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"Ah, quanto mais ao povo a alma falta, |
Por um triz eu não escorrego na tentação de chamar este post de "Lisboa em pessoa", mas decidi evitar qualquer risco de trocadilho — se não me falha a memória, esse título já está na capa de um guia de passeios em Lisboa que folheei no aeroporto e que pretende ser exatamente uma coletânea de roteiros por cenários frequentados pelo autor de Mar Português.
Fernando Pessoa realmente esteve comigo nos meus passeios em Lisboa. Mas foram tantos os velhos amigos que me acompanharam por lá que não seria justo creditar meu encantamento apenas à memória do poeta.
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Sete-Sóis conheceu Blimunda num auto de fé no Largo do
Rossio, conta-nos Saramago em um dos meus romances preferidos, O Memorial
do Convento |
Na minha primeira visita, de tanto reconhecer nela as minhas cidades, deixei de conhecer Lisboa de verdade.
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O Mosteiro dos Jerónimos é uma das minhas melhores memórias de Lisboa |
Passeios em Lisboa
Este meu segundo encontro com Lisboa, ainda que despido das referências de outros cenários, teve muito mais de reencontro do que de descoberta.
Foi um delicioso reconhecimento de toda a vasta memória que eu já carregava da cidade (dela mesma, não emprestada).
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Igreja de Santa Maria, no Mosteiro dos Jerónimos |
Referências que me acompanharam a vida toda, um pouco pela mão de Fernando Pessoa e outros autores. Outro tanto pela lenda — não esqueçam que Lisboa é Olissipo, fundada por Odisseu — e muito, muito, muito pela história.
Mas eu sempre acreditei mesmo que as melhores memórias de viagem são aquelas que já acompanham a gente antes da partida...
É claro que as referências que encontrei agora em Lisboa já estavam todas lá, desde a minha primeira visita. Eu é que passei o tempo todo encontrando Salvador, Ouro Preto, o Rio e Olinda por toda parte.
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Na Igreja de Santa Maria estão sepultados Camões, Vasco da Gama
e o rei D. Sebastião |
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O poeta está sepultado em frente ao navegador que homenageou em Os Lusíadas |
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Torre de Belém, marco das grandes navegações. No alto, a
Ponte 25 de Abril vista do interior da torre |
Ingressos: € 12 (só o mosteiro) e € 10 (mosteiro + Torre de Belém). A entrada na Igreja de Santa Maria é gratuita.
Foi construído por determinação de D. Manuel I (rei de Portugal quando o Brasil foi descoberto) e pago com as riquezas trazidas pelos navegadores das terras conquistadas, o que está expresso na rebuscada decoração que reproduz elementos náuticos.
O mosteiro é um espetáculo imperdível. A melhor maneira de chegar até lá é com o Elétrico (bonde) 15, partindo do Terreiro do Paço.
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Acho o mosteiro apenas deslumbrante |
Para quem sempre adorou Os Lusíadas (um dos livros de aventuras mais emocionantes que já li), é arrepiante ver, lado a lado, os túmulos de Vasco da Gama e de Camões, na Igreja de Santa Maria, no Mosteiro dos Jerónimos.
Lá também está o túmulo — vazio — de D. Sebastião, o rei que, falhando em retornar, talvez tenha contribuído decisivamente para carimbar a melancolia na alma lusitana.
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Túmulo de Fernando Pessoa |
Tá lá escrito:
"Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive."
O mosteiro ganhou um post só pra ele: Mosteiro dos Jerónimos e as grandes aventuras marítimas
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O antigo Cais do Restelo, a Torre de Belém (no alto) e o
Padrão dos Descobrimentos: as aventuras marítimas portuguesas desmentiram o
Velho do Restelo, agourento personagem citado por Camões |
A torre é do Século 15 e era parte das antigas defesas do estuário do Rio Tejo. Para uma fã de histórias do mar, como eu, é um monumento arrepiante, verdadeiro ícone das grandes navegações.
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Casarão na Praça Luís de Camões, no Chiado |
A Livraria Bertrand, a mais antiga do planeta ainda em funcionamento, fica no Chiado. Veja este post:
Livraria Lello e Livraria Bertrand - quando o espaço dos livros também é atração turística
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A passarela do Elevador de Santa Justa que dá acesso ao bairro do Carmo e, à direita, os Armazéns do Chiado |
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Devo ter fotografado essa fachada do Chiado em todas as minhas visitas a Lisboa |
O Chiado é elegante, descolado e, ao mesmo tempo, tem uma cara de virada de século irresistível. O conjunto arquitetônico é elegantíssimo, os detalhes são encantadores. E os bares e restaurantes são puro charme.
