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Uma das obras mais impressionantes do Museu Arqueológico de
Olímpia é a Vitória de Peônio, representação da deusa Niké, esculpida em
mármore no Século 5º a.C. |
Mas Hermes, o deus das viagens, foi bonzinho comigo: eu pude
voltar ao país e tive a chance de visitar a magnífica Olímpia. Confirmei todos os
motivos de ela encabeçar muitas listas de desejos viajantes.
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Por 1.200 anos, o Santuário de Zeus em Olímpia foi um centro
espiritual fundamental para a construção de uma identidade grega entre
as cidades-estado no território helênico |
O Santuário de Zeus (sítio Arqueológico) em Olímpia não está tão de pé quanto a Acrópole de Atenas, por exemplo (nem Micenas, nem Delfos nem a Ágora Antiga de Atenas estão, tampouco). Mas é uma visita comovente e essencial.
Imagine que aquele complexo de templos, alojamentos e
instalações desportivas foi fundamental para amalgamar uma identidade grega
entre cidades-Estado poderosas e que viviam às turras, como Atenas, Esparta,
Corinto, Tebas e tantas outras.
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Este é o pai de todos os estádios olímpicos do planeta |
Sim, os Jogos Olímpicos celebrados ali em honra de Zeus, a cada quatro anos, tiveram um papel fundamental em ensinar os gregos a se reconhecerem como gregos.
A longo de 1.200 anos, a disputa no estádio (e não no campo de batalha) ressaltou as semelhanças e interesses comuns e ajudou a inventar a Grécia que a gente aprende a amar desde a primeira aula de História.
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Segundo os arqueólogos, esta figura alada feminina do Século
6º a.C. pode ser uma representação das Deusas Artemis (a lua) ou Niké (a
vitória) ou mesmo uma esfinge |
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Este disco de terracota adornava o frontão do Templo de Hera
e seria uma representação do Sol |
E, claro, esses encontros quadrienais para celebrações conjuntas também ensinaram à humanidade a superioridade do lúdico sobre o marcial. (É muito prazeroso amassar o adversário em um Brasil x Argentina. Já desembarcar tropas em Buenos Aires seria uma cretinice, né?).
Além desse sítio arqueológico imperdível, Olímpia tem um Museu Arqueológico espetacular — valeria ter ido a pé de Atenas até lá só pra ver aquela maravilha. Com o acervo composto de estátuas, fragmentos decorativos de templos e objetos rituais escavados na área do antigo Santuário de Zeus, o museu é uma viagem pela beleza e pela história desse centro espiritual tão importante.
Veja todas as dicas pra aproveitar ao máximo sua visita à maravilhosa e inesquecível Olímpia:
O que ver em Olímpia
Museu Arqueológico de Olímpia
O Museu Arqueológico de Olímpia entra facinho na lista dos melhores que eu visitei na Grécia (e olha que a concorrência é osso). Ele está aberto ao público desde 1888 (a primeira instituição museológica importante do país inaugurada fora de Atenas).
É sempre recomendável visitar o museu antes de explorar o sítio arqueológico (isso vale pra Olímpia e pra todos os outros locais importantes na história da Grécia), porque o percurso museológico está organizado como uma aula magistral sobre a história e o significado do que a gente vai ver a seguir, nas ruínas.
Como efeito colateral, é servido um banquete para os olhos
daqueles de fazer a gente lacrimejar.
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A Vitória de Peônio é um espetáculo em mármore de Paros, a
pedra mais cobiçada para as esculturas gregas por sua qualidade |
O Museu Arqueológico de Olímpia não é grande. Ele tem apenas 12 galerias, abarcando da pré-história aos últimos dias de funcionamento do Santuário de Zeus, já no período romano. Mas cada uma delas é de fazer o coração dar várias paradinhas.
