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O Iate Clube, na Pampulha |
Lamento por quem não gosta, mas eu sou fã de carteirinha de Oscar Niemeyer. E não venham me falar da “falta de funcionalidade” dos edifícios projetados por ele: já trabalhei em alguns, sem queixas — fora o bônus de poder admirá-los, na pausa para o café.
Nesta visita a Belo Horizonte, fiz questão de ir ver com mais calma esse brilhante ensaio geral para a construção de Brasília que é o conjunto arquitetônico da Pampulha, uma das obras mais importantes de Niemeyer.
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Niemeyer caprichou na luz nas construções da Pampulha,
como no antigo Cassino, hoje Museu de Arte |
A Pampulha é uma Brasília idílica, que evoca muito mais o lazer do que a minha correria diária na Capital Federal. A gente olha para aquela lagoa e já pensa em deitar na grama, pegar um livro e esquecer da vida.
As obras da Pampulha foram encomendadas a Niemeyer pelo então prefeito de BH, Juscelino Kubitschek, no bojo de um projeto de modernização da cidade — aliás, que saudade do tempo em que planejar expansões urbanas era muito mais do que sair correndo atrás das decisões da especulação imobiliária.
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A lagoa e os jardins de Burle Marx não fazem cerimônia
para invadir os salões do Museu de Arte da Pampulha |
Se você gosta de arquitetura, aposto que vai curtir esses posts:
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Atrações de Brasília - arquitetura e outros encantos
Enquanto o olhar acompanha as curvas da Igreja de São Francisco e da Casa do Baile e se deleita com o verde que invade o Cassino — hoje Museu de Arte da Pampulha — pelas generosas vidraças, é inevitável uma certa nostalgia.
O futuro proposto por Niemeyer, na década de 40, parecia tão mais moderno, ousado e instigante do que essas barbaridades que andam plantando por todo canto nas nossas cidades...
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Adoro as curvas da Casa do Baile |
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Abraço, obra de Ceschiatti nos jardins do antigo Cassino |
Ao longo dos anos, porém, o projeto foi sendo modificado. Diversos aterros diante do Iate Clube deixaram a embarcação imaginada por Niemeyer bem plantadinha no chão, vítima da mesma falta de imaginação que hoje mutila Brasília.
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A Casa do Baile e a paisagem da Lagoa da Pampulha |
O cobogó — solução simples, barata e criativa — agora é uma espécie em extinção, substituído pela moda das esquadrias de alumínio e das “fachadas em cerâmica”.
Dizem que são “os novos tempos”. Francamente, acho que já houve tempo em que o futuro era bem menos careta.
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Igrejinha de São Francisco |
É verdade que a ousadia da Pampulha não chegou a ser aclamada pelo público dos Anos 40. A maior polêmica foi em torno da Igreja de São Francisco, considerada a obra prima do conjunto arquitetônico.
Suas linhas, nada convencionais para um edifício religioso, provocaram a fúria dos conservadores. A bronca maior era com a torre da igreja, que parece "apontar" para o chão.
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Os mosaicos laterais da Igreja de São Francisco são de Paulo
Werneck |
Inaugurada em 1943, a Igreja de São Francisco só recebeu o aval da cúpula católica para funcionar como templo em 1958.
Outro bafafá provocado pelas ousadias da Pampulha foi com uma das esculturas de Ceschiatti.
Outro bafafá provocado pelas ousadias da Pampulha foi com uma das esculturas de Ceschiatti.
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A "torre invertida" e as curvas ousadas do templo
irritaram a cúpula de igreja católica, na época da inauguração |
A obra Abraço, desenhada para os jardins do Cassino da Pampulha mostra duas mulheres nuas enlaçadas. A sociedade mineira de então ficou escandalizada.
Não consta, porém, que tenha havido atos de vandalismo contra qualquer das obras.
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Painéis de Portinari na igrejinha da Pampulha. O São
Francisco, pra mim, é a cara do personagem de Henfil |
Tenho a maior dificuldade em apontar minha obra favorita na Pampulha. Mas reconheço uma certa predileção pela Igreja de São Francisco — e não só por causa da polêmica que envolveu a bichinha 😊.
Niemeyer, ateu e comunista, tinha um talento especial para desenhar igrejas — a igrejinha da 308 Sul de Brasília que o diga.
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A Lagoa da Pampulha |
A Igreja de São Francisco, na Pampulha, é uma das obras mais lindas do grande Oscar. Adoro suas curvas — seriam as ondas do mar ou as montanhas? — e simplesmente babo com os painéis de Portinari que adornam sua fachada.
