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Mangue Seco não precisa de legenda |
Minha primeira visita a Mangue Seco foi a trabalho, no final dos Anos 90. Um petroleiro de bandeira liberiana havia provocado um derramamento de óleo no Litoral Norte da Bahia, emporcalhando as célebres dunas, e lá se foi a repórter registrar o estrago — e constatar que as medonhas manchas viscosas na areia branquinha eram o menor dos problemas ambientais do lugar.
Mangue Seco era um segredo bem guardado (como já foram Arembepe, Porto Seguro e Itacaré) até virar cenário da telenovela "Tieta", exibida em 1989.
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A Praia de Mangue Seco é quase deserta e deliciosa |
Depois da novela, hordas de turistas passaram a desembarcar em Mangue Seco, todos os fins de semana, para reviver cenas da campeã de audiência.
Na partida, deixavam para trás toneladas de garrafas pet, latas de cerveja e outros recuerdos. Mas os locais também tinham culpa no cartório: até um sofá eu vi boiando nas águas do Rio Real.
Voltei da minha primeira a visita a Mangue Seco com a sensação de que tinha visto um paraíso perdido para sempre, ferido de morte pelo turismo predatório e pela falta de consciência ambiental.
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A travessia das dunas de Mangue Seco é feita de bugre — quero nem imaginar como seria caminhar naquela areia fofas |
Pois querem uma boa notícia? Paraísos ressuscitam! Foi o que descobri nesse retorno, 15 anos depois. Está procurando um lugar lindo e sossegado para uma temporada de praia e dolce far niente? Mangue Seco não vai lhe decepcionar.
Veja as dicas:
Mangue Seco, Bahia
Comecei a constatar a "ressureição" de Mangue Seco ainda a bordo da escuna que faz a travessia do rio Real, partindo de Porto dos Cavalos (SE), ponto de parada para quem vai até lá partindo de Aracaju.
De perto, a vila está bonita, florida e sem sintomas daquele "bater-laje" que assola as localidades turísticas, quando os moradores inventam de acrescentar alguns cômodos às residências e montar "pousadas" — se você não sabe do que estou falando, dê um pulinho em Arembepe, a combinação da mais bela natureza com a mais horrenda arquitetura sobre a face da terra.
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O povoado de Mangue Seco clicado a bordo da escuna que me levou até lá. Abaixo, o Rio Real, que banha o povoado |
O resto é a areia branca, o coqueiral, atracadouros e varandas. A vila mantém as ruas sem calçamento e algumas barreiras de correntes que desestimulam o tráfego dos bugres sob as janelas floridas.
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A torre de telefonia espetada na duna não é uma visão bonita, mas pelo menos os moradores têm sinal de celular |
Mangue Seco agora tem pousadinhas rústicas e simpáticas (nem conto como era o moquifo onde dormi, na primeira visita...), poucas lojinhas de artesanato e bares discretos. E silêncio, merecido refresco para a péssima trilha sonora que rolou desde Aracaju, na van e na escuna.
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A Vila de Mangue Seco, cujo nome oficial é Santa
Cruz da Bela Vista: ruas sem calçamento, silêncio e simplicidade |
Embarcamos no bugre para atravessar as dunas e uau!!! O visual é alucinógeno: a imensidão de areia, pontilhada por coqueiros, e o mar lá longe, sob o céu mais azul do mundo. E nem sinal de lixo nas dunas ou no coqueiral!
Nem preciso dizer que é fundamental estar lambuzada com algumas camadas de protetor solar para fazer a travessia nos brugres. A brancura das dunas reflete o sol inclemente, potencializando seu efeito.
É interessante constatar que os pouco mais de 200 moradores da Vila de Mangue Seco ainda vivem da memória de Tieta do Agreste (da novela, muito mais do que do livro).
Durante a travessia das dunas, os bugreiros fazem algumas paradas para mostrar o lugar onde a personagem fulana "assistia o por do sol" ou onde a personagem beltrana "pastoreava as cabras"...
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Dá pra praticar "esportes radicais" nas dunas de Mangue Seco. Esta, por exemplo, é uma estação de "esquibunda" |
No caminho até a praia, passamos por uma "estação de esquibunda": uma palhoça no topo de uma duna, onde alguns garotos alugam pranchas toscas de madeira para quem quiser deslizar areia abaixo. Um "teleférico" rudimentar e às avessas.
A chegada à Praia de Mangue Seco é um espetáculo: aquele mar azul batendo numa praia infinita, com os contornos distantes envoltos na bruma provocada pela maresia.
Os bugreiros costuma deixar os visitantes no trecho onde quatro barracas de praia competem pelos gastos dos turistas. Nada obriga, porém, a ficar por ali — se bem que os pequenos quiosques que sombreiam as mesas sejam uma proteção muito desejável, sob o sol de rachar. Não há guarda-sóis na praia.
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Depois da travessia das dunas, encontre uma sombra e se jogue nesse mar perfeito |
A maré é batida, como em toda praia de mar aberto, mas não é preciso se intimidar com as ondas. A praia é rasa, de água morninha (viva o Nordeste!) e, na maré vazante, forma espelhinhos d'água, com cerca de um palmo de fundura, onde é possível deitar e esquecer do mundo (com muito protetor solar, viu?!).
Quando bate a fome, são muitas as opções de petiscos e refeições. Comer em Mangue Seco também é um grande programa, como eu conto no próximo post.
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