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Museu Nacional Machado de Castro: favorito instantâneo |
Coimbra é mestra na sedução. Quando eu pensei que ela já tinha conquistado até o meu último pedacinho de coração com sua paisagem, sua universidade e o sotaque mouro de suas ladeiras tortuosas, ela trata de me apresentar uma atração simplesmente imperdível, o Museu Nacional Machado de Castro.
O museu está instalado em dois edifícios integrados, o antigo Paço Arquiepiscopal de Coimbra (o palácio dos arcebispos) e um prédio moderno, a uma quadra do conjunto histórico da Universidade de Coimbra.
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Do terraço do museu, a vista privilegiada para a Sé Velha de Coimbra e o Rio Mondego |
E a localização é espetacular. O Museu Nacional Machado de Castro já começa a encantar pela vista maravilhosa de seu terraço, debruçado sobre as ladeiras e telhados que se esparramam morro abaixo, na direção do Rio Mondego.
Mas o melhor, mesmo, é o "recheio". O Museu Nacional Machado de Castro tem uma fabulosa coleção de arte sacra, reunida principalmente a partir de acervos de conventos e igrejas da cidade e arredores —, o que dá uma boa ideia do esplendor de Coimbra em séculos passados.
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A Deposição de Cristo no Túmulo, obra prima do escultor
normando João de Ruão, que viveu em Coimbra no Século 16 |
Altares, imagens, retábulos, objetos rituais de finíssima ourivesaria (como riquíssimas custódias)... Uma coleção belíssima.
Pra completar a festa oferecida pelo Museu Nacional Machado de Castro, tem o prazer de caminhar por uma autêntica construção do Século 1º, o Criptopórtico que sustentava o Fórum de Aeminium, a Coimbra romana, que está no subterrâneo do museu.
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Antes de entrar no museu, observe uma espécie de nicho voltado para o pátio. Foi lá que encontrei esses azulejos |
O Museu Nacional Machado de Castro foi uma imensa e agradabilíssima surpresa (nunca o tinha visto figurar na lista de atrações imperdíveis da cidade) que enriqueceu demais a minha passagem por Coimbra.
Quando você for a Coimbra, não perca o Museu Nacional Machado de Castro. Por enquanto, vamos dar um passeio comigo por lá?
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Os retratos de Trajano e de Agripina, achados arqueológicos em exposição no Criptopórtico Romano |
O que ver no Museu Nacional Machado de Castro em Coimbra
Reserve pelo menos três horas para curtir o Museu Nacional Machado de Castro como ele merece. Seu deleite vai começar bem antes de ver o acervo — duvido que você não dê uma parada no terraço do restaurante do museu para suspirar com a vista e curtir a brisa, enquanto beberica alguma coisa.
Quando visitamos o museu (depois de ver os edifícios históricos da
Universidade de Coimbra, outro programaço), aproveitamos para almoçar por lá. Já tinha passado um pouquinho da hora e só estavam sendo servidos sanduíches, mas recomendo.
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As galerias do Criptopórtico Romano são meio labirínticas,
mas eu nem me importei de me perder um pouquinho por elas 😊 |
⭐Criptopórtico - um pedaço da Coimbra romana
O roteiro do Museu Nacional Machado de Castro recomenda que a visita seja iniciada pelo Criptopórtico, estrutura que serviu de alicerce ao Fórum Romano de Aeminium e, posteriormente, ao Paço Arquiepiscopal de Coimbra, construído no mesmo local.
O Criptopórtico foi descoberto em escavações arqueológicas no subsolo do museu e está impressionantemente bem conservado. Quando você descer os degraus que dão acesso a ele, vai achar que pegou um túnel do tempo.
Antes de descer as escadas para o Criptopórtico, porém, observe a maquete da estrutura, exibida um pouco antes da descida, para compreender melhor o que vai ver cara a cara.
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Galerias do Criptopórtico romano e, mais abaixo, um marco
miliário |
Um criptopórtico ("pórtico oculto") é uma espécie de alicerce usado na arquitetura romana, podendo ser totalmente subterrâneo ou não. Suas galerias abobadadas geralmente eram usadas como silos para armazenar alimentos.
O Criptopórtico de Coimbra tem dois pavimentos para compensar o desnível do terreno — o Fórum Romano de Aeminium ficava bem na encosta do morro que se debruça sobre a parte baixa da cidade.
