Delfos, o centro do mundo

Delfos, na encosta do Monte Parnaso, foi o centro espiritual da cultura helênica. Na imagem, o Templo de Apolo, dono da casa

Atualizado em julho de 2024

Mais bacana do que uma visita ao Santuário de Delfos só duas visitas ao lugar que foi o centro espiritual da Grécia na Antiguidade.

Na minha primeira viagem à Grécia, em 2012, já tinha amado muito a passagem por Delfos, que sempre foi um destino inegociável no meu roteiro pelo país. Visitei o Santuário de Apolo com um tour em grupo — uma alternativa fácil do que depender do transporte público.

No retorno a Delfos, em maio de 2024, tive muito mais tempo pra explorar o Santuário de Apolo no meu ritmo e pra ver com calma o sensacional Museu Arqueológico de Delfos, que não tinha dado tempo de ver anteriormente — vantagens de quem viaja de carro e faz seus horários.

O Templo de Apolo era a construção mais importante do Santuário de Delfos

Rever Delfos, com mais uma dúzia de anos de leituras e de vida, foi ainda mais emocionante do que a primeira vez. Num país sempre tão impressionante e apaixonante como a Grécia, Delfos é simplesmente top de linha entre tantas maravilhas.

Veja como foi a visita ao Santuário de Delfos, o centro da espiritualidade da Grécia Antiga:

O Monte Parnaso era uma das moradas de Apolo e das nove musas, ninfas que inspiravam a criação artística e científica da humanidade

Delfos, Grécia

Como visitei Delfos

A escolha da excursão na primeira visita (que também incluiu Meteora e uma passada pelas Termópilas) foi o jeito de driblar o cansaço de final de viagem e ganhar tempo nos deslocamentos. 

Por conta própria, eu até teria conseguido visitar Delfos e Meteora com transporte público, no tempo que me restava na Grécia. Mas teria sofrido demais com a correria e as baldeações. Delfos está a mais de 200 km de Atenas (uma viagem que, de carro, leva 2h40 e pode chegar a 6 horas, de ônibus).

Na segunda visita, viajando de carro, a visita foi mais relax. Cheguei a Delfos vindo de Cefalônia, um esticão de 200 km desde o porto de Killini, no Peloponeso, depois de 1h20 na travessia entre a ilha e o continente. 

Cheguei no meio da tarde, pernoitei em Aráchova (cidadezinha que é uma espécie de Campos do Jordão grega e fica a apenas 12 km do sítio arqueológico).

Saiba mais:
Dicas práticas de Delfos
Roteiro de carro na Grécia (viagem de 2024)
Roteiro na Grécia, o país azul (viagem de 2012)

O Monte Parnaso é a segunda montanha mais alta da Grécia, com 2.457 metros. Apenas o Monte Olimpo, morada dos deuses, é mais alto (2.917 metros)

Visita ao Santuário de Delfos

À sombra  do Monte Parnaso — com 2.457 metros, é a segunda montanha mais alta da Grécia e morada das Musas, segundo a tradição — uma série de terraços abrigam os vestígios do complexo religioso de Delfos.

As origens do Santuário de Delfos remontam ao Século 14 a.C. Durante a Civilização Micênica, as encostas do Parnaso abrigaram um santuário dedicado a Gaia, a Mãe Terra, mais tarde convertido em local de culto a Apolo e sede do famoso Oráculo de Delfos.

Na visita ao Santuário de Delfos, os viajantes sobem o mesmo Caminho Sagrado que era percorrido pelos peregrinos da Antiguidade

Para compreender melhor o que se vê em Delfos, é importante contratar um guia ou munir-se de um bom livro informativo sobre o lugar, já que ele não é tão bem sinalizado quanto Epidauros ou Micenas, por exemplo.

A desvantagem de ir ao Santuário de Delfos com uma excursão é o horário da visita e o tempo limitado para explorar o sítio arqueológico. Faça o possível pra ir por conta própria, ditar seu ritmo e saborear o lugar com calma.

E tenha em mente que essa é uma visita fisicamente desafiadora: você vai fazer como os gregos antigos e subir o Caminho Sagrado, uma sucessão de rampas em ziguezague que passa diante das estruturas do Santuário de Apolo. Até que o percurso não é tão íngreme, mas praticamente não há sombras pra refrescar o calor.

Na entrada do Sítio Arqueológico de Delfos, até que tive uma esperançazinha de sombra durante a visita. Mas a maior parte do tempo, caminhei com Apolo, o dono da casa, desabando sobre minha cabeça 

Outro detalhe: as excursões saem de Atenas de manhã cedo e chegam a Delfos perto da hora do almoço, horário em que Apolo, o deus sol, já está rodando a baiana lá no alto do céu. Fazer fotos com o sol a pino nunca tem o melhor resultado. 

Se você fizer a visita ao Santuário de Delfos por conta própria, aproveite que a bilheteria abre às 8 horas (8:30h, no inverno) e vá cedinho, para para não ter que se acotovelar com os muitos grupos de turistas e não ser torrada pelos exuberantes raios de Apolo.

Em qualquer hipótese, leve sempre chapéu, protetor solar e garrafinha d'água para estar na presença fulgurante do dono da casa sem ter uma insolação.

O Templo de Apolo era o local onde as pitonisas tinham suas visões do futuro

Conta a lenda que duas águias, comandadas por Zeus, teriam partido para dar a volta à Terra. Uma voou para o Leste, a outra para o Oeste. Encontraram-se em Delfos, “o centro do mundo”. Hoje, sabe-se que Delfos fica exatamente no local onde as placas tectônicas da Europa e da África se chocam, o que explicaria os constantes terremotos e também os misteriosos vapores inspiradores das pitonisas que falavam pelo Oráculo, decidindo batalhas, conquistas e a sorte das cidades gregas

Depois de atravessar a portaria do Santuário de Delfos, prepare-se para subir. E muito. A visita a Delfos consiste, basicamente, em seguir o Caminho Sagrado, uma série de rampas e escadarias que levam Templo de Apolo, local mais importante do Santuário de Delfos.

