Visita à Catedral Basílica de Salvador — história e arte de um tesouro do Século 17

A Catedral Basílica de Salvador é apenas deslumbrante

Tem uma personagem importantíssima em Salvador que há muito tempo merecia um post só pra ela aqui na Fragata. A Catedral Basílica de Salvador é um tremendo tesouro do Século 17 que acaba recebendo muito menos atenção do que merece.

A antiga Igreja dos Jesuítas, inaugurada em 1672 (a quarta edificação no mesmo local) é uma joia barroca pra deixar qualquer um de queixo caído e merece estar no topo da lista de atrações de qualquer roteiro no Centro Histórico de Salvador.

Veja as dicas e não perca essa beleza na sua próxima visita à minha cidade:

Leia também: Roteiro no Centro Histórico de Salvador

Catedral Basílica de Salvador

Às vezes a gente deixa de prestar atenção à elegante fachada da catedral, no meio do burburinho do Terreiro

Quem caminha pelo Centro Histórico de Salvador, na muvucada trilha que liga a Praça Municipal — onde está o Elevador Lacerda — ao Pelourinho, talvez deixe de prestar atenção à sóbria fachada da Catedral Basílica, que preside o Terreiro de Jesus.

Não devia, porém: aquela fachada de franco sotaque maneirista é muito mais do que a embalagem da deslumbrante decoração barroca do interior da Catedral.

A Catedral foi construída em pedra de lioz, usadas nas mais importantes construções portuguesas dos dois lados do Atlântico

Ela própria, a fachada, já é um primor. Talhada na famosa e elegantíssima pedra de lioz, trazida de Portugal como lastro das embarcações que cruzavam o Atlântico no Século 17, carrega em cada bloco a memória dessas travessias. 

O processo era meio que uma Ikea do tempo das grandes navegações: os blocos vinham cortados e numerados para serem montados pelo freguês de além-mar — a Igreja da Conceição da Praia foi erguida pelo mesmo sistema.

A pedra de lioz, um tipo nobre de calcário extraído na região de Sintra, destinava-se às obras mais prestigiosas da Metrópole e das colônias: o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém, em Lisboa, o Convento de Mafra e o Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro.

Chamar de preciosa é eufemismo, né?

Oficialmente chamada de Catedral-Basílica Primacial de São Salvador, a igreja é sede da primeira Arquidiocese do Brasil — daí o arcebispo de Salvador ser o primaz do país. Exerce essa condição desde o Século 18, quando “desbancou” a velha Sé Seiscentista, que acabaria demolida na década de 1930 para facilitar a passagem do bonde na área.

Da próxima vez que você passar pelo Terreiro rumo à Ladeira do Pelô, não esqueça de parar para uma visitinha a essa velha e belíssima senhora que é a Catedral Basílica.

O que ver na Catedral Basílica de Salvador

O teto da Catedral é magnífico, com entalhes e douramentos

⭐A fachada
Além da beleza da pedra de lioz, preste atenção às figuras sobre as portas de acesso à Catedral. Lá estão estão as imagens de Santo Inácio de Loyola (fundador da Ordem dos Jesuítas), São Francisco de Borja (braço direito de Loyola na ordem) e São Francisco Xavier, também jesuíta, que é o padroeiro de Salvador — pois é, nem Senhor do Bonfim deu conta do corporativismo dos jesuítas, que emplacaram um dos seus como patrono da cidade para onde eles trouxeram o cristianismo.

Altar-mor da Catedral, do Século 17

⭐ O altar-mor

O belo altar-mor da Catedral Basílica é do começo do Século 17, obra de mestres entalhadores e pintores baianos como Eusébio de Matos e Guerra, irmão do poeta Gregório de Matos. É uma linda obra com os douramentos, entalhes, anjos e querubins de praxe. A imagem principal no altar é uma tela representando Cristo como o Salvador.

