10 dezembro 2025

Museu da Misericórdia de Salvador — uma janela para o Século 17

Loggia do Museu da Misericórdia de Salvador
Museu da Misericórdia: beleza, arquitetura colonial e uma vista arrepiante para a Baía de Todos os Santos

Quer dar um mergulho na história colonial de Salvador? Pois então você precisa visitar o Museu da Misericórdia, ali do ladinho do Elevador Lacerda — coisa de dois passos mesmo (150 metros, para ser jornalisticamente precisa) — e a pouco mais de 300 metros da famosa “Ladeira do Pelô”.

O Museu da Misericórdia funciona no palacete do Século 17 que abrigou a Santa Casa de Misericórdia da Bahia, a instituição de caridade mais antiga do Brasil, contemporânea da fundação de Salvador, em 1549.

Igreja da Misericórdia em Salvador
A Igreja da Misericórdia, incorporada ao museu, é um primor barroco

O conjunto de salões, pátios, cisterna, ossuário e capela (a belíssima Igreja da Misericórdia) reúne um acervo muito bacana de obras de arte, objetos litúrgicos, mobiliário, documentos (a maior coleção fora dos arquivos públicos da Bahia) e memórias do primeiro hospital a funcionar na cidade.

Bora passear no Museu da Misericórdia?

Por que ir ao Museu da Misericórdia de Salvador

Teto do Salão Nobre do Museu da Misericórdia em Salvador
A decoração do teto do Salão Nobre da Santa Casa é um escândalo de bonita

O casario colonial, a vista para a Baía de Todos os Santos e a farra no Pelourinho são atrações tão irresistíveis pra quem visita o Centro Histórico de Salvador que os museus da área acabam virando coadjuvantes no cenário.

Vista para a Baía de Todos os Santos do Museu da Misericórdia em Salvador
A Baía de Todos os Santos vista de uma janela do Salão Nobre

Mas são exatamente eles, os museus, que podem oferecer o contexto que vai tornar o mergulho no cenário muito mais saboroso. A visita ao Museu da Misericórdia é uma excelente oportunidade de ver por dentro e em detalhes um lindo edifício colonial — ir além das fachadas — e compreender um pouco mais da história de Salvador.

A Sala da Mesa tem mobiliário requintado, oratórios e um São Jorge sem dragão e sem cavalo

Sem contar que ele oferece uma vista deslumbrante para a Baía de Todos os Santos.

O que ver no Museu da Misericórdia

Museu da Misericórdia em Salvador
A Santa Casa foi fundada junto com Salvador, em 1549. O edifício atual é do Século 17

A Santa Casa da Misericórdia da Bahia foi fundada junto com Salvador, logo após a chegada de Tomé de Souza. O palacete que vemos hoje, o chamado Paço da Santa Casa, é um século mais antigo, datado da década de 1650.

O edifício é belíssimo, com salões de pé direito muito alto, amplas janelas e os pátios internos que recebem a brisa da Baía de Todos os Santos e aquela luz que só existe em Salvador. Só passear pelas dependências do Museu da Misericórdia já justificaria a visita.

"A Visitação" de José Joaquim da Rocha no Museu da Misericórdia de Salvador
A Visitação, de José Joaquim da Rocha, obra de 1780
Armário de farmácia no Museu da Misericórdia de Salvador
Armário de Farmácia do Século 19: o hospital da Santa Casa também produzia medicamentos

Prepare-se para pelo menos dois momentos uau!: a Igreja da Misericórdia, com seu magnífico altar rococó, e a chegada ao topo da escadaria monumental, quando a gente dá de cara com a Loggia (uma galeria aberta) e a sempre desbundante vista para a Baía.

Museu da Misericórdia em Salvador
Fonte em um pátio do Museu da Misericórdia

O edifício do Museu da Misericórdia passou por várias reformas, desde sua construção no Século 17. O resultado é um conjunto barroco elegantíssimo que hoje abriga um acervo de quase 4 mil peças. A coleção oferece um panorama interessante que vai desde o mobiliário e instrumentos da antiga Farmácia e do Hospital da Caridade até o primeiro automóvel a circular por Salvador.

As histórias contadas pelo acervo e pelo edifício são bem interessantes:

Cisterna do Museu da Misericórdia em Salvador
Cisterna do Museu da Misericórdia em Salvador
A cisterna foi construída no Século 18 para garantir o abastecimento de água ao hospital

⭐A Cisterna

Não perca a visita à Cisterna do museu, vestígio muito bem preservado das soluções arquitetônicas adotadas na Salvador colonial. Construída no século 18, ela garantia o abastecimento de água potável para a instituição e para o hospital — além de doar água a quem pedia, porque "dar de beber a quem tem sede" é um dos princípios da caridade.