As várias galerias galerias do Criptopórtico de Coimbra são quase um labirinto —confesso que me perdi um pouquinho por lá, mas não tive do que reclamar.
Achados arqueológicos do período romano estão em exposição nas galerias do Criptopórtico.
São
lápides,
marcos miliários (colunas usadas para marcar as distâncias nas estradas romanas),
ornamentos e e
sculturas, como os
retratos de Trajano (imperador romano entre os anos de 89 e 117) e de
Agripina (mãe do imperador Calígula).
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Esses Capitéis românicos, do Século 12, foram encontrados em
igrejas da região de Coimbra |
O acervo do Museu Nacional Machado de Castro
Pra mim, existem duas alegrias na visita a um museu: o reencontro com velhos conhecidos (os artistas universalmente famosos) e ser apresentada a mestres maravilhosos que eu ainda não tinha tido o prazer de conhecer.
A visita ao Museu Machado de Castro me permitiu descobrir artistas magníficos, como o
Mestre Pero (Século 14),
Gil Eanes (Século 15, que trabalhou na ornamentação do
Mosteiro da Batalha), e
Diogo-Pires-o-Velho (Século 16).
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A coleção de arte sacra medieval do museu é espetacular.
O Santo André (esq), é de Diogo-Pires-o-Velho, À direita, a Virgem
do Ó (representação de Maria grávida), de Mestre Pero |
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O São Miguel Arcanjo (esq) é obra de Gil Eanes,
outro mestre consagradíssimo em Coimbra |
Foi também a oportunidade de finalmente ver ao vivo exemplares da obra de João de Ruão (Século 16) e Diogo-Pires-o-Novo (Século 16, apontado como maior expoente da escultura no período manuelino).
Todos eles — e muitos mestres anônimos — vão me acompanhar pra sempre, graças ao Museu Nacional Machado de Castro de Coimbra (a querida Coimbra).
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A impressionante coleção de altares, reunida em mosteiros e igrejas da região de Coimbra |
O forte do acervo do Museu Nacional Machado de Castro são as esculturas sacras — estátuas de santos e painéis, alguns monumentais, com cenas religiosas.
Coimbra foi pródiga nesta arte, já que está próxima a pedreiras de
calcário brando, bom de esculpir, como a famosa
Pedra de Ançã. Isso atraiu grandes artistas à cidade.
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A peça que eu mais amei em todo o acervo foi esse cavaleiro medieval, obra do Mestre Pero |
Mas também prepare-se para ver pinturas, tapeçarias, peças de mobiliário e uma coleção impressionante de joias e peças sacras, como a inacreditável Custódia do Sacramento, com 1,62 metro de altura.
Entre tantas maravilhas do Museu Nacional Machado de Castro, caí de paixão irrecorrível por um
cavaleiro medieval esculpido pelo Mestre Pero para o túmulo de Domingos Joanes, senhor de Touriz, que serviu ao primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques.
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A inacreditável Custódia do Sacramento é dois centímetros
mais alta que eu |
O cavaleiro do Mestre Pero está tão lindo e tão compenetrado em seus paramentos de batalha que eu quase não conseguia seguir adiante na visita.
Os restos de um claustro do Século 13, que pertencia à vizinha igreja de São João da Almedina, os personagens de uma Santa Ceia em tamanho natural, esculpidos em terracota pelo francês Hodart (Século 16) e pinturas preciosas do Século 15 — como A Senhora da Rosa e o Tríptico de Santa Clara também merecem ser vistos com muita atenção.
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Claustro da Igreja de São João da Almedina |
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A coleção de pinturas sacras do museu também é maravilhosa |
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A Senhora da Rosa, pintura mais antiga do museu, e
o Tríptico de Santa Clara |
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Obras de João de Ruão no Museu Nacional Machado de Castro |
Museu Nacional Machado de Castro
Endereço: Largo Dr. José Rodrigues, Alta de Coimbra (entre a Sé velha e a Universidade). As linhas de ônibus 28, 34 e 103 passam por lá.
Horários: de quarta a domingo, das 10h às 18h. Às terças-feiras, das 14h às 18h. Não abre às segundas.
Preços: Visita completa: €6. Para ver só o Criptopórtico, o ingresso custa € 3. Estudantes, menores de 12 anos e maiores de 65 pagam meia.
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A entrada do museu ainda conserva o pórtico do antigo Paço
Arquiepiscopal. À direita, a igreja de São João de Almedina |
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do aprendizado |
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