Altar dos Santos Mártires, um dos raros exemplares em estilo maneirista ainda existentes no Brasil

⭐ As capelas laterais

Patrocinadas por irmandades da elite da época, as capelas laterais da Catedral variam entre o maneirista (como o Altar dos Santos Mártires, um dos raros exemplares deste estilo ainda encontrados no Brasil) e o barroco. são pequenas joias barrocas. 

O Altar de Santo Ignacio de Loyola é um dos poucos que mantêm as feições originais

As capelas da Catedral passaram por muitas reformas ao longo do tempo e apenas três conservam suas características originais (as de Santa Úrsula, São Francisco Xavier e Santo Inácio de Loyola).

Teto, piso, mobiliário e altares: tudo é um escândalo de lindo na Sacristia

 ⭐ A sacristia

Na Sacristia da Catedral, preste atenção aos três altares barrocos de mármore multicolorido trazido da Itália, e às imensas arcazes (espécie de gaveteiros) de jacarandá com preciosos entalhes e delicada marchetaria, com detalhes em marfim e madrepérola e às pinturas com cenas do antigo testamento.

O teto da sacristia também é deslumbrante.com representações de mártires e apóstolos jesuítas e motivos florais em estilo maneirista. 

Sacristia da Catedral Basílica de Salvador

Os Jesuítas em Salvador

A Companhia de Jesus foi a primeira ordem religiosa a chegar ao Brasil, em 1549, na comitiva de Tomé de Souza — primeiro governador-geral e fundador de Salvador, a primeira capital da colônia.

Os Jesuítas estabeleceram um colégio e uma capela fora dos muros da cidade, embriões do conjunto arquitetônico que hoje reúne a Catedral Basílica e o Memorial da Faculdade de Medicina.

O Terreiro de Jesus ganhou seu nome dos Jesuítas

Diante dessas construções estende-se o hoje movimentadíssimo Terreiro de Jesus, que parece fervilhar de turistas todos os dias do ano — mas ainda é possível imaginá-lo como um pacífico retângulo gramado diante do conjunto, à maneira do famoso Quadrado de Trancoso.

Fundado em 1553, o Colégio dos Jesuítas de Salvador tornou-se um aparelho cultural estratégico para os portugueses na América. Ali, os missionários ensinavam letras, filosofia, teologia e artes práticas a meninos indígenas, mestiços e filhos da elite colonizada.

Detalhe do Memorial de Medicina. O edifício, muito alterado ao longo do tempo, foi a sede do Colégio dos Jesuítas

Entre seus alunos figurou Gregório de Matos (1636–1696), o Boca do Inferno, que usou a sólida erudição adquirida ali para fustigar elites, autoridades e religiosos de sua época.

Outro aluno ilustre foi o futuro Padre Antônio Vieira (1608–1697). No colégio, Vieira estudou gramática, retórica, filosofia e teologia. Mais tarde, proferiu muitos dos seus célebres sermões no púlpito da igreja que viria a se tornar a Catedral — denunciando corrupção administrativa (em tom bem distante do de Gregório de Matos) e defendendo indígenas e pessoas escravizadas.

O fim do Colégio dos Jesuítas — e a mudança de status de sua igreja — foi selado com a expulsão da Companhia de Jesus do Império Português, em 1759, no reinado de Dom José I, sob a forte influência do ministro Marquês de Pombal, que via os Jesuítas como um obstáculo político e econômico.

Incorporado ao patrimônio da Coroa, o Colégio dos Jesuítas de Salvador acabou se tornando sede da Escola de Cirurgia, fundada em 1808 com a chegada da Família Real ao Brasil, embrião da primeira Faculdade de Medicina do país. A Igreja dos Jesuítas, como já sabemos, seria elevada a Catedral de Salvador em 1765.

Catedral Basílica de Salvador - dicas práticas

 Endereço: Terreiro de Jesus s/n

 Horários: de terça a sábado das 9h às 17h. 

Ingresso: R$ 10

Dica: essa visita combina direitinho com o Museu da Misericórdia, outra joia do Século 17 que fica a apenas 230 metros de distância.

Todas as dicas de Salvador aqui na Fragata

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