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The Terrace, beach club em Sliema com vista para o cenário histórico de Valeta onde passei minha primeira manhã maltesa. Comer em Malta é geralmente olhar o mar na paisagem e saboreá-lo no prato |
Comer em Malta é um enorme prazer — tão grande que o país nem precisava ter todas aquelas outras delícias que eu listei no parágrafo anterior para ser um baita destino de viagem.
Como todo pedacinho de Mediterrâneo, Malta é um vasto e colorido mosaico de civilizações —contando as que dominaram efetivamente o arquipélago e as muitas outras que tentaram tirar uma casquinha de sua privilegiadíssima posição estratégica entre Oriente, Ocidente e África.
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Além de ser um banquete para os olhos com seus barquinhos
coloridos, o Porto de Marsaxlokk é uma festa para o paladar, com um enorme
mercado de doces típicos de Malta à beira-mar |
Conquistadores dificilmente estão preocupados com as consequências culinárias e culturais que traçam ao longo de suas marchas, mas é inevitável que um rastro de temperos e aromas fique pelo caminho das tropas.
Em Malta, o resultado desse movimento é uma fusão de sotaques culinários que lembram a Grécia, a Sicília, o Oriente Médio e até os britânicos — que jamais serão acusados de inventividade na cozinha. Carne de coelho, pastizzi, frutos do mar (com destaque para o peixe lampuki) e as mil formas de rechear o pão ftira são algumas das estrelas do cardápio maltês.
Durante uma adorável semana, comi muito bem em Malta. Veja as dicas de pratos e alguns restaurantes que testei e aprovei:
Comer em Malta – que grande atração turística!
O que comer em Malta
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Balcão de frutos do mar no Mercado Público de Valeta. Você
escolhe e eles preparam na hora |
Basta olhar o mapa pra imaginar a fartura de bichinhos do mar na mesa maltesa, né? Eu me esbaldei com os mexilhões, lulas (calamari) e polvos.
Você vai encontrar frutos do mar servidos das mais diversas maneiras, como petiscos e entradas ou prato principal. O ensopado de polvo típico de Malta tem grande reputação.
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A variedade de frutos do mar no Mercado de Valeta era uma
grande alegria pra mim |
Um bom lugar para provar frutos do mar é o Mercado Público de Valeta (Is-Suq Tal-Belt), no Centro da capital e pertinho de atrações famosas, como a Co-Catedral de São João e os Upper Barrakka Gardens.
⭐Lampuki
O peixe mais famoso de Malta não chega a ser exótico para
nós, brasileiros — ele gosta de águas quentes e também aparece nas nossa Costa,
atendendo pelo nome de dourado. Tem carne saborosa e é preparado em diversas
receitas, como a famosa Tal-Lampuki (torta de peixe).
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Lampuki, o peixe mais popular em Malta |
Eu provei um belo prato de lampuki assado no bar/restaurante
Il Gabbana, no calçadão de Sliema.
⭐Kannoli Tal-Irkotta (cannoli)
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Com amêndoas, pistache, chocolate... Os cannoli malteses
são uma festa |
Tão pertinho da Sicília, Malta importou e adaptou à sua
maneira os famosos cannoli da vizinha, para delírio dos fãs. Achei a massa do
cannolo maltês mais espessa que a versão siciliana (rende um croc croc mais
intenso, que eu amo) e adorei a bossa de acrescentar chocolate e nozes nessa festa. Outro acréscimo feliz é o de frutas carameladas.
Confesso que protagonizei um quase-vexame quando me vi
diante das barraquinhas de doces malteses que apinham a beira-mar da vila
pesqueira de Marsaxlokk.
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O torrone maltês, ou nougat, também merece
atenção |
O pastizz (singular de pastizzi) lembra um pastel ou
empanada, feito de massa folhada, com variado tipo de recheio (carne, queijo e,
mais tradicionalmente, ricota). Simples, né? Pois simples coisa nenhuma.
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Pastizzi, porque a perfeição não precisa de pompa |
Esse petisco crocante, servido quentinho em tudo quanto é canto — na rua, nos botecos, nos restaurantes... — é um dos atestados de que Malta, se não existisse, teria que ser inventada. E rápido.
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Você vai encontrar pastizzi em literalmente tudo quanto é canto. Não viciar é bem difícil 😊 |
Desde que coloquei meus pés no país, tornei-me
irreversivelmente viciada no delicioso despojamento dessa preciosidade
maltesa — se eu fosse escrever a frase em português claro, seria obrigada a
admitir que eu comia mais de uma dúzia de pastizzi, todo dia. Mas sempre acho
que minhas confissões de glutoneria passam longe da elegância.
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Sorry, Pernalonga, mas ensopado de coelho é bom demais |
Pernalonga, meu velho, desculpaê, mas um grande motivo pra
visitar Malta é se esbaldar no talento local para preparar a carne de coelho —
sim, fenek é coelho, a carne mais popular na culinária maltesa.
E o bicho fica tão gostoso que não dá pra sentir a menor
culpa de traçar aquelas criaturinhas fofinhas, que saltitam para a mesa nas
mais diversas receitas e fazem a gente suspirar.