Três estátuas me deixaram de queixo caído. A primeira
delas é o Hermes atribuído ao escultor clássico ateniense Praxíteles, que
mostra meu padim (deus das viagens e das comunicações) carregando nos braços seu
filho Dionísio (que iria virar o Deus da alegria, do vinho e da libido) ainda
bebê.
A estátua de Hermes com Dionísio foi esculpida em mármore de Paros, matéria prima de várias das maiores obras-primas gregas (como a Vitória de Samotrácia, hoje no Museu do Louvre).
Ela foi descoberta, muito bem
preservada, nos escombros do Templo de Hera, onde esteve soterrada por cerca de
1.500 anos, após um terremoto. Hoje ocupa uma galeria exclusiva do Museu
Arqueológico de Olímpia.
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Decoração dos frontões do Templo de Zeus Olímpico |
A segunda estátua de fazer a gente flutuar é a Vitória (a deusa alada Niké, que os gregos pronunciam Níki)) esculpida por Peônio, também em mármore de Paros.
A Vitória de Peônio foi a imagem escolhida para adornar as medalhas
dos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2024.
Em sua galeria exclusiva, ela olha pra a gente do alto de seu pedestal (ainda que seu rosto tenha se perdido) com uma força capaz de fazer a gente sair voando de carona em suas asas (que também não estão mais lá). Só vendo pra acreditar.
A terceira escultura que arrebatou meu coração não é tão monumental — ela sequer alcança o tamanho natural de uma figura humana — mas tem uma doçura impressionante. É a representação em terracota de Zeus e Ganímedes.
A peça faz parte de um grupo escultórico do Século 5º a.C. encontrado
próximo ao Estádio do Santuário de Zeus.
A obra em terracota nos mostra Zeus carregando Ganímedes, um
jovem troiano por quem o deus dos deuses se apaixonou e a quem levou para o
Olimpo. Ainda segundo a lenda, Ganímedes ganhou a imortalidade e a eterna
juventude e, posteriormente, teria se transformado na Constelação de Aquário.
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Placa adornada por uma cena da Centauromaquia, do Século 7º
a.C. A coleção de bronzes da Antiguidade do Museu de Arqueologia de Olímpia é
uma das mais importantes do mundo |
As três estátuas que citei já compensaram minha viagem a Olímpia — e a espera de 12 anos entre as duas visitas à Grécia. Mas eu nem comecei a contar o tanto de maravilhas que há no Museu Arqueológico de Olímpia. Sua coleção de bronzes da Antiguidade, por exemplo, é um dos acervos mais importantes do planeta, nesse quesito.
Chama a atenção a coleção de grifos, seres mitológicos
comuns a diversas culturas da Antiguidade, especialmente da Ásia — mas também
no Egito e na Grécia —, com cabeça de águia e corpo de leão, mensageiros dos
deuses e símbolos do ciclo da vida.
As placas decorativas com cenas mitológicas, históricas e
esportivas também formam um conjunto belíssimo. A que mais me impressionou
reproduz uma cena da Centauromaquia, uma guerra entre os Lápitas (povo da Tessália,
onde fica Meteora) contra os centauros, que eram uma espécie de hooligans
mitológicos, metade homens, metade cavalos. Foi preciso chamar a ajuda de
Teseu, um dos maiores heróis helenos, para derrotar os centauros.
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Os grifos são seres mitológicos com cabeça de águia e corpo
de leão. No Egito e na Grécia, eram emissários dos deuses associados à justiça,
à autoridade divina, à morte e ao renascimento |
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Uma grifo dando de mamar a seu bebê (quase oculto sob a
barriga da mãe). Essa peça do Século 7º a. C. produzida em Corinto é
considerada uma obra prima do Período Arcaico grego |
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Os caldeirões de bronze eram usados nos
templos para oferendas aos deuses e deusas |
Como já disse, toda a exposição do museu é composta por achados arqueológicos no antigo Santuário de Zeus e merecem destaque os elementos decorativos dos diversos templos que havia ali.
