![]() |
Feira livre em Carcassonne, França: chuchu com sotaque (Por
justiça, a foto de abertura deste post tinha que ser da Feira da Vila Madalena,
mas eu não tenho nenhuma) |
Uma das coisas mais divertidas que eu conheço é fazer feira (e experimentar comida de rua em mercados). Encontrar feiras pelo mundo é uma atividade turística que me instiga tanto quanto ver grandes artistas em um museu.
Foi graças a São Paulo que descobri o inimitável prazer de apalpar laranjas, inspecionar goiabas e eleger o mais belo ramo de couve da semana. Antes de ir morar em Sampa, sequer suspeitava do lado lúdico que palpita nas frutas, hortaliças e assemelhados.
![]() |
São Paulo tem a feira e tem o pastel de feira, que emplaca o top 10 em qualquer lista de melhores iguarias do Brasil |
A primeira vez que eu vi a luz foi numa manhã de sábado, na Vila Madalena (a original, não essa que está lá hoje, muito da mauricinha). Eu morava em Perdizes, não usava automóvel — a mania de pedestre vem de longe — e tinha sérias dúvidas de que pudesse haver um peixe fresco sobre a face da terra que compensasse o trajeto de ônibus, ainda mais na companhia de um trambolho chamado carrinho de feira. Admito: eu era uma mulher de pouca fé.
Porque a verdade é que, naqueles tempos, um tomate jamais seria apenas um tomate na esquina da Aspicuelta com a Fradique.
Sou fã de visitar feiras pelo mundo. Pra beliscar comidinhas nas barracas, pra sentir o paladar local e pra ver gente normal vivendo seu cotidiano nos lugares onde sou só uma visita curiosa.
Feiras pelo mundo - grande atração turística
![]() |
Uma grande favorita minha é a Feira de Tristan Narvaja, em Montevidéu, onde se vendem desde a hortaliça aos livros usados, passando pelas roupas e antiguidades |
Um quarteirão inteiro de barracas era dedicado às massas frescas, caseiras, carregadas daquele sotaque anasalado (italiano/paulistano), tão essencial ao tempero do molho de tomate quanto o manjericão. A área dedicada aos pescados era um corredor polonês de tentações: lulas, polvos, peixes de todos os tipos. Sem contar os setores das frutas secas, das conservas, dos frios, dos embutidos, dos queijos...
O segredo era chegar em jejum e, de provinha em provinha, a gente enchia o estômago na mesma velocidade que enchia o carrinho. O melhor café da manhã do mundo — tá, se Belmondo saísse da tela, em Acossado, e me servisse croissants na cama eu ficaria tentada a mudar de ideia...
![]() |
O Viktualienmarkt, em Munique, é uma feira imperdível. Tem
de tudo, até jaca (acima), em um clima animadíssimo |
E tinha o pastel. Só quem já teve a felicidade de comer um pastel de feira em São Paulo vai saber do que estou falando. Porque o pastel de feira de Sampa é indescritível, inimitável e inesquecível.
Além de ser um espetáculo no quesito víveres, a feira da Vila também arrebentava nos mórteres. A oferta de batidas de frutas, vinho, pinga, infusões e outras poções não identificadas era tanta — e o esquema da provinha tão generoso — que lá pras tantas ficava impossível pronunciar "macadâmia" ou "alcachofra" de maneira inteligível.
Sem contar que os legendários botecos da Vila funcionavam a pleno vapor, a partir do meio dia. Seria uma falta de educação deixar de ir cumprimentar os garçons do Bartolo, do Sujinho da Wisard e do Martin Fierro (as mais antológicas empanadas do planeta) estando tão perto.
O resultado é que não era incomum voltar da feira na madrugada de domingo, geralmente amparada por um peixe outrora fresquíssimo, mas que, a essas alturas, já estava com uma cara pra lá de suspeita.
Graças à Vila Madalena, aprendi que as feiras e os mercados são visitas obrigatórias para quem quer ver uma cidade mais de perto, sem maquiagem, bem à vontade.
A Feira de São Joaquim, em Salvador, é uma experiência antropológica, mas não é para iniciantes. Se você acha que não aguenta o tranco (calor, multidão e distância), experimente a Feira de Itapuã.
Além das muitas feirinhas anônimas que fizeram a minha alegria pelo mundo afora, também recomendo vivamente as feiras em alemão como o Viktualienmarkt, em Munique, o Naschmarkt de Viena e o Grünmarkt de Salzburgo. Só não apalpe as frutas, que os barraqueiros ficam uma feras.