Eu provei duas versões de pratos à base de carne de coelho nos dias que passei em Malta. A primeira, no meu jantar de estreia por lá, no tradicionalíssimo restaurante Ta-Kris, em Sliema, onde me deleitei com uma pasta com ragu de coelho que estava de chorar de deliciosa.
A segunda, foi o coelho ensopado que almocei no restaurante San Giovanni, de cara para a Co-Catedral de São João, em Valeta.
⭐Torta frangipane e outros docinhos
O capítulo doce da culinária de Malta vai muito além dos cannoli — ainda que as barraquinhas de Marsaxxlok façam deles uma das coisas mais fotogênicas do país.
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Essas tortinhas de amêndoas e nozes transformavam cada pausa
para o café numa festa |
Recomendo que você também prove o pudim de pão local (pudina tal-ħobż, que leva chocolate, amêndoas ou nozes e frutas secas) e o imqaret, pastelzinho de tâmaras, e as pasti tal lewz, um biscoito de amêndoas que é descrito como “macaron maltês”.
Mas o que realmente me fazia flutuar de emoção era a tortinha frangipane, recheada de creme de amêndoas, que sempre acompanhava minhas pausas para o café.
⭐Qassatat
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Qassatat, mais um delicioso belisco maltês |
Taí mais um belisco maravilhoso para aplacar aquelas fominhas que batem no meio de um passeio por Malta — e por um precinho sempre camarada, sempre na casa dos € 2.
Qassatat é uma espécie de cestinha
de massa crocante, tradicionalmente recheada com ricota. Digo tradicionalmente,
porque você vai encontrar muitas variações de recheios — como de ervilha e de espinafre, que é um
show de bola.
Pelo nome e pelo recheio, dá pra supor que a qassatat seja meio prima da cassata siciliana, né? Mas a versão maltesa é salgada. A melhor que provei foi nesse boxe do Mercado de Valeta que você vê na foto acima.
⭐Ftira
O famoso pão maltês vai aparecer muito — e de diversas
maneiras — em seu caminho culinário pelo país.
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Um sanduba no pão ftira vai muito bem |
O ftira lembra o pão italiano na cor e crocância da casca, tem certo parentesco com a ciabatta, na consistência do miolo, e é meio primo do bagel, no formato redondo e com um buraco no meio. Mas é gostoso como ele só.
Um bom sanduba de ftira vale por uma refeição — na qual você
dificilmente gastará mais do que € 3 ou €4. O sanduíche geralmente vem
acompanhado por batatinhas fritas e os recheios são bem variados.
Este que você vê na foto tinha queijo de cabra e espinafre e
estava de morrer de bom. Foi devidamente homenageado (termo comportadinho para devorado)
na lanchonete do parque público de Rabat, que fica de cara para as muralhas de Mdina.
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No lindo cenário de Malta, você vai encontrar restaurantes
charmosos e caseirinhos que servem pratos tentadores. Acima, um café
tradicional em Valeta |
Onde comer em Malta
80 Fawwara Lane, Sliema
Diariamente, das 12:30h às 23h
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O ragù de coelho foi a estrela de um ótimo jantar |
Simples, autêntico e incrivelmente barato, Ta’ Kris é apontado como o melhor entre os restaurantes de cozinha tradicional maltesa na ilha. Jantei lá na minha primeira noite e só não voltei todas as noites porque a curiosidade de provar coisas diferentes não deixou.
Ta’ Kris funciona em uma espécie de bequinho ao qual se
chega por uma escadaria, em uma transversal de The Strand, a rua da praia na
Orla Sul de Sliema. É perto de tudo e facílimo de achar (tome como referência a
estação de ferries de Sliema, que fica bem em frente à rua do restaurante. Na
dúvida, procure o letreiro do McDonald’s).
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O Restaurante Ta’Kris vive movimentado. É melhor fazer
reserva |
Adorei meu jantar em Ta’Kris, onde provei uma deliciosa pasta com ragu de coelho, acompanhada por um bom vinho maltês. A conta foi de € 14,95.
Eu cheguei sem fazer reservas e encontrei mesa (vantagens de viajar sozinha 😉), mas a administração do restaurante recomenda que os clientes reservem mesa, especialmente quando o grupo for grande. Tem uma área no site do Ta'Kris para isso.
⭐Mercado de Valeta (Is-Suq Tal-Belt)
Triq il-Merkanti, s/n.
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O Mercado de Valeta é um ótimo lugar pra começar a descobrir a variedade culinária de Malta |
Horários: os restaurantes e a praça de alimentação do Mercado de Valeta funcionam diariamente, das 8h às 22h. O mercado de alimentos abre uma hora mais cedo, às 7h.
O Mercado de Valeta segue a receita que vem fazendo sucesso
no mundo inteiro: um velho mercado coberto do Século 19 ganha um banho de loja
para funcionar como “espaço gourmet” no Século 21.