Cisterna do Museu da Misericórdia em Salvador
Cisterna do Museu da Misericórdia em Salvador
A água da chuva era captada dos telhados. As paredes grossas garantem temperatura fresca na cisterna o tempo todo

A A estrutura da cisterna, de paredes grossas, assegura uma temperatura de ar condicionado no espaço onde a água da água da chuva era captada nos telhados e conduzida por canais de pedra até o reservatório subterrâneo. 

Ossuário do Museu da Misericórdia em Salvador
O Ossuário foi construído junto com a edição original do edifício, concluída em 1697

⭐ O Ossuário

Confesso que relutei a entrar no Ossuário do Museu da Misericórdia — criptas e catacumbas dialogam muito mal com minha asma. Mas a curiosidade venceu e valeu a pena, porque o espaço é surpreendentemente bonito e recebe a brisa do mar por uma janela de cara para a Baía de Todos os Santos.

Ossuário do Museu da Misericórdia em Salvador
Um pequeno nicho complementa a decoração do Ossuário

Desde o século 17, a Santa Casa detinha o monopólio dos serviços funerários de Salvador, Mas o ossuário era o espaço destinado aos restos mortais dos integrantes da instituição.

Uma bela escadaria liga o ossuário à Sala da Mesa (antiga sala de reuniões da Mesa Administrativa), fechada por um grande alçapão.

Alçapão que liga o Ossuário à Sala da Mesa no Museu da Misericórdia
A escadaria do Ossuário leva à Sala da Mesa e fica fechada por este alçapão

A Sala da Mesa

Na vasta Sala da Mesa, preste atenção ao piso de largas pranchas de madeira nobre, ao conjunto de arcazes entalhados em jacarandá, ao belo oratório dourado, ricamente trabalhado e à imagem de São Jorge (sem dragão e sem cavalo) que recebe o visitante logo na entrada.

Sala da Mesa do Museu da Misericórdia em Salvador
A Sala da Mesa exibe mobiliário requintadíssimo
Custódia na Sala da Mesa do Museu da Misericórdia em Salvador
A custódia do Século 19 é de prata e coberta por douramentos
Lavabo em mármore na Sala da Mesa do Museu da Misericórdia em Salvador
Lavabo barro em mármore
Sala da Mesa do Museu da Misericórdia em Salvador
Muito imponente, né?

A longa mesa central, cercada por cadeiras igualmente entalhadas, recria a atmosfera das sessões da administração da Santa Casa.

⭐A Botica (Farmácia)

A Botica reconstitui o ambiente em que eram preparados remédios, unguentos e compostos utilizados no atendimento médico de Salvador durante os primeiros séculos da cidade.

Antiga Farmácia no Museu da Misericórdia em Salvador
Vitrine da antiga farmácia do Museu da Misericórdia, com frascos, almofarizes (cumbucas para macerar medicamentos) e busto de frenologia (pseudociência que pretendia determinar a personalidade examinando as formas do crâneo) que ilustram práticas médicas e científicas dos séculos 19 e início do 20

Lá estão expostos utensílios usados na prática farmacêutica e na medicina dos séculos 18 e 19, como potes para armazenar e pilões com almofarizes, usados para triturar ingredientes.

A estrela desse espaço é o lindo armário de farmácia em madeira (daqueles que eu adoraria trazer pra casa), repleto de frascos de vidro rotulados.

Loggia do Museu da Misericórdia de Salvador
Loggia do Museu da Misericórdia de Salvador
A Loggia é um dos grandes momentos uau! do Museu da Misericórdia

⭐ A Loggia

A Loggia é possivelmente o espaço mais bonito do Museu da Misericórdia. Aberta para a Baía de Todos os Santos, essa espécie de varanda nobre era onde autoridades e visitantes ilustres eram recebidos.

Construída no século 17, ela tem arquitetura e decoração bem contidas — afinal, não dá pra competir com a vista. Mas seus arcos cobertos com discreta decoração e opiso em mármore têm uma elegância impressionante.

Tente não suspirar muito alto pra não atrapalhar o embasbacamento dos visitantes a seu redor 😊.


Salão Nobre do Museu da Misericórdia em Salvador
O Salão Nobre é bonitão, né?


⭐Salão Nobre

A foto mostra o Salão Nobre do Museu da Misericórdia, um dos ambientes mais espetaculares e emblemáticos do antigo palacete da Santa Casa da Bahia.

O espaço impressiona imediatamente pelo teto octogonal pintado, composto por painéis que representam cenas religiosas e alegóricas, emoldurados por talha dourada. No fundo do salão, o oratório monumental reforça o caráter cerimonial do ambiente, que era usado para recepções formais, atos solenes e reuniões de grande importância institucional.

