Espanha: bate e volta a Segóvia

Segóvia e seu Aqueduto: lindos de apertar o coração

Fiz um bate e volta a Segóvia, partindo de Madri, em janeiro de 2017. Fiquei absolutamente apaixonada pela cidade. O passeio é daquelas felicidades imensas que cobram pouco: é fácil, barato e rápido ir até lá e explorar suas ruas medievais cheias de encanto.

Dois monumentos colocaram Segóvia no mapa dos viajantes, o Aqueduto Romano e o Alcázar. A cidade, porém, tem muito mais a oferecer.

Alcázar de Segóvia, o castelo que virou cânone para os castelos da Europa

A cerca de uma hora de Madri, Segóvia é uma lindeza aos pés da Serra de Guadarrama (ainda mais encantadora com a moldura dos picos nevados, no inverno) que sabe tudo sobre cenografia, pairando sobre o vale como uma miragem feita de torres e escarpas.

O bate e volta a Segóvia é uma das escapadas mais populares entre os turistas que passam por Madri. Neste post eu conto tudinho pra você organizar esse passeio e aproveitar os encantos dessa bela cidade.

Segóvia tem tudo pra conquistar você, também. É só seguir as dicas e montar sua visita.

Dicas para organizar um bate e volta a Segóvia

O vale aos pés do Alcázar de Segóvia visto de uma das janelas do castelo

Um pouquinho da história de Segóvia

Não é de hoje que os visitantes embasbacados comparam Segóvia a um navio — a rocha onde se assenta o Alcázar seria a proa, tão pontuda que é quase um gurupés, os mastros seriam as torres do castelo e os campanários de suas igrejas.

Essa imagem, talhada ainda na Idade Média, talvez tenha sido um presságio da grandeza que as navegações trariam ao futuro império que começou a ser forjado exatamente nos majestosos salões do Alcázar de Segóvia, no Século 15.

Aposentos reais no Alcázar de Segóvia. Repare que espetáculo é o teto do salão

Foi no Alcázar de Segóvia, a “proa do navio de pedra”, que se realizou o casamento da pretendente ao trono de Castela, Isabel Trastâmara, com seu primo Fernando, herdeiro da Coroa de Aragão, em 1468. A  posterior coroação de Isabel, em 1474 também foi feita no Alcázar.

O casal, que entraria para a história como os Reis Católicos, unificou o que seria a futura Espanha e completou a Reconquista Cristã do território, derrotando os últimos enclaves mouros na Península Ibérica.

A Igreja de San Martín, do Século 12, está cercada por fontes bem fotogênicas

Sem a "ameaça interna" dos mouros, o nascente Reino da Espanha pode voltar toda a atenção ao Atlântico e à busca do Novo Mundo.

Até Filipe II finalmente estabelecer a capital e sede da corte de Espanha em Madri, em 1561, Segóvia prosseguiria como um dos epicentros da vida política do país.

Ao lado do Aqueduto, uma escadaria dá acesso à parte mais antiga de Segóvia. Você verá vários trechos de muralha muito bem preservados

A importância política de Segóvia, porém, não começou com os Reis Católicos. Na Idade Média, ela já era era uma cidade próspera, graças ao comércio de lã e de produtos têxteis, e moradia de reis.

Segóvia também foi um polo de conhecimento, como quis Alfonso X, o Sábio, rei de Castela e Leão no Século 13, que além de governar, amava estudar as estrelas.

Fachadas típicas de Segóvia, com decoração em esgrafiado

O rei Alfonso escolheu Segóvia como sede de sua corte e trouxe para perto de si estudiosos das mais diversas áreas, impulsionando a pesquisa, a experimentação e a produção científica. Foi em Segóvia, por exemplo, que foi impresso o primeiro livro em terras espanholas.

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O que fazer em Segóvia

O que ver em um bate e volta a Segóvia

Os dois monumentos mais famosos de Segóvia, o Aqueduto e o Alcázar, realmente batem um bolão e já justificariam com folgas a viagem até lá.

A técnica do esgrafiado tem origem mudéjar: a decoração em relevo, com temas geométricos e florais. É executada em gesso ou argamassa

Até as torres do Alcázar são decoradas com esgrafiado. Repare, ao fundo, a ponte levadiça sobre o fosso do castelo

Mas não resuma sua visita a essas duas atrações mais famosas de Segóvia. A cidade toda é tão bonita que até dá um aperto no coração. Logo na chegada, a majestade do Aqueduto e os muitos detalhes de seu entorno me fizeram dar voltas e mais voltas, para ver o colosso por todos os ângulos.

Depois disso, é preciso subir para continuar descobrindo os encantos de Segóvia. Uma escadaria ao lado do Aqueduto dá acesso à parte mais antiga da cidade. Siga as placas que indicam o caminho até o Alcázar, mas não tenha pressa de chegar.