No Chiado, uma passada pelo Café A Brasileira (Rua Garrett n° 120) é obrigatória. Nem tanto para fazer a clássica foto-mico com a estátua de Fernando Pessoa, pelamordedeus. Mas porque esse é o café mais antigo de Lisboa ainda em funcionamento.
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Café A Brasileira, na Ria Garret |
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Livraria Bertrand, a mais antiga do mundo ainda em
funcionamento |
Bastaria esse currículo pra me seduzir, mas o acervo da Livraria Bertrand — enorme e bem selecionado — simplesmente me arrebata.
Na sua caminhada pelo Chiado, não esqueça de parar um pouquinho para contemplar uma das áres mais fotogênicas de Lisboa, a Praça Luís de Camões.
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No quartel do Largo do Carmo, o ditador Marcelo Caetano se
rendeu ao Capitão Salgueiro Maia, em 1974. Uma placa no chão da praça é a
lembrança singela de um dia extraordinário |
⭐Largo do Carmo
Foi no Largo do Carmo que o chefe do governo autoritário, Marcelo Caetano, rendeu-se à coluna de tanques da Escola Prática de Cavalaria, comandada pelo capitão Salgueiro Maia, pondo fim a 48 anos de ditadura salazarista.
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Bom mesmo é sentar à sombra do Convento do Carmo e
ouvir o silêncio da praça |
Eu, porém, assisti à Revolução dos Cravos em capítulos diários, nos telejornais da época, com uma emoção que até hoje me volta inteirinha quando leio sobre o tema ou vejo algum documentário sobre aqueles acontecimentos.
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Fernando Pessoa morou no Largo do Carmo entre 1908 e 1912.
Ele vivia em um quarto alugado no casarão nº 18 (o edifício cor-de-rosa no
canto direito da imagem) |
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O Chafariz do Carmo, do final do Século 18, abasteceu a a área por mais de 100 anos |
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No Quartel do Carmo, a ditadura salazarista deu seu último
suspiro |
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O Convento do Carmo visto do mirante do Elevador de Santa
Justa |
Veja o post: Convento do Carmo em Lisboa
Rua de Santa Justa, travessa da Rua Augusta
Funciona das 7h às 23h (no inverno, até as 22h). A tarifa ida e volta é de €5 (ou € 1,50, se quiser apenas acesso ao mirante).
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O jeito mais fácil de subir ao Carmo é com o Elevador de
Santa Justa |
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Inaugurado em 1901, o Elevador de Santa Justa é um belo exemplar da Arte Nova, a Art Nouveau portuguesa |
O Elevador de Santa Justa é o "Elevador Lacerda" de Lisboa, ligando a Baixa ao Carmo.
Inaugurado em 1902, sua estrutura em ferro tem uma encantadora cara da Belle Époque. Mais que um meio de transporte, é um mirante espetacular para a Baixa e o Castelo de São Jorge.
Todas as dicas de Portugal
A Europa na Fragata Surprise
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Lisboa é fantástica, adoro essa cidade!!!!
ResponderExcluirParabéns pelo post.....
Obrigada, Bruno! Lisboa é mesmo uma cidade apaixonante. Abs
ExcluirO seu texto e o melhor de todos os blogs de viagem. Mais que informacao, transpira a emocao no relato dos lugares visitados. Pessoa, Saramago, Lobo Antunes e especialmente Eca de Queiros e os Maias ja seriam pretexto para conhecer Portugalem maio, seguindo a rota da Fragrata Surprise. Abracos, Jacy
ResponderExcluirJacy, muito obrigada por seu carinho, comigo e com a Fragata. É muito legal saber que os relatos inspiram outros viajantes, pois essa é a finalidade principal do blog. Comentários como seu me dão força pra continuar a escrever A Fragata Surprise, mesmo com o tempo cada vez mais apertado. Super beijo
ExcluirOlá Cyntia!Tudo bem?
ResponderExcluirEstou lendo e relendo as postagens sobre Lisboa.
ainda ficou muito por ser visto.
Desta vez pretendo ir no Mosteiros do Jerónimos, e andar no elevador da Santa Justa.
Poderei comparar a Lisboa de dezembro (inverno), com a Lisboa de junho!
A Fragata é Demais!
Um grande abraço.
Ana Silvia
Obrigada, Ana :)
ExcluirEu acho que Portugal não esgota nunca. Tanto é que vou voltar lá, agora em junho :)