![]() |
A área do antigo Mercato di Mezzo, em Bolonha, resplandece nas cores e cheiros das barracas de frutas e hortaliças |
A Feira de Tristán Narvaja, de Montevidéu, é simplesmente maravilhosa. Outra das minhas preferidas é a do Campo dei Fiori, em Roma. Aliás, as feiras na Itália são tão espetaculares quanto o Coliseu, basta lembrar do Mercato di Balarò, em Palermo e da profusão de barracas que colorem e perfumam a área de Mercato del Mezzo em Bolonha.
Pra mim, deveria figurar no topo da lista de iguarias nacionais, ao lado do acarajé de Salvador, do bolinho de bacalhau do Rio e do açaí com farinha de piçarra de Belém.
O meu favorito é o de queijo. Adoro acompanhar todo o processo, ver o bichinho ser jogado no tacho fumegante e ir ganhando volume, ondulações, a casquinha cada vez mais dourada e crocante. E, depois, tem aquela primeira mordida, um teste de perícia e agilidade: abocanha-se o cantinho do pastel e afasta-se o rosto bem rápido, para evitar o vapor escaldante que emana das entranhas da maravilha.
Recentemente, um concurso elegeu o pastel da Barraca da Maria, na Feira do Pacaembu (Praça Charles Miller, em frente ao estádio, terças e quintas, das 7h às 12:30h), como o melhor de São Paulo. A pasteleira Maria Kuniko Yonaha também senta praça nas feiras de Perdizes e da Mooca, e tem pastelarias em Pinheiros e na Casa Verde. Confira endereços e horários no site.
Todas as dicas de São Paulo (post índice)
Todas as dicas de São Paulo (post índice)
Feiras e Mercados pra visitar em viagem
Feira de São Joaquim
Avenida Oscar Pontes s/n, São Joaquim (Cidade Baixa), Salvador. De segunda a sábado, das 6h às 17h. Aos domingos, das 6h às 13.
Já avisei que não é para amadores, tá? Prepare-se para sentir calor e alguns cheiros nauseabundos, para se perder no labirinto de 35 mil metros quadrados de boxes e tabuleiros e para descobrir uma Bahia pobre, simples e afetuosa.
Se for de táxi, nem caia na besteira de dar o endereço que citei acima. Na Bahia, tem um monte de nomes oficiais de rua que não pegam (só ET chama o Campo Grande de "Praça Dois de Julho" e a Baixa do Sapateiros de "Rua JJ Seabra"). Peça apenas ao taxista pra lhe deixar na feira. Como fica do ladinho do terminal dos ferry boats que fazem a ligação com a Ilha de Itaparica, quem sabe você não conjuga os dois programas?
Dicas de Salvador
Para descobrir feiras e mercados mundo a fora, siga o link
Já avisei que não é para amadores, tá? Prepare-se para sentir calor e alguns cheiros nauseabundos, para se perder no labirinto de 35 mil metros quadrados de boxes e tabuleiros e para descobrir uma Bahia pobre, simples e afetuosa.
Se for de táxi, nem caia na besteira de dar o endereço que citei acima. Na Bahia, tem um monte de nomes oficiais de rua que não pegam (só ET chama o Campo Grande de "Praça Dois de Julho" e a Baixa do Sapateiros de "Rua JJ Seabra"). Peça apenas ao taxista pra lhe deixar na feira. Como fica do ladinho do terminal dos ferry boats que fazem a ligação com a Ilha de Itaparica, quem sabe você não conjuga os dois programas?
Dicas de Salvador
Viktualienmarkt
Uma quadra ao sul de Marienplatz, em Munique, Alemanha. De segunda a sexta, das 10h às 18h. Sábado, das 10h às 15h.
Uma das melhores lembranças que tenho de Munique é esse mercado ao ar livre, com suas infinitas tentações. Frutas, hortaliças, frios, embutidos, queijos...
O que você imaginar, tem lá — basta ver que eu encontrei jaca, vendida em fatias (!) e a peso de ouro, coisa dificílima de acontecer em feiras fora do Nordeste brasileiro.
Bom lugar pra tomar café da manhã, almoçar ou merendar. Mas reitero o aviso: pelamordedeus, não apalpe as frutas! Os feirantes ficam furiosos 😉
Para descobrir feiras e mercados mundo a fora, siga o link
Curtiu este post? Deixe seu comentário na caixinha abaixo. Sua participação ajuda a melhorar e a dar vida ao blog. Se tiver alguma dúvida, eu respondo rapidinho. Por favor, não poste propaganda ou links, pois esse tipo de publicação vai direto para a caixa de spam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário