![]() |
| A fofíssima Amarante enfeitada para a Festa de São Gonçalo, seu padroeiro |
Bem no meio do caminho entre o Porto e Peso da Régua, a pequenina Amarante é um desses lugares que parecem criados para a gente desacelerar a alma. Com pouco mais de 11 mil habitantes e um centrinho histórico debruçado sobre o Rio Tâmega, a cidade tem o ritmo e o encanto de um Portugal de outros tempos.
Para enriquecer ainda mais sua viagem ao Porto e ao Vale do
Douro, siga essa diga da série roteiros criativos: Amarante é uma aposta
infalível.
Amarante fica a apenas 60 km do Porto, pela A4, e à mesma distância de Peso da Régua, na direção oposta. Dá para visitá-la em um dia, em um delicioso bate e volta, ou se permitir uma temporadinha na cidade pra a autêntica alma portuguesa que passeia pela cidade.
Fica melhor ainda se você organizar sua passagem por
Amarante durante as celebrações do padroeiro, São Gonçalo, a festa que abre os
calendário dos Santos de Junho em Portugal e é realizada sempre no primeiro
final de semana de junho.
Veja as dicas:
Roteiros criativos – Amarante
Leia mais:Amarante: um lugar para encontrar o coração de Portugal
Festas juninas em Portugal - um jeito especial de conhecer a terrinha
São Gonçalo e as origens de Amarante
![]() |
Erguida no século 16 sobre a antiga ermida do Beato Gonçalo,
a Igreja de São Gonçalo é o coração de Amarante. Combina elementos
renascentistas, maneiristas e barrocos |
A história de Amarante está indissociavelmente ligada ao seu
padroeiro. São Gonçalo — que, tecnicamente, é um beato e nunca foi canonizado —
viveu no século 13 como eremita às margens do Rio Tâmega, no local onde mais
tarde se ergueria a Igreja e o Convento de São Gonçalo. Diz a lenda que foi em
torno da sua pequena capela que a vila começou a se formar.
![]() |
A Varanda dos Reis (à direita) é uma galeria aberta voltada
para a praça. Esse tipo de elemento é muito raro em Portugal |
A atual igreja, construída no século 16, é uma das joias arquitetônicas do Norte português, com fachada renascentista, toques barrocos e uma curiosa Varanda dos Reis, uma galeria aberta voltada para a praça. No interior, o túmulo do santo é um dos pontos de devoção mais visitados da região, sempre cercado de flores e fiéis.
A ponte que fez história
A Ponte de São Gonçalo, principal cartão-postal da cidade,
atravessa o Rio Tâmega em uma curva elegante, ligando as duas margens do centro
histórico. A primeira ponte medieval resistiu por quase 500 anos até ser levada
por uma enchente no século 18.
![]() |
| Reza a lenda que a Ponte de Amarante foi construída pelo próprio São Gonçalo |
Reconstruída pouco depois, a ponte voltou à história durante as Guerras Napoleônicas, quando, em 1809, o povo de Amarante resistiu bravamente à invasão das tropas do general Soult, defendendo a ponte para conter o avanço das tropas invasoras.
Por 14 dias, militares e civis barraram o avanço francês — e, quando a cidade finalmente caiu, sofreu pilhagens e incêndios que
devastaram boa parte de seus edifícios. Pouco depois, as forças
anglo-portuguesas lideradas pelo Duque de Wellington expulsaram os invasores.
Hoje, nada lembra os horrores da guerra: a ponte é puro
romantismo, especialmente vista de um pedalinho no rio, com o reflexo do
casario antigo e o soar dos sinos da igreja.
O sossego e a arte de viver
O maior encanto de Amarante está na sua atmosfera serena. As
ruas de pedra, as fachadas coloridas e o vai e vem tranquilo de moradores fazem
o visitante se sentir em outro tempo. É o tipo de lugar que obriga o coração a
desacelerar — mesmo durante a Festa de São Gonçalo, quando a cidade ferve de gente,
música e comilança.
![]() |
| Procissão na Festa de São Gonçalo |
Essa celebração, que remonta ao século 13, mistura religiosidade e paganismo com uma alegria contagiante. Durante vários dias, quermesses, procissões, concertos e desfiles de grupos de bombos tomam o centro histórico. No auge da festa, há queima de fogos, missa solene e o desfile de bonecos gigantes, lembrando o carnaval de Olinda.
Entre as muitas tentações da festa estão os doces
conventuais e os irreverentes picõezinhos de São Gonçalo, pães doces em
formato fálico, símbolo de fertilidade herdado dos antigos ritos do solstício
de verão. O catolicismo oficializou a celebração, mas o sotaque pagão sobrevive
nas risadas e nos brindes partilhados à mesa.
Gastronomia que é pura tentação
![]() |
| Os doces típicos de Amarante são um escândalo de gostosos |
Amarante é um pequeno paraíso gastronômico. A mesa local transita do cabrito assado ao polvo, passando pelo inevitável bacalhau, servido em porções generosas nas varandas sobre o rio. O lendário restaurante Zé da Calçada é uma instituição — mas vale reservar com antecedência, especialmente durante as festas.
Para sobremesa, prepare-se para uma “orgia” de gemas e
açúcar: papos de anjo, foguetes, brisas do Tâmega e lérias são apenas algumas
das delícias conventuais que se encontram nas vitrines das confeitarias.
Veja este post: Doces portugueses: tentações com origem divina
Arte e natureza nos arredores
O antigo convento dominicano anexo à Igreja de São Gonçalo abriga
hoje o Museu Amadeo de Souza-Cardoso, dedicado ao pintor modernista nascido em
Amarante e considerado um dos grandes nomes da arte portuguesa do século 20. O
acervo é uma agradável surpresa, reunindo obras do artista e de contemporâneos
que dialogaram com o modernismo europeu.
![]() |
Museu Amadeo de Souza-Cardoso |
Para quem tem mais tempo, os arredores também valem o passeio. A Serra do Marão, com suas curvas dramáticas e miradouros sobre o vale, oferece trilhas e panoramas de tirar o fôlego — mas convém ir com guia ou GPS, pois as estradinhas parecem feitas para cabras e ovelhas.
Como chegar a Amarante
De Lisboa a Amarante, são 360 km pela A1 até o Porto e
depois pela A4. As estradas são ótimas, embora pedagiadas.
De ônibus, a empresa
Rodonorte opera várias partidas diárias tanto de Lisboa (Estação Oriente)
quanto do Porto (viagem de 50 minutos, cerca de €7,90).
Veja os outros posts desta série:
Roteiros criativos - Antigua Guatemala desafiou os terremotos e o esquecimento
Roteiros criativos - Bolonha, a joia entre Florença e Veneza
Roteiros criativos - Dürnstein e a Wachau, uma escala encantadora entre Viena e Salzburgo
Roteiros criativos - Winchester, a cidade onde a Inglaterra começou
Roteiros criativos - Rodes, o melhor da Grécia sem atropelos
Roteiros criativos - Rouen, a escapada que vai enriquecer sua viagem a Paris
Roteiros criativos - Villa de Leyva, muita história pertinho de Bogotá
.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)
Nenhum comentário:
Postar um comentário