Plaza Mayor de Segóvia

Aposto que você vai parar muito para admirar as fachadas adornadas em esgrafiado, uma arte herdada da cultura mudéjar e que é uma das marcas de Segóvia.

O esgrafiado consiste em decorações em relevo, com temas geométricos e florais, executadas em gesso ou argamassa.

O Aqueduto de Segóvia é realmente um colosso, mas tem muito mais pra ver na cidade

Sua primeira em Segóvia parada pode ser na Praça Juan Bravo, para ver linda Igreja de San Martín, do Século 12, que conjuga os estilos românico e mudéjar.

A próxima pausa pode ser na Plaza Mayor, onde estão a antiga sede do Ayuntamiento (prefeitura) e a bela Catedral de Segóvia. Guarde um tempinho pra se perder pelas ruas da Judería, o antigo bairro judeu.

No alto, uma rua da antiga Judería de Segóvia. Acima, um dos pontos de acesso ao alto da muralha medieval da cidade

A Igreja de San Andrés é do Século 12. À direita, um doce típico da cidade que alegrou minha pausa para o café

Procure uma confeitaria e experimente docinhos segovianos. Fiquei especialmente fã de uma rosca frita, em formato de flor, feita de massa de pastel e coberta com açúcar. Esqueci de anotar o nome do doce (de vez em quando eu dou esses vacilos jornalísticos. mas, pô, eu tava de férias 😊).

⭐ Aqueduto de Segóvia

O famoso Aqueduto de Segóvia é uma construção romana com 2 mil anos de idade e quase 30 metros de altura.

Construído pelos romanos, o Aqueduto de Segóvia foi usado no abastecimento de água até o Século 19

Não precisa procurar pelo Aqueduto: o colosso recebe “na porta” quem chega à cidade, uma visão impactante, logo que o ônibus que vem da Estação Ferroviária entra no Centro Histórico de Segóvia.

Acho que é uma forma de Segóvia dizer que não está para brincadeiras e quer mesmo arrebatar seu coração logo à primeira vista. E consegue.

A descida da Calle San Juan é um mirante em movimento

O Aqueduto de Segóvia é um prodígio feito de pedras perfeitamente encaixadas, sem uso de argamassa. Era usado para transportar água de um manancial próximo (o complexo inteiro tem cerca de 15 km de extensão) e abastecer a importante base militar que os romanos estabeleceram na confluência dos Rios Eresma e Clamores, no Século 1 de nossa era.

O Aqueduto de Segóvia é um legado e tanto, apontado como a obra de engenharia civil romana mais importante da Espanha, e que permaneceu em uso por 1.800 anos, abastecendo Segóvia até o final do Século 19.

A Torre de João II (centro), no Alcázar de Segóvia

⭐ Alcázar de Segóvia
Plaza de la Reina Victoria Eugenia s/n

Horários: diariamente, das 10h às 18h, no inverno (1º de novembro a 27 de março. No verão (28 de março a 31 de outubro, das 10h às 20h.

Ingressos: € 10 para a visita completa (palácio, subida à Torre de Juan II e Museu de Artilharia) ou € 7 (Palácio e Museu de Artilharia). Visitantes entre 6 e 16 anos de idade, estudantes e maiores de 65 pagam € 8 para fazer a visita completa ou € na visita sem a torre. Menos de seis anos não pagam. Suplemento para visita guiada: € 3,50. Suplemento para audioguia (baixado no celular): € 3,50.

➡️ A bilheteria funciona a poucos passos do Alcázar, na mesma praça, no antigo Real Laboratório de Química onde trabalhou o farmacêutico francês Louis Proust, um dos fundadores da química moderna.

Os tetos decorados em estilo mudéjar são uma das grandes atrações dos aposentos reais no Alcázar de Segóvia. Acima, à direita, a Sala do Trono

O Alcázar de Segóvia é o castelo medieval que estabeleceu os cânones para a própria ideia de castelo — os da vida real e os de fantasia.

Está tudo lá: a localização dramática, numa comprida ponta de rocha que se projeta sobre o vale, o fosso, a ponte levadiça, as muralhas com ameias, as torres pontudas, os salões suntuosos...

Dormitório de Isabel de Castela e a capela da rainha

O Alcázar de Segóvia era o palácio favorito dos Reis Católicos e muito da decoração que ainda se vê nos aposentos reais são da época deles, o Século 15

Uma localização tão esplêndida e estratégica como a do Alcázar de Segóvia não passaria batida a nenhum povo com algum juízo. É claro, portanto, que essa ponta de pedra já vinha sendo fortificada desde o tempo dos celtas.

O castelo atual, porém, foi iniciado no Século 12, após a Reconquista Cristã de Segóvia. Ele ganhou importância política e histórica cem anos depois, quando foi escolhido pelo rei Afonso X de Castela para sede de sua corte — “Alcázar”, palavra herdada dos mouros, designa as fortalezas com função de residência de reis ou governantes.

