram uma defesa contra piratas, invasores estrangeiros ou clãs rivais durante as vendetas |
Com as sucessivas levas de invasores, os maniotas foram se fechando em suas aldeias. Nas montanhas, mandavam os grupos de bandoleiros chamados Cleftes, que assumiriam papel importante nos movimentos de libertação da Grécia do domínio otomano.
Os locais dizem com orgulho que a Independência da Grécia começou na Península de Mani, em uma revolta liderada pela irmandade secreta Filiki Eteria (Sociedade dos Amigos), em 1821.
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"Vitória ou Morte" (Νίκη ή Θάνατος), diz a bandeira da Península de Mani |
Outras regiões da Grécia reivindicam a mesma honra — basta lembrar da armadora Lascarina Bouboulina, da Iha de Spétses, que transformou sua frota mercante em esquadra de guerra e converteu-se em almirante para combater os turcos por todo o Golfo Sarônico.
Mas é certo que uma reunião na Igreja dos Arcanjos de Areópolis, em 1821, o hasteamento de uma versão maniota da bandeira grega foi uma das fagulhas da guerra de libertação.
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A Fragata adorou encontrar tantos priminhos na enseada de Githio |
Na bandeira estava escrito “Vitória ou Morte” — e não foi “Independência ou Morte”, como no Brasil, porque os maniotas consideram que sempre foram independentes, apesar da presença de forças estrangeiras em seu território.
A Península de Mani na Mitologia
Na mitologia, a Cordilheira de Taígeto era considerada o reino da ninfa Taigete, matriarca de todos os lacônios (o povo de Esparta e de Mani, por exemplo), que teve um filho com Zeus e inaugurou toda uma linhagem de guerreiros e reis.
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A Ilha de Cranae hoje abriga um farol sem acesso ao público. Esta foto é do site Greeka |
A lenda também diz que é em Mani que fica a entrada para o Reino de Hades (o reino dos mortos), em uma caverna próxima ao Cabo Tênaro.
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