(Cá pra nós, sempre jurei que Henfil se inspirou no São Francisco de Portinari para rabiscar o Fradim Cumprido, doce contraponto ao sarcasmo do meu ídolo maior, o Fradim Baixim).
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As garças da Lagoa da Pampulha combinam muito com os traços
de Niemeyer, né? No alto, a Igreja de São Francisco emoldurada pelas águas |
Mesmo quem não é apaixonado por arquitetura modernista tem muito o que fazer na Pampulha, um espaço que o belorizontino aproveita para caminhar, pedalar ou simplesmente ver as garças desfilando de um lado para o outro, na orla da lagoa.
A Pampulha só tem um defeito — que, coincidência ou não, também é a cara de Brasília. É muito difícil circular por lá sem automóvel.
Chegar de ônibus à Pampulha até que é fácil. Complicado é se deslocar de um monumento de Niemeyer para o outro. O perímetro da lagoa é de 18 quilômetros e os prédios ficam distantes, tornando o carro fundamental nesse passeio.
⭐Igreja São Francisco de Assis
De terça a sábado, das 9 às 17 h. Domingo, das 9 às 13h
A igrejinha de São Francisco foi o último edifício a ser inaugurado na Pampulha. Niemeyer realmente caprichou na bichinha, considerada uma pequena revolução arquitetônica pela ousadia do autor no emprego do concreto armado.
Portinari assina os famosos painéis de azulejo que revestem o exterior do edifício, representando cenas da vida de São Francisco de Assis. Também são dele os 14 painéis da Via Crúcis que estão no interior da igreja.
Os jardins em torno da Igreja de São Francisco são, naturalmente, de Burle Marx.
Outro parceiro recorrente de Niemeyer, Alfredo Ceschiatti, é o autor dos baixos-relevos que adornam o batistério. Os mosaicos geométricos na lateral do edifício são de Paulo Werneck.
Outro parceiro recorrente de Niemeyer, Alfredo Ceschiatti, é o autor dos baixos-relevos que adornam o batistério. Os mosaicos geométricos na lateral do edifício são de Paulo Werneck.
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A boate do antigo Cassino da Pampulha |
De terça a domingo, das 9 às 19h
Projetado para abrigar o Cassino da Pampulha, é um dos mais espetaculares dos edifícios de Niemeyer que conheço.
Escancarado para a exuberância do verde que o cerca, o prédio envidraçado faz seu interior brincar com os reflexos da lagoa, com a variação da luz do sol ao longo do dia e as tonalidades do céu, num diálogo incrível da geometria rigorosa de suas linhas e o desenho anárquico e sem régua da natureza lá fora.
O Cassino, inaugurado com o resto do conjunto da Pampulha em 1943, funcionou apenas três anos, até o jogo ser proibido no Brasil. O edifício ficou quase uma década sem uso contínuo, até ser transformado no Museu de Arte, em 1956.
O acervo do Museu de Arte da Pampulha tem obras de feras como Guignard, Di Cavalcanti, Bruno Giorgi, Antonio Dias, Frans Krajcberg, Iberê Camargo, Tomie Ohtake e Volpi, entre outros artistas.
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Os painéis acolchoados que circundam a antiga boate integram
um engenhoso sistema de amplificação do som |
Os jardins de Burle Marx em torno do Museu de Arte são maravilhosos. Não deixe de ver a antiga boate e seu engenhoso sistema de painéis que direcionam o som, permitindo aos cantores que lá se apresentavam dispensarem os microfones.
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Jardins da Casa do Baile. De Burle Marx, é claro |
⭐Casa do Baile
De terça a domingo, das 9 às 19h
Usada originalmente para festas elegantes, a Casa do Baile hoje é sede Centro de Referência de Urbanismo, Arquitetura e do Design de Belo Horizonte.
Usada originalmente para festas elegantes, a Casa do Baile hoje é sede Centro de Referência de Urbanismo, Arquitetura e do Design de Belo Horizonte.
O edifício foi construído sobre uma ilha artificial próxima à margem da lagoa da Pampulha. Foi palco de noitadas animadas entre 1943, ano de sua inauguração, e 1948, quando foi fechada.
A construção circular da Casa do Baile, com uma marquise em curvas que avança para o jardim, é considerada um dos desenhos mais ousados da primeira fase de Niemeyer. Eu acho simplesmente encantadora.
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Cyntia, ficou lindo o skyline do blog!! Minha viagem a BH teria sido muito melhor com estas dicas! Mas não faltarão oportunidades...
ResponderExcluirQue bom que vc gostou, Nívia. BH é uma cidade muito bacana. Dá vontade de voltar sempre
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