Um pátio do Alcázar e a Torre de João II

A vista dos aposentos reais no Alcázar

O Alcázar de Segóvia permaneceria como sede principal da corte espanhola por mais 200 anos e foi a residência preferida dos Reis Católicos Fernando de Aragão e Isabel de Castela, que se casaram lá.

Os aposentos reais do Alcázar, muito bem preservados, são dessa época e ficam na ala batizada de Palácio dos Reis de Castela.

Coleção de armaduras do Alcázar de Segóvia

Uma das famosas torres do Alcázar, atribuída ao rei João II (pai da rainha Isabel), está acessível ao público e, dizem, oferece uma vista magnífica de suas janelas a 80 metros de altura — eu não subi, pois nesta viagem eu estava fugindo de escadarias tortuosas e degraus contados a partir dos três dígitos 😉.

Para os mais animados a encarar degraus, o Campanário da Catedral é um grande mirante. Outra pedida é explorar os terraços e escadarias que descem da muralha de Segóvia até o vale. Lá estão os melhores ângulos para fotografar o Alcázar

⭐ Catedral de Segóvia

Plaza Mayor s/n
De novembro a marzo, diariamente, das 09:30h às 19h. De abril a outubro, até as 21:30h. Entrada: € 3.

Construída no Século 16, a marca da Catedral de Segóvia são seus adornos, semelhantes às torres de um castelinho de areia que caracteriza a escola decorativa do Gótico Tardio na Península Ibérica (você vai reconhecer traços similares no Mosteiro da Batalha, em Portugal).

Catedral de Segóvia

Grandiosa, imponente, a atual Catedral de Segóvia substitui a antiga igreja, destruída durante Guerra das Comunidades de Castela de 1520, uma rebelião contra a tentativa de Carlos I (que foi sacro-imperador romano com o título de Carlos V) de reduzir a autonomia das vilas e cidades, centralizando ainda mais o poder.

 

Para os mais animados com degraus, vale a subida o campanário da Catedral, que é apontado como um ótimo mirante para as belezas de Segóvia.

No entorno da Catedral, a Judería (antigo bairro judeu) é um encanto de ruas estreitas e fachadas decoradas na famosa técnica do esgrafiado, uma das marcas de Segóvia.

A apenas 750 metros da Catedral, a Plaza del Conde Cheste é um dos melhores mirantes que encontrei em Segóvia. De lá, desça a Calle San Juan e você estará de volta aos pés do Aqueduto 

Quanto tempo ficar em Segóvia

A facilidade de chegar à cidade a partir de Madri fazem do bate e volta a Segóvia um passeio popular entre os turistas. Foi assim que visitei Segóvia, agora em janeiro.

Confesso, porém, que voltei a Madri com aquele gostinho de quero mais e apostando que ao menos um pernoite em Segóvia teria sido a medida certa. (No meu retorno à cidade, em 2024, constatei que essa impressão estava certíssima).

Além de explorar suas ruas tortuosas e muralhas com mais clama, fico imaginando como deve ser bonito caminhar por Segóvia à noite, à luz dos lampiões e do luar.

A Estação de Chamartín, em Madri, é servida pelo metrô e bem fácil de chegar

Como ir de Madri a Segóvia

Madri e Segóvia estão conectadas pelos trens de alta velocidade Alvia. Na capital espanhola, a viagem começa na Estação de Chamartín, conectada ao metrô (Chamartín, Linhas 1 e 10).

A viagem entre Madri e Segóvia dura 30 minutos e os bilhetes custam a partir de € 10,30 cada trecho.

 

A Estação Segóvia-Giomar é a parada dos trens AVE e Alvia. Ela fica bem no meio do nada, mas a vista para as montanhas é linda

➡️ Preste atenção na hora de escolher o bilhete: há trens regionais saindo também de Chamartín que têm passagens a € 6,90, mas fazem o percurso em quase duas horas.

Como ir da estação ao Centro de Segóvia

A estação de parada do Alvia e dos trens AVE é Segóvia-Guiomar, a 5 km do Centro da cidade — a impressão é que a distância é bem maior, pois a estação fica no meio do nada.

Calma, que rapidinho o ônibus deixa você no Centro de Segóvia

Olha o ônibus miudinho, lá em baixo, chegando da Estação Segóvia Guiomar

O ônibus que vem da estação ferroviária faz ponto final de cara para o Aqueduto (e nesta foto você não precisa de lupa pra enxergar o transporte 😁)

Não se assuste, porém, ao descer do trem e dar de cara com o ermo ao redor da estação. Os ônibus da linha 11 partem de Segóvia-Guimar a cada 20 minutos e deixam você aos pés do Aqueduto, no Centro da cidade, em uma viagem que leva cerca de 15 minutos.

A passagem do ônibus custa € 2 e pode ser paga diretamente ao motorista.

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