Liverpool para beatlemaniacos: 3 programas obrigatórios

Forever... ❤️

Música deste post: Strawberry Fields Forever, The Beatles

Atualizado em maio de 2019

Do velho orfanato mantido pelo Exército da Salvação, resta apenas o portão de ferro (na verdade, uma réplica). A casa, uma mansão gótico-vitoriana que devia emprestar tons verdadeiramente dickensianos à vida das crianças acolhidas em Strawberry Field, foi demolida nos Anos 70. 

Diante do terreno quase baldio, do outro lado da grade, a gente entende a força da canção. Só mesmo o gênio de John Lennon para nos deixar com um nó na garganta contemplando algo que, de fato, é quase nada. 

Mendips: a janela menor, no primeiro andar, é a do quarto de John. No pórtico envidraçado da entrada, ele e Paul ensaiavam, um pouco pela acústica, um pouco por exigência de Mimi, que não suportava o barulho dentro de casa

Strawberry Field, no singular (o plural é arte de John), fica em Beaconsfield Road, uma transversal da Menlove Avenue, onde está Mendips, o número 251, onde John viveu por 18 anos. 

No jardim dos fundos de Mendips, John adorava bisbilhotar o orfanato, de sua casa na árvore ("No one I think is in my tree") e era repreendido pela Tia Mimi, afirmando que ele poderia até ser enforcado por isso, embora ele soubesse que isso era apenas força de expressão ("Nothing to get hung about"). 

O charmoso e agradável Waterfront de Liverpool é endereço chave para passeios beatlemaníacos. Lá ficam o museu The Beatles Story (abaixo) e os pontos de embarque para o Magical Mystery Tour e para a visita às casas de John Lennon e Paul McCartney

São apenas seiscentos metros de caminhada entre Mendips e Strawberry Field. Ou menos, se, como John, pularmos os muros dos vizinhos para cortar caminho. 

Quando criança, John adorava participar das festas de verão do orfanato de Strawberry Field, com apresentações da banda do Exército da Salvação. Adolescente, chegou a tocar nos jardins da instituição com os Quarrymen, sua primeira banda. 

O Cavern Club original chegou a ser demolido em 1973, para uma obra do metrô, apesar dos protestos. Mas voltou a funcionar em um porão igualzinho, com shows ao vivo, todos os dias, a partir das 10 da manhã. Abaixo, a réplica do Cavern no museu The Beatles Story

Depois da demolição da mansão vitoriana de Strawberry Field, uma casa mais moderna chegou a ser construída no local, com a mesma finalidade, mas foi desativada e também demolida em 2005. 

O terreno, hoje uma frondosa mata, já foi pretendido para diversos projetos que não vão adiante. Agora, andam prometendo um "centro cultural" dedicado aos Beatles para 2020. 

Mas é claro que os visitantes parados em frente aos portões vermelhos não estão contemplando o Strawberry Field concreto. ("Nothing is real", lembra?). 

Estamos parados, embasbacados e comovidos diante de Strawberry FieldS, o lugar mágico. E foi essa a sensação que me acompanhou o tempo todo em Liverpool, na mais importante e impactante das tantas jornadas sentimentais que tenho feito por aí.

Arnold Grove nº 12, a casinha simples da Família Harrison. 
Um casal, quatro filhos e dois dormitórios

Se você gosta só um pouquinho dos Beatles (é, tem gente assim, e até ouvi dizer que tem gente que não gosta nadinha, embora eu não faça a menor ideia de quem seja esse ET) não espere mais para ir a Liverpool. 

E, quando for, aproveite as três dicas a seguir em sua jornada sentimental:

Três passeios essenciais para beatlemaníacos em Liverpool

⭐Magical Mystery Tour
Diariamente, às 14 horas

Partidas das Albert Docks, ao lado do museu The Beatles Story
Preço: £ 19.95

O Magical Mystery Tour é um ótimo "menu degustação" que apresenta várias possibilidades de um roteiro dos Beatles em Liverpool

Em períodos mais concorridos, são oferecidos mais horários para o Magical Mystery Tour, mas convém comprar com antecedência.

