Na primeira vez que vi a Basílica de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo, tive a impressão de algo muito importante estava acontecendo lá.
Foi em janeiro de 1970 e eu ainda ia fazer nove anos de idade. Naquela época, chegava-se ao santuário por uma ladeira íngreme, que terminava aos pés do Jardim dos Passos da Paixão, onde estão dispostas as seis capelinhas da Via Crucis.
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O profeta Isaías contempla Congonhas e as montanhas de Minas
Gerais |
Lá no alto, no adro da igreja, a disposição das estátuas dos profetas e o gestual das imagens formavam uma cena viva e intensa. Era como se tivéssemos chegado no meio de um acalorado debate.
Os 12 Profetas de Aleijadinho são uma visão poderosa e um dos mais importantes conjuntos da arte sacra brasileira.
Veja as dicas visitar a obra-prima de Antonio Francisco de Lisboa, o Aleijadinho, o maior nome do Barroco Mineiro:
Os 12 Profetas de Aleijadinho em Congonhas, Minas Gerais
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O gênio do escultor faz a pedra sabão quase
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Congonhas do Campo cresceu muito, construções comuns engolfaram a visão dramática que se tinha dos profetas, desde grade distância.
Hoje, quem chega de carro acessa o topo do Morro do Maranhão por trás da Basílica, aproximação que retira muito do impacto cênico criado pelo gênio de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Ainda assim, o efeito é acachapante.
Hoje, quem chega de carro acessa o topo do Morro do Maranhão por trás da Basílica, aproximação que retira muito do impacto cênico criado pelo gênio de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Ainda assim, o efeito é acachapante.
Dizem que ao concluir a imagem de Moisés, (exposta na Igreja de San Pietro in Vincoli, em Roma), Michelangelo teria dado uma palmadinha amigável no joelho da estátua: “Parla!” ("fala"!), teria dito o escultor, encantado com a vida que extraiu do mármore.
Revendo a pulsação que Aleijadinho fez brotar da pedra sabão em seus 12 profetas, fiquei tentada a pedir: “Falem um de cada vez, Senhores”. Aquelas estátuas são uma algaravia, de tão vivas...
Antes disso, ele e sua equipe esculpiram as 64 imagens em madeira expostas nas seis capelas dos Passos da Paixão, a Via Crucis, que ladeiam o caminho calçado por pedras irregulares que leva até o adro da igreja.
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A Santa Ceia, conjunto de esculturas em madeira exposto
em uma das capelas que ladeiam a subida à Basílica de Bom Jesus de Matosinhos |
As imagens de Aleijadinho são o maior tesouro da cidade de Congonhas, mas não são sua principal fonte de renda. As obras figuram como Patrimônio da Humanidade desde 1985.
O município, hoje com mais de 60 mil habitantes, continua a viver principalmente da mineração, como no Século 18.
As bateias do garimpo rudimentar, porém, há muito foram substituídas pelo processo industrial de extração do minério de ferro, cuja poeira é uma ameaça permanente às estátuas dos 12 Profetas de Aleijadinho.
O município, hoje com mais de 60 mil habitantes, continua a viver principalmente da mineração, como no Século 18.
As bateias do garimpo rudimentar, porém, há muito foram substituídas pelo processo industrial de extração do minério de ferro, cuja poeira é uma ameaça permanente às estátuas dos 12 Profetas de Aleijadinho.
O exemplo citado é o Davi, de Michelangelo, hoje abrigado das intempéries na sala principal da Galleria dell'Accademia, em Florença — uma reprodução da estátua foi colocada no posto original, a Piazza della Signoria, aparentemente sem maiores traumas...
Os moradores de Congonhas, porém, não demonstram o menor entusiasmo pela ideia de retirada das estátuas originais.
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Congonhas vista do adro da basílica. Acima, à esquerda, a
última capela da Via Crucis |
Os 12 Profetas de Aleijadinho passam por uma limpeza a cada cinco anos. Além de remover as marcas da poluição, a faxina também recorre a um biocida para exterminar líquens e fungos que ameaçam a integridade da obra prima que Antonio Francisco Lisboa nos legou há mais de 200 anos.
Como chegar a Congonhas do Campo
Congonhas fica a 78 quilômetros de Belo Horizonte, pela BR-040.
