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Esculturas em bronze do Reino do Benin no Museu Kura Hulanda
de Curaçao |
Os horrores da escravidão geralmente são simbolizados por instrumentos de tortura, correntes e pelourinhos. O Museu Kura Hulanda, em Willemstad, Curaçao, resolveu contar essa história de um modo diferente e muito mais forte.
O deslumbrante acervo de esculturas em bronze, instrumentos musicais, cestaria e máscaras rituais expostos no Museu Kura Hulanda encantam e, ao mesmo tempo, são documentos incontestáveis da violência contida na submissão de gente com tão sofisticado patrimônio simbólico ao embrutecimento de ser tratado como ferramenta da economia colonial.
O deslumbrante acervo de esculturas em bronze, instrumentos musicais, cestaria e máscaras rituais expostos no Museu Kura Hulanda encantam e, ao mesmo tempo, são documentos incontestáveis da violência contida na submissão de gente com tão sofisticado patrimônio simbólico ao embrutecimento de ser tratado como ferramenta da economia colonial.
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Coleção de instrumentos musicais |
O desconforto de ver tanta beleza confinada a uma senzala provoca a empatia imediata com os herdeiros de tanto engenho e arte, escravizados nas Américas.
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Embarcação típica do Mali |
Visita ao Museu Kura Hulanda de Curaçao
Bonito, comovente, perturbador, o Museu Kura Hulanda funciona no interior do resort do mesmo nome, um empreendimento instalado em um belo conjunto de casas coloniais holandesas dos séculos 18 e 19, cuidadosamente restauradas, no bairro de Otrobanda.
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O museu funciona nas dependências do Hotel Kura Hulanda |
A sucessão de pracinhas, ruelas arborizadas e encantadoras fachadas coloridas no interior do hotel acabam funcionando como antessala para ao espaço do Museu Kura Hulanda, um misto de aldeia africana e barracões de senzala.
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O Hotel Kura Hulanda tem construções coloniais originais e
réplicas de casinhas coloniais holandesas |
Antes de chegar ao acervo dos Reinos da África, o Museu Kura Hulanda tem uma sala muito interessante dedicada a peças do Oriente Médio e Egito, chamada "Terra de Abraão".
Essa parte do acervo resgata a memória dos muitos judeus que encontraram em Curaçao um refúgio às perseguições religiosas enfrentadas na Europa e puderam prosperar na antiga colônia holandesa.
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"Terras de Abraão": antes de chegar ao acervo dos
reinos africanos, o museu fala de outra diáspora, a do povo judeu, que teve
forte presença em Curaçao |
Para ver o Museu Kura Hulanda com calma, reserve pelo menos duas horas.
O roteiro da exposição (você vai receber um mapinha junto com o ingresso) vai conduzindo o visitante pelas salas onde também estão reproduzidas habitações típicas de alguns dos Reinos da África e onde estão expostos objetos rituais, utensílios da vida cotidiana, armas e vestuário.
O roteiro da exposição (você vai receber um mapinha junto com o ingresso) vai conduzindo o visitante pelas salas onde também estão reproduzidas habitações típicas de alguns dos Reinos da África e onde estão expostos objetos rituais, utensílios da vida cotidiana, armas e vestuário.
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Escultura, peças de vestuário e pergaminhos com textos
religiosos fazem parte do rico acervo do Museu Kura Hulanda |
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Sala dedicada ao Mali e à cidade de Timbuctu |
Uma das salas é dedicada a Timbuctu, no Mali, cidade que marca os limites da África negra com o Deserto do Saara e que foi usada como base para muitos empreendimentos coloniais europeus naquele continente.
E quando já estamos absolutamente encantados com a beleza e a sofisticação dos objetos expostos no Museu Kura Hulanda, uma escadaria que reproduz o acesso a um porão de uma embarcação nos leva ao horror.
E quando já estamos absolutamente encantados com a beleza e a sofisticação dos objetos expostos no Museu Kura Hulanda, uma escadaria que reproduz o acesso a um porão de uma embarcação nos leva ao horror.
O efeito é devastador, por dar a dimensão exata da monstruosidade. O contato com a riqueza cultural das pessoas escravizadas exposta no acervo foi só um prólogo para a falta de ar que herdei delas, encapsulada naquele porão.
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Porão de navio negreiro: depois da beleza, o horror |
O Museu Kura Hulanda é uma visita obrigatória para quem vem a Willemstad. Roube algumas horinhas que você dedicaria à maravilhosas praias de Curaçao para vê-lo e você não vai se arrepender.
Refletir sobre a escravidão — e sobre a exclusão e o racismo que decorrem desse processo — pode parecer um programa estranho, num país tão belo e tão solar quanto Curaçao, mas não esqueça que essa é uma história essencial à formação de toda essa nossa América.
E garanto que, depois desse percurso da beleza ao horror, você nunca mais vai encarar a questão do mesmo jeito.
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A exposição de um acervo tão lindo em casinhas de senzala provoca desconforto e reflexão |
A Ilha de Curaçao foi palco de uma das primeiras revoltas de escravos registradas nas Américas, em 1795. O movimento, liderado por Tula, durou seis semanas até ser derrotado — a retaliação dos senhores de escravos foi brutal.
Essa história você conhece melhor visitando o Museu Tula, na antiga sede da fazenda onde explodiu a rebelião, do ladinho da praia de Kanepa Grandi, a mais famosa de Curaçao.
⭐ Museu Kura Hulanda
Klipstraat nº 9, Otrobanda, Willemstad.
Aberto diariamente, das 10h às 17 horas. A entrada custa US$ 10 (aceita cartões de crédito).
É bem fácil de chegar ao Museu Kura Hulanda, graças às placas de sinalização que estão por toda parte.
Os visitantes podem usar o estacionamento do hotel, assim como os cafés e restaurantes instalados no complexo.
A lojinha de souvenir tem as reproduções de casinhas do Handelskade mais bonitas que que vi pela ilha (e eu sou uma ávida colecionadora de casinhas...).
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Como se pode solicitar o direito de reproduzir?
ResponderExcluiroi, Marko, depende. Manda no meu email o que vc quer reproduzir. Abs
ExcluirCyntia
Pela primeira vez na vida tive vontade de me hospedar em um resort...
ResponderExcluirPois é, Nivia, fique com a sensação de que o Kura Hulanda deve ser bem interessante, como opção de hospedagem. Em Curaçao, as opões fora dessa fórmula não são muitas, então, que pelo menos a gente fique numa "ilha da fantasia" comprometida com um projeto tão bacana qto o museu, não é? Só que acho que os preços do hotel são um pouquinho altos para meu orçamento :) Abs
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