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| Zumbi dos Palmares na Praça da Sé, em Salvador |
São espaços que celebram a memória — a dor, a injustiça, mas também a potência criadora capaz de produzir verdadeiros milagres de beleza no chão do Ocidente.
Alguns desses museus nos colocam diante do gênio de Maria Auxiliadora (1935–1974), Rubem Valentim (1922–1991), Mestre Didi (1917–2013) e Heitor dos Prazeres (1898–1966), ou da vibração que nasce dos 12 compassos do Blues e do metrônomo do meu coração: o Rock’n’Roll.
Não vou repetir aqui os museus com temática musical, que já foram bastante falados aqui na Fragata (veja o post: 10 museus imperdíveis para quem ama música) ou mesmo sobre espaços dedicados às artes visuais de modo geral (tem um índice de museus e sítios arqueológicos completíssimo aqui no blog).
São janelas para histórias muitas vezes invisibilizadas, mas indispensáveis para compreender a humanidade e celebrar suas conquistas. No Dia da Consciência Negra, a Fragata lembra Zumbi dos Palmares e destaca alguns museus que merecem entrar no roteiro de viagem de quem se encanta com a ideia de um mundo mais justo.
Entre Memórias e Conquistas: Museus da Resistência Negra
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| O Muncab tem arte e documentação em seu acervo, além de realizar belas exposições temporárias |
MUNCAB – Salvador, Brasil
Museu da Escravidão – Liverpool, Inglaterra
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| Zumbi no Museu da Escravidão de Liverpool |
Em Liverpool, cidade histórica do comércio transatlântico de escravos, o Museu da Escravidão documenta o impacto humano desse comércio brutal. Relatos, obras de arte africana e registros históricos convidam o visitante a refletir sobre o passado colonial e a compreender a resiliência das pessoas que sobreviveram a esse sistema desumano.
O porto que assegurou a prosperidade à cidade dos Beatles teve um papel preponderante (e infame) no tráfico de pessoas da África para as Américas entre meados do século 18 e 1807 — ano em que o Reino Unido proibiu oficialmente o tráfico de pessoas.
Entre 1793 e 1807, o porto de Liverpool foi responsável por cerca de 84,7% de todas as viagens britânicas de tráfico de escravizados, já que a idade era a base dos armadores que financiavam e equipavam os navios negreiros.
Entre esses armadores estava um tal de James Penny, que dá o
nome a Penny Lane, a rua celebrizada na canção dos Beatles. Em anos recentes,
há um debate em Liverpool sobre a necessidade de mudar o nome da via: apagar o
nome do vendedor de gente ou preservar a referência à famosa canção?
Museu Kura Hulanda – Curaçao
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| Kura Hulanda, um museus que me pegou de jeito |
O Museu Kura Hulanda, em Curaçao, pega a gente de jeito. Primeiro, o visitante passeia pelo belíssimo acervo de esculturas em bronze, instrumentos musicais, cestaria e máscaras rituais – e fica imaginando como foi possível submeter gente com tão sofisticado patrimônio simbólico ao embrutecimento de ser tratado como ferramenta da economia colonial.
Aí vem a porrada final: a descida ao inferno de um porão de
navio negreiro, onde toda aquela riqueza e delicadeza artística era apagada de
vez.
Essa visita foi uma das coisas mais fortes e inesperadas que
já me aconteceram em uma viagem.
Museu Tula – Curaçao
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| O Museu Tula conta a história da revolta de escravizados em Curaçao, em 1795 |
Quarenta anos antes da Revolta dos Malés (1935), em Salvador, uma revolta de escravizados eclodiu em Curaçao em 1795, liderada por Tula Rigaud, contra o regime holandês. Inspirados pela Revolução Haitiana, iniciada quatro anos antes, os combatentes reivindicavam liberdade e melhores condições de vida. Em poucas semanas, centenas aderiram ao movimento, que foi duramente reprimido. Mesmo derrotada, a revolta tornou-se símbolo da luta por liberdade no Caribe.
O Museu Tula está instalado na Fazenda Kneip, onde Tula
viveu escravizado e onde estourou a revolta de 1795. É um museu pequeno e com
acervo modesto, mas fundamental para se entender que sim, sempre houve
resistência contra a escravidão.
Foi visitando o Museu Tula de Curaçao que descobri sobre
essa revolta, pouco conhecida no Brasil. Pesquisando a partir daí, conheci um
pouco sobre outras revoltas de escravizados nas Américas, que não foram poucas
e eclodiram na Jamaica, Barbados, Guadalupe, Estados Unidos, Cartagena e Havana,
por exemplo.
Museu Nacional dos Direitos Civis – Memphis, EUA
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| A resistência de Rosa Parks deflagrou um dos episódios mais importantes da luta contra a segregação racial nos EUA, o boicote aos ônibus de Montgomery, em 1955/56 |
O Museu Nacional dos Direitos Civis fica em Memphis por um motivo trágico: foi lá que Martin Luther King Jr. foi assassinado, em 4 de abril de 1969.
O fato de Memphis ser a cidade do Blues e do Rock’n’Roll
acaba contribuindo com mais um imperativo para essa visita: ninguém que ame esses
dois gêneros musicais definidores do Século 20 tem direito de passar ao largo
da história dos homens e mulheres que forjaram aqueles acordes.
O museu está instalado no antigo Lorraine Motel, palco do assassinato de King, é é uma instituição totalmente militante —necessariamente. O roteiro expositivo nos leva pela história da luta pelos direitos civis nos EUA — da escravidão à segregação e além.
É local de memória ativa, combinando artefatos,
vídeos, relatos e Marcos como o boicote aos ônibus em Montgomery, o movimento
“Viajantes da Liberdade”, a Marcha a Washington e a greve dos trabalhadores da
limpeza de Memphis estão representados, contextualizados e bem explicados.
O museu também evidencia como o racismo moldou o Sul dos EUA
e a cultura afro-americana.
Whitney Plantation – Louisiana, EUA
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| Memorial ao escravizados, na Whitney Plantation |
A Whitney Plantation fica a 80 km de Nova Orleans, em Wallace, na Luisiana. É um museu dedicado à história das pessoas escravizadas nas fazendas da região do Rio Mississippi e oferece uma perspectiva única entre as propriedades históricas da região.
A origem desse museu-fazenda são os relatos colhidos nos anos 1930 por uma frente de trabalho que engajou jornalistas e escritores no levantamento da história oral de sobreviventes da escravidão.
São memórias de pessoas com seus 80 ou 90 anos, que viveram a infância como escravizados em fazendas de cana e de algodão.
Essas crianças do passado voltam para conduzir os visitantes no percurso pelo
cotidiano das plantations e centrado em histórias individuais, nomes e rostos.
A visita guiada é muito bem roteirizada e comovente, essencial
para entender a humanidade daquelas crianças.
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