De Belo Horizonte a Congonhas de ônibus
A Viação Sandra tem dois horários diários para Congonhas, partindo da Rodoviária de Belo Horizonte (7h e 10:15h. Aos domingos apenas às 10:15h).
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| Daniel e o Leão |
Outra possibilidade é pegar o ônibus para Conselheiro Lafaiete (diversos horários saindo de BH) e descer no entroncamento de Congonhas.
As passagens custam R$ 21,20 (ida) e R$ 19,50 (volta).
As passagens custam R$ 21,20 (ida) e R$ 19,50 (volta).
Ir para Congonhas de ônibus foi fácil. Difícil foi me entender com o transporte público da cidade, que é pouco preparada para viajantes independentes.
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| Ezequiel e Oseias |
Na chegada, dei a maior sorte: peguei o único táxi que havia na estação rodoviária de Congonhas do Campo e rumei para a Basílica de Bom Jesus de Matosinhos, que fica afastada do Centro, no alto do Morro do Maranhão.
A região da basílica já é bem povoada, mas pobre em opções de bares, cafés ou qualquer lugarzinho simpático para a gente sentar e admirar o belo conjunto formado pela igreja e os profetas — Congonhas parece acreditar que todo mundo vai até lá em excursão.
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| Congonhas e seu horizonte |
Depois da visita aos 12 Profetas de Aleijadinho, almocei e voltei mais cedo para BH, pela absoluta falta de informações sobre o que fazer na cidade.
Depois de admirar os profetas e as esculturas de Aleijadinho nas Capelas da Via Crucis, quem caiu na via crucis fui eu: simplesmente não não havia transporte circulando nas redondezas para voltar à rodoviária.
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As capelas da Via Crucis margeiam a subida íngreme que leva
à Basílica do Bom Jesus de Matosinhos |
Quando as excursões começaram a ir embora, o entorno da Basílica de Bom Jesus de Matosinhos começou a ficar meio deserto e eu, meio cabreira.
Fui salva por um carrinho de placa vermelha que apareceu na ladeira. Fiz sinal e o motorista me explicou que tinha acabado de comprar o carro, um ex-táxi do qual ainda não tinha tido tempo de trocar a placa. Depois, pensou melhor e fez questão de me dar uma carona até a rodoviária.
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A Basílica do Bom Jesus de Matosinhos foi inspirada no Santuáriodo Bom Jesus do Monte, em Braga, Portugal |
Obrigada, Seu Toninho, por ter gasto um pedacinho do seu domingo para socorrer uma viajante em apuros. E viva a simpatia mineira!
Só depois de voltar a BH é que descobri que há um ônibus regular que vai da rodoviária à igreja.
Ah, as agências de receptivo de BH incluem Congonhas num tour de dia inteiro que vai a São João del Rey e Tiradentes.
Onde comer em Congonhas do Campo
No entorno da Basílica de Bom Jesus de Matosinhos, a única opção é o Restaurante Cova do Daniel (Praça da Basílica 76).
Anexo ao Hotel Colonial, o restaurante tem ambiente simples e cardápio regional.
O atendimento é competente e dá conta das enormes mesas de excursionistas sem perder o rebolado.
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Cena da Via Crucis, de Aleijadinho |
Pedi um tutu à mineira que não chegou a comprometer, mas ficou devendo um temperinho mais caprichado. Com refrigerante, a refeição custou R$ 30.
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Que delicia rever esse cenario que descobri não ha muito tempo, quando ainda morava em Minas, em companhia da minha mãe. Fomos num bate-volta num domingo besta, e ficamos encantadas com a obra, mas concordo com a total falta de estrutura e preparação para lidar com o turismo fora de pacote. Espero que os proximos eventos esportivos impulsionem mudanças positivas nesse aspecto :)
ResponderExcluirUma coisa que o Brasil precisa aprender com a Grécia, Natalia, é a ter linhas de ônibus direto para esse tipo de atração. Seria tão legal pegar o ônibus em BH e descer direto na Basílica, sem passar pela rodoviária. Na Grécia, eu pegava o ônibus e descia direto nos sítios arqueológicos (Micenas, Epidauros). facilita um bocado a vida do turista que gosta de usar transporte público, como eu :)
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