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A praça de alimentação fica no térreo do mercado |
A fórmula deu certo em Malta, também. O velho Is-Suq Tal-Belt, uma bela construção em ferro, bem à moda do velhos mercados europeus, foi reaberto em 2018 e é uma ótima opção para quem quer provar a variada culinária maltesa a preços justo — com direito a beliscar também pratos mexicanos, japoneses e italianos, por exemplo.
O Mercado de Valeta tem dois pavimentos. A grande praça de
alimentação, cercada por restaurantes que vendem do pãozinho aos frutos do mar —
naquele esquema delicioso de você escolher o seu pescado, para ser preparado na
hora —, funciona no térreo.
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O mercado de gêneros fica no subsolo do Mercado |
Nos boxes variados você vai encontrar doces malteses, pastizzi com vários recheios, qassatat, coelho preparado de todos os jetos, polvos, lulas, peixes... Minha refeição mais cara no Mercado de Valeta foi um delicioso e imenso prato de mexilhões, a € 12.
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Nem conto o quanto esses mexilhões estavam gostosos... |
No subsolo ficam os mercados de gêneros in natura, com balcões muito fotogênicos, que fazem a gente lamentar não estar em uma hospedagem com cozinha.
Horário: diariamente, do meio-dia às 23h.
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Almocei muito bem no Restaurante Il-Malti |
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Queijo de cabra frito (no alto) e pasta com frutos do mar |
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O licor de romã tem uma cor tão bonita que ele nem precisava
ser cheiroso e gostoso. Mas é |
Arrematei o ótimo almoço com uma dose do surpreendente — bonito, cheiroso e gostoso — licor de romãs servido na casa.
A conta foi de € 31, graninha muito bem gasta.
⭐Charles Grech Bistro
59 Sir Adrian Dingli Street, Sliema
Horário: aberto de terça a sábado, das 12h às 16:30h e das 18h às 23h.
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Coq au vin no Charles Grech: que farra! |
A Casa Charles Grech existe desde 1881, como empório de bebidas finas, vinhos e charutos e, na origem, tinha por freguesia a fina flor dos colonos britânicos em Malta.
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Além de servir boa comida, o bistrô é bem elegante e tem
atendimento irrepreensível |
Até tentei fazer a frugalzinha, dispensando a entrada, mas não resisti aos patêzinhos e pães muito gostosos do generoso couvert. Pedi o coq au vin, que estava excelente — porção tão pantagruélica que não dei conta de exterminar.
A conta, com vinho, aperitivo e café, foi de € 32.
Fortina Spa Resort, Tigné Seafront, Sliema
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Essas lulinhas fritas estavam divinas |
Bom lugar para bebericar, olhar a paisagem e petiscar calamares fritos super crocantes e saborosos. A conta desta manhã preguiçosa e saborosa foi de € 17.
⭐Tiffany’s Bistro
18 Tigné Seafront, Sliema
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Não dá pra negar a vizinhança de Malta com a Itália, como
provam o cornetto (no alto) e o babà au rum |
⭐Amorino
3 St. Anne Square, Sliema
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Tem sorvete? Ah, já tô feliz |
Na Amorino, o sorvete médio (regular cup) custa € 4,70. O macaron sai por € 1,80 a unidade.
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As mesinhas ao ar livre de Il Gabbana são um grande lugar
pra um drinque de final de tarde, como o ótimo cosmopolitan servido lá |
Finalmente, pintou a ocasião: foi lá que eu e Fran
Agnoletto, que escreve o blog Viagens
que Sonhamos, marcamos a nossa happy hour que virou jantar. Fran estava em
Malta na mesma época que eu, fazendo intercâmbio de inglês — ela publicou dicas
ótimas para quem quer estudar no país e passear bastante depois das aulas. Siga
o link pra ver.
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O calçadão de Sliema fica delicioso ao cair da tarde e tem
muitas opções de bares e restaurantes |
Il Gabbana é uma casa é tradicional, funcionando desde 1956, e seu grande trunfo são as mesas ao ar livre, no calçadão, de cara para o mar. O bar serve um cosmopolitan bem decente (€ 7) e o peixe lampuki que pedimos estava bem interessante. Descontadas as bebidas, o jantar ficou na casa dos € 15 por cabeça.
⭐Il GaleoneTriq IxXatt ta Tigne, Sliema
Horário: de terça a sábado, almoço das 12:30h às 14:30h e jantar das 19h às 22h. Aos domingos, só almoço, das 12h às 15h.
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Fettuccine e tiramisù: bom jantar italiano em Sliema |
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Pensando seriamente em processa-la. Isso não se faz com pessoas que estão confinadas em casa e doidas para viajar. Maldade pura. Mas estás perdoada, em nome da boa gastronomia .
ResponderExcluirEntão... foi por isso que parei de postar na pandemia 😂. Mas, agoea que começou a vacinação, a gente já pode esquentar os motores.
ExcluirOlha muito bom, adorei o teu sentido de humor! :D
ResponderExcluirCyntia , excelente Blog , muito explicativo , bem objetivo , gostoso de ler . Estou indo em Outubro/23 e me orientou bem , Parabéns !
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