Vista de uma janela do Salão Nobre do Museu da Misericórdia
Dá janela do Salão Nobre dá pra dar tchauzinho parar o Elevador Lacerda e o Palácio Rio Branco

As paredes são revestidas parcialmente por azulejos portugueses, e as amplas janelas de guilhotina, com portas verdes, inundam o salão de luz natural. O mobiliário de jacarandá — mesa extensa e cadeiras de espaldar alto — completa a atmosfera de imponência.

Hoje, o Salão Nobre é um dos pontos altos da visita ao museu, pela beleza arquitetônica, pelo valor histórico e pela sensação de grandiosidade típica das antigas casas de Misericórdia do período colonial.

Retrato de Ernestina Guimarães no Museu da Misericórdia
Retrato de Ernestina Guimarães, benfeitora da Santa Casa, pintado por Álvaro Valença
Salão dos Provedores do Museu da Misericórdia
Retratos dos provedores da Santa Casa são exibidos em uma galeria

⭐ Salão dos Provedores e Sala da Provedoria

A Sala dos Provedores é uma grande galeria que contorna o Salão Nobre e onde estão expostos os retratos dos antigos provedores da Santa Casa — figuras que administraram a instituição ao longo dos séculos e tiveram papel central na vida social, religiosa e assistencial da cidade.

Sala da Provedoria do Museu da Misericórdia de Salvador
Sala da Provedoria
 
Ao lado fica a Sala da Provedoria, o gabinete de trabalho dos provedores da Santa Casa.

Obra de Calazans Neto no Museu da Misericórdia
Calazans Neto: Castigar com caridade aos que erram
Fotografia de Christian Cravo no Museu da Misericórdia
Christian Cravo: Rogar a Deus pelos vivos e pelos mortos


⭐ Coleção de pinturas Obras da Caridade

Com obras de artistas como Calazans Neto, Maria Adair, Bel Borba e Juarez Paraíso, esta coleção apresenta as obras da caridade em interpretações contemporâneas, como Castigar com caridade aos que erram, de Calzans, e Rogar a Deus pelos vivos e pelos mortos, de Christian Cravo.

A Igreja da Misericórdia

Igreja da Misericórdia de Salvador
Joia do barroco baiano

A Igreja da Misericórdia é, com certeza, o ponto mais alto da visita ao museu. Ela é considerada uma das joias do barroco baiano (onde a concorrência não dá moleza) e seu altar rococó é de uma beleza arrepiante.

Construída a partir de 1654, em substituição a uma capela mais antiga, a igreja tem decoração interior riquíssima, herança do século seguinte, o 18, quando passou por uma reforma.

Igreja da Misericórdia de Salvador
As paredes da igreja exibem painéis de azulejos portugueses
Igreja da Misericórdia de Salvador
A decoração do forro é bonita demais
Igreja da Misericórdia de Salvador
O presépio deste ano tem o Pelourinho como pano de fundo
Igreja da Misericórdia de Salvador
A construção da Igreja da Misericórdia foi iniciada em 1654 e ela recebeu diversos acréscimos decorativos até o Século 18

O altar-mor marca todas as caixinhas do bingo barroco-rococó: tem entalhes intrincados, profusos douramentos, colunas salomônicas (retorcidas), volutas, anjos e querubins.

A peça é obra de artistas baianos da gema — um deles Antônio de Matos e Guerra, irmão de Gregório de Matos.

Mas o artista mais importante a trabalhar na Igreja da Misericórdia foi José Joaquim da Rocha (1737 – 1807), pontado como fundador de uma “escola baiana de pintura”.

Pintura de José Joaquim da Rocha no Museu da Misericórdia de Salvador
Pintura de José Joaquim da Rocha no Museu da Misericórdia de Salvador
Bandeiras pintadas por José Joaquim da Rocha em 1786 para a Procissão do Fogaréu, No alto, O Sepultamento. Acima, Ecce Homo

Rocha é também autor do teto da Igreja da Conceição da Praia, considerado uma das obras-primas do barroco brasileiro, e trabalhou para muitas irmandades religiosas.

O Museu da Misericórdia reserva uma de suas salas à exposição de obras de José Joaquim da Rocha, as bandeiras da Procissão do Fogaréu das Quintas-Feiras Santas, que ele pintou em 1786. São 14 telas reproduzindo sete cenas da Paixão de Cristo. A procissão parece ter sido a celebração religiosa mais importante entre as promovidas pela Santa Casa.

Visita ao Museu da Misericórdia - dicas práticas

Museu da Misericórdia de Salvador

Endereço: Rua da Misericórdia nº 6, Centro Histórico (entre a Praça Municipal e a Praça da Sé)

Horários: de terça a Sexta das 9h às 17h (entrada até as 16:30h). Sábados, das 9h às 16:30h. Fechado às segundas, domingos e feriados.

Ingresso: R$ 30. Estudantes e maiores de 60 anos pagam meia-entrada.

Dica: o museu oferece visitas guiadas, que podem ser muito interessantes pra quem quer mais contexto e histórias.

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