Os conjuntos do frontão do Templo de Zeus são impressionantes e dão uma ideia do espetáculo que deve ter sido essa construção — que abrigava uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo, a estátua de Zeus Olímpico, um colosso feito de ouro e marfim sob a liderança de Fídias, o arquiteto e decorador do Parthenon de Atenas.
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O edifício atual é novo, mas o Museu Arqueológico de Olímpia
existe desde o Século 19 |
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| Antes de entrar no museu, dê uma olhadinha na coleção de peças expostas na área externa |
Outra coleção interessante é dos objetos votivos doados por atletas vencedores de contendas no estádio e no ginásio de Olímpia e também dos prêmios recebidos por eles e deixados em oferenda aos deuses.
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Uma das salas do museu é dedicada ao período romano. A
estátua da esquerda é do imperador Adriano, que reinou no Século 2º da nossa
era |
Um detalhe importante é milhares de objetos não expostos ao público (guardados na imensa Reserva Técnica instalada em um edifício também dentro do Sítio Arqueológico), poderiam fornecer material para mais algumas dezenas de museus semelhantes.
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Estátua votiva em bronze do Período Geométrico (entre 900
a.C. e 750 a.C.) |
Sítio Arqueológico de Olímpia
Oito séculos antes da nossa era, o Santuário de Zeus em
Olímpia já sediava os jogos pan-helênicos que deram origem ao maior evento
esportivo do planeta, nos dias de hoje. As competições esportivas eram parte de
um festival muito mais abrangente, com música, teatro e outras atividades, realizadas
em homenagem a Zeus, o maior dos deuses do Olimpo.
O festival era realizado a cada quatro anos, desde o Século
8º a.C. e só seria interrompido no ano 393 d. C, por ordem do imperador romano Teodósio,
um cristão, que baniu celebrações ditas “pagãs”.
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A Palestra era uma das dependências do Ginásio de Olímpia,
usada para o treinamento e competições de luta |
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O Sítio Arqueológico é bem explicadinho, mas só em grego,
inglês e alemão |
Diz a lenda que o santuário, chamado de Altis (“bosque”, segundo os historiadores), teria sido fundado por Héracles, a quem se atribui grande parte do trabalho braçal de desbravar a área e dotá-la de construções. O fato é que os vestígios arqueológicos dão conta de rituais religiosos realizados no local há pelo menos 3.500 anos.
O centro do Altis era o Templo de Zeus, dono da casa, mas o
conjunto abrigava muitos outros edifícios religiosos, dedicados a outras
divindades — eram cerca de 70, segundo o geógrafo Pausânias, que visitou
Olímpia no Século 2º da nossa era.
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O Felipeion e o Templo de Hera |
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A construção do Felipeion foi uma encomenda de Felipe II da
Macedônia. Com sua morte, coube a seu filho e sucessor, Alexandre, cuidar da
conclusão da obra |
O conjunto, porém, era ainda maior, já que comportava também alojamentos (como o Leonidaion, para visitas mais importantes), oficinas, banhos, espaços para a prática de esportes (como o famoso Estádio e o Ginásio), tesouros onde as cidades guardavam suas oferendas, estoas (edifícios porticados destinados ao comércio e aos negócios) e túmulos de grandes personagens.
O mais importante desses túmulos era o Pelópion, do Século
6º a. C., onde repousariam os restos de Pelópidas, rei-fundador do Peloponeso,
de quem se origina o nome da península.
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O Templo de Hera foi um dos edifícios mais importantes do
santuário |
O Fillipeion, do Século 4º a.C., está entre as construções mais
preservadas do santuário. É um memorial construído por ordem de Felipe II da
Macedônia (concluído já no reinado de seu filho, Alexandre, o Grande),
celebrando a vitória sobre forças de Atenas e Tebas em uma batalha travada na
Beócia.