 O roteiro do Magival Mystery Tour dura duas horas e passa por vários locais relacionados à história dos Beatles. É um bom "menu degustação" pra a gente começar o roteiro — vale super a pena fazer o passeio logo no primeiro dia e depois voltar por conta própria aos lugares que você quiser ver com mais calma.

A casa de Brian Epstein, empresário dos Beatles, vista pela janelinha do ônibus do Magical Mystery Tour

Alguns desses lugares fundamentais na história dos Beatles você você verá pela janelinha do ônibus, como as casas em que Ringo viveu, Mendips (a casa de Tia Mimi, onde Jonh passou a maior parte da vida) e trechos de Penny Lane citados na canção (o salão de barbeiro, o quartel do corpo de bombeiros e o abrigo).

O Magical Mystery Tour faz paradas para fotos nas casa das famílias Harrison e McCartney, no comecinho de Penny Lane e em Strawberry Field. 

O Magical Mystery Tour faz paradas para fotos, como em Penny Lane (acima). Mas a rua onde Ringo viveu, a partir dos três anos, é vista apenas pela janelinha do ônibus. A casa do melhor baterista do mundo é aquela branca, com detalhes em rosa, na foto da direita (abaixo)

Francamente, achei o Magical Mystery Tour meio frustrante, em alguns momentos — queria muito ter parado em Woolton para visitar o pátio da Casa Paroquial da Saint Peter Church, onde John e Paul foram apresentados por Ivan Vaughan, por exemplo.

Mas é uma boa introdução aos locais importantes na história dos dos Beatles. No meu retorno a Liverpool, em 2014, voltei a vários dos locais incluídos no Magical Mystery Tour por conta própria.

O guia que acompanhou meu grupo era tão beatlemaníaco quanto eu e tinha historinhas bem saborosas para contar (nenhuma novidade trepidante, para quem leu praticamente tudo publicado sobre os FabFour...).

No cômputo geral, o Magical Mystery Tour é altamente indicado como primeiro contato com a Liverpool dos Beatles.

O roteiro termina no Cavern Club, que funciona das 10h à meia noite (ou mais além, se a galera estiver animada) com música ao vivo (adivinhem o repertório, rsss).

Os McCartney mudaram-se para Forthlin Road nº 20 quando Paul tinha 13 anos. Mary, a mãe, estava encantada com a nova casa, maior e numa "vizinhança melhor" do que Speke, onde viviam. O imóvel era do governo, que cobrava uma espécie de "aluguel social". A felicidade da família durou pouco. Um ano depois da mudança, Mary, enfermeira, morreria de câncer de mama

⭐Visita às casas de John Lennon e Paul McCartney 
Tour do National Trust
De quarta a domingo. Consulte os horários no site do National Trust
Preço: £25 

Este é O Roteiro pra se fazer em Liverpool. Absolutamente imperdível. 

O National Trust (o instituto do patrimônio histórico Britânico) administra as antigas casas de Paul McCartney e de John Lennon (esta, comprada por Yoko em 2001 e doada ao Estado) e oferece o único tour que dá acesso ao interior das residências.

Euzinha com a alma na estratosfera durante minha jornada beatlemaníaca em Liverpool: à esquerda, na casa de Macca, à direita, em Penny Lane 😊

As duas casas, chamadas pelos íntimos de Mendips (John) e Forthlin Road (Paul) permanecem muito fiéis à aparência que tinham quando os meninos moravam nelas. 

O cuidado com isso é tanto que a instituição convenceu um dos antigos vizinhos de Paul a fornecer uma janela original da casa, que havia sido trocada pelo antigo morador do imóvel antes ocupado pelos McCartney.

A mobília das casas de John e Paul não é original, mas foi escolhida com base em fotos e depoimentos para reproduzir com fidelidade o que seriam os interiores das duas moradias na década de 50.

Em Mendips e em Forthlin Road estão expostos documentos e outras recordações doadas pelas famílias Lennon e McCartney.

Na casa de Paul, estão diversas fotos do cotidiano doméstico, clicadas por seu irmão, Michael McCartney, que além de ter sido baterista dos Scaffold, é fotógrafo profissional.

A placa azul na fachada de Mendips registra que Lennon viveu na casa de 1945 a 1963. A distinção do National Trust só é conferida a personalidades mortas há mais de 20 anos — e essa é a parte triste da história

A visita às duas casas é absolutamente arrebatadora (várias vezes eu tive que por os óculos escuros, para não ser vista lacrimejando).