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Nesta alameda que leva ao Estádio de Olímpia ficavam os
tesouros, onde as cidades guardavam suas oferendas ao santuário |
Ainda que o cultuo a Zeus em Olímpia se perca nas brumas do tempo, sabe-se que o famoso templo onde resplandecia a estátua do rei dos deuses criada por Fídias (e cujas ruínas podemos ver hoje) é uma obra do Século 5º a. C., quando o Altis viveu seu apogeu. Esse edifício substituiu instalações mais antigas e, certamente, muito menos majestosas.
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Originalmente, o Estádio de Olímpia ficava fora dos muros do
santuário, até a construção dessa passagem |
A proibição do festival em honra a Zeus e uma série de terremotos levaria à decadência do Altis a partir do Século 4º da nossa era. Abadonado, pilhado e dilapidado, o santuário ficaria esquecido até o Século 18, quando foi localizado e passou a ser objeto de estudos por arqueólogos. As escavações no local prosseguem até hoje, sem hora pra acabarem.
Museu e Sítio Arqueológico de Olímpia - dicas práticas
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O Templo de Zeus abrigou uma das Sete Maravilhas do Mundo na
Antiguidade |
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O Museu fica dentro do Sítio Arqueológico e um ingresso vale
para as duas atrações |
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Olímpia é pequena, bem cuidada e tem infra pra receber bem
os turistas |
O verde exuberante e a topografia do local lembram o Asclepeion de Epidauros: o espaço é enorme mas, felizmente, plano, o que torna as caminhadas entre as ruínas muito menos puxadas do que em Delfos ou Micenas, por exemplo.
Dento do sítio arqueológico, mas antes das ruínas, você vai encontrar lanchonetes, barraquinhas de bebidas, banheiros e outras comodidades.
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No interior do sítio arqueológico você vai encontrar uma
estrutura bem montadinha pra receber os visitantes |
Se quiser comprar água, dê preferência a esses estabelecimentos. A cafeteria do museu cobra caríssimo pela garrafinha de meio litro de água mineral, inacreditáveis € 7,50 😱.
Olímpia é uma cidade pequena, com um centrinho bem
organizado cercado por áreas com ares semi-rurais. O município inteiro tem 11
mil habitantes (a cidade, em torno de 1.000 moradores), mas não se assuste: há estrutura pra receber bem o turista.
Sobre opções de alojamento, leia este post: Hospedagem no Peloponeso
Sobre restaurantes e bares, confira: Onde comer no Peloponeso
Como chegar a Olímpia
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O Sítio Arqueológico de Olímpia oferece uma amplíssimo
estacionamento gratuito |
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As excursões bate e volta em ônibus de Atenas a Olímpia são
muito populares, mas eu acho uma maluquice encarar os 290 km de distância e
voltar no mesmo dia |
Olímpia fica a 290 km de Atenas. De carro (passando pelo Estreito
de Corinto e por Trípoli), é uma viagem de 3h30.
Os ônibus de Atenas para Olímpia fazem baldeação na cidade de Pirgos, capital da província da Élida. Eles partem do Terminal A (a Rodoviária de Kifissos), que serve às linhas que se destinam ao Pleoponeso.
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A estação ferroviária de Olímpia é muito fotogênica, mas
recebe apena um trem regional que não faz uma rota de interesse dos turistas |
Olímpia também está a 34 km do Porto de Katakolo, popular parada de navios de cruzeiro, e a 70 km do Porto de Killini, de onde partem os ferries para as Ilhas Jônicas (foi lá que embarcamos para Cefalônia depois da visita a Olímpia. Leia: Como chegar a Cefalônia).
Olímpia está a 117 km de Patras, onde operam ferries que
conectam a Grécia à Itália.
O aeroporto mais próximo é o de Kalamata (a 115 km), mas os voos até lá ficam limitados à alta temporada grega (de abril a outubro).
7 razões pra visitar o Peloponeso
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