As guias do National Trust são super competentes e contam ótimas histórias (para quem não entende inglês, são oferecidos roteiro impressos, com a descrição de cada cômodo e algumas curiosidades, em diversos idiomas, inclusive português).

É proibido fotografar o interior das casas de John e Paul.

 É absolutamente indispensável comprar o bilhete para esse tour com antecedência. Ele é oferecido apenas de quarta a domingo, em quatro horários, de março a outubro (10h, 11h e 14:15h, saindo do Jurys Inn Hotel, na Albert Dock e às 15 horas, saindo de Speke Hall).

Na baixa estação, só são realizados os roteiros partindo do Jurys Inn. E atenção na hora de agendar a viagem, pois essa programação é interrompida no final de novembro e só é retomada no final de fevereiro.

A pacata Menlove Avenue. Mendips é a casa nº 251

Os tickets podem e devem ser comprados pela internet (foi como comprei o meu, em maio, para viajar em agosto) e custam  £25 para adultos e £ 12,50 para crianças.

Compre seu ingresso aqui: National Trust Beatles Childhood Homes Tour.

Casas-museus: a vida cotidiana de gente muito especial

O museu dos Beatles, na Albert Dock

⭐The Beatles Story
Albert Dock, diariamente das 9h às 19h (de novembro a março, só das 10h às 18h). 
Preço: £17.00

Taí um museu muito, muito legal que escalou meu hit parade museológico como um cometa.

Quem passou a adolescência lendo e relendo a clássica biografia autorizada dos Beatles, escrita por Hunter Davies em 1968, vai reconhecer de cara cada uma das etapas do roteiro da exposição no Beatles Story.

Exposição do Beatles Story: réplica da redação do jornal Mersey Beat, publicação dedicada à cena musical de Liverpool (esq) e a a bateria dos Quarrymen, banda que foi o embrião dos Beatles

Não poderia faltar a clássica foto de Lennon, bem bad boy, feita por Jürgen Vollmer na Wohlwill Strasse, em Hamburgo. Um espelho facilita as selfies inspiradas na pose de John e nem eu, a antiselfies, resisti. Afinal, Liverpool "é uma cidade onde as coisas acontecem - geralmente pela primeira vez" 😁

A exposição do Beatles Story mostra os os tempos difíceis da guerra, quando os Beatles nasceram, o célebre encontro de John e Paul na feira da Paróquia de Woolton, o Casbah Club, da mãe de Pete Best (primeiro baterista da banda), a doideira das temporadas em Hamburgo, a NEMS Enterprise, loja de discos de Brian Epstein, a redação do jornal Mersey Beat...

Os "Beatles" no estúdio e a exposição dedicada ao Yellow Submarine, que tem uns espelhos mucho locos (abaixo) ótimos pra fazer selfies estranhas sem precisar dos filtros do Instagram

No tempo da Beatlemania, foram lançados todos os tipos de produtos beatles, até meias. O museu The Beatles Story tem uma vasta coleção dessas peças e eu queria trazer toooodas pra casa

The Beatles Story é puro deleite. Adorei a réplica do Cavern Club e o Yellow Submarine, chorei feito uma bezerra diante do piano de John, na sala Imagine e, claro, voltei no dia seguinte, para delirar tudo outra vez (o ingresso vale para dois dias).

Os ingressos do Beatles Story dão direito a um audioguia com explicações bem bacaninhas (com opção de português do Brasil!).

Momento lágrimas: a sala Imagine no museu dos Beatles

Outras opções (que eu não testei, mas chequei)

Quem estiver em grupo, pode contratar um tour com os táxis especializados (The Beatles Fab Four Taxi Tour), que têm roteiros de duas horas (£45) a cinco horas (£105). Os preços são por táxi, que comportam até cinco passageiros.

Violões de Macca (esq) e George no museu dos Beatles

E os que estiverem montados na nota podem contratar um tour privado, como A Day in The Life (8 horas, £98 por pessoa)

Para quem vai só fazer um bate e volta a partir de Londres, vale consultar os preços e as programações dos pacotes anunciados na página do Cavern Club

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