Percorrer essa trilha era um ritual obrigatório na Grécia Antiga, uma reverência aos deuses que antecedia a consulta à Pitonisa, espécie de sacerdotisa que expressava o Oráculo.

A subida pelo Caminho Sagrado deveria ser feita sempre no nono dia de cada mês. Antes de ouvir o Oráculo, o consulente deveria sacrificar um animal. Ao longo do caminho, ficavam expostos ex-votos e oferendas das cidades ao santuário, em construções que lembravam pequenos templos.

O Ônfalo ("umbigo", em grego) de Delfos marca o local onde as águias enviadas por Zeus se encontraram e assinalaram o centro do mundo

O Caminho Sagrado é uma sucessão de rampas que vai levando o visitante até o topo do santuário

Trinta e quatro séculos depois da devoção ao deus sol ter conquistado aquela encosta do Monte Parnaso, subir a trilha em ziguezague ainda tem o sabor de cumprir um ritual.

Seguindo o Caminho Sagrado, adiante do Templo de Apolo, chega-se ao Anfiteatro (um dos mais bem conservados da Grécia) onde eram realizadas as competições de música em honra de Apolo.

Os famosos Jogos Pítios, torneio esportivo quadrienal, eram disputados no Estádio, que fica ainda mais para o alto da elevação onde foi construído o Santuário de Delfos. Os jogos Pítios só eram suplantados em importância pelos Jogos Olímpicos (em Olímpia), em honra de Zeus, e rivalizavam em relevância com os Jogos Panatenaicos, em Atenas, em homenagem a Palas Atena.

O complexo religioso abrigava pequenos edifícios onde eram guardados ex-votos e oferendas enviadas ao Oráculo por cada cidade grega. Este é o Tesouro dos Atenienses, erguido para celebrar a vitória contra os persas em Maratona. Foi parcialmente reconstruído pelos arqueólogos para dar aos visitantes uma noção dessas estruturas

Apesar do sistema de rampas, a subida do Caminho Sagrado de Delfos é árdua. A paisagem, porém, vai ficando cada vez mais bonita.

Por mais alto que se chegue, lá está sempre o Monte Parnaso, erguendo-se sobre nós, imponente, olhando para os mortais, do alto do Liákoura, seu cume mais elevado. 

O anfiteatro de Delfos: as representações teatrais tinham um papel importante na expressão da espiritualidade helênica

Em Delfos também eram realizados os Jogos Pítios,  que só perdiam em importância, no mundo helênico, para os Jogos Olímpicos

De Leônidas de Esparta a Édipo, de Sócrates a Héracles, não há personagem grego, real ou maravilhoso, que não tenha buscado humildemente as predições da Pitonisa no Oráculo de Delfos.

Caminhar por Delfos é como ouvir fragmentos dos medos, esperanças e sonhos de todos esses heróis, sábios e semideuses. É poder imaginar que, por maior que fossem, eles não sabiam tudo, que também ficavam vulneráveis e, portanto, mais perto de mim.

Em Delfos também eram realizados os Jogos Pítios, que só perdiam em importância, no mundo helênico, para os Jogos Olímpicos

Conta a lenda que Apolo conquistou Delfos como local para sua adoração após matar a serpente Python, que guardava a entrada do Templo de Gaia. Sob a forma de um golfinho, o deus sol teria guiado os cretenses até esse lugar para que eles construíssem seu templo

Eu nem precisei consultar a Pitonisa: cada pedacinho de Delfos estava me dizendo que eu ia voltar lá. E quem sou eu para discutir com a sabedoria de pedras milenares? (Pois é, voltei mesmo e quero voltar mais).

Como é a excursão a Delfos

Pelo site Get Your Guide, contratei um tour de dois dias com a Keytours, partindo de Atenas, para visitar Delfos e Meteora.

Delfos foi o maior símbolo da unidade dos povos helênicos: independentemente da rivalidade que havia entre as cidades, elas eram unânimes na reverência ao poder do Oráculo

Viajar em excursão não é a minha praia, mas, depois de 25 dias na estrada, confesso que estava com uma preguiça louca de me virar sozinha.

Descobri o Get Your Guide pelo Tripadvisor e achei o serviço bem prático e eficiente: eles têm uma lista enorme de opções de tour, com diversas agências.

Basta escolher, fazer a pré-reserva e em menos de 24 horas vem a confirmação, para pagamento com cartão de crédito, e o voucher para ser apresentado à empresa que vai fazer o tour.

Dei sorte com meus companheiros de excursão a Delfos. Os 12 integrantes do meu grupo (da Índia, Itália, EUA e Argentina) eram pessoas muito bacanas, interessadas em História e Arqueologia e com um jeito de viajar parecido com o meu.

A convivência foi excelente, o papo no ônibus e nas paradas para as refeições era ótimo e acabei me divertindo muito mais do que poderia imaginar.

Nossa guia, Zuli, foi sempre solícita, fornecendo informações relevantes sobre os lugares visitados e a Grécia, em geral.

Claro que não é a maneira ideal de viajar — não deu para ver o Museu de Delfos, por exemplo.

 O que perdi em autonomia, porém, ganhei com o conforto de não ter que me preocupar com a mala, com os deslocamentos e tudo mais.

Se estivesse um pouquinho menos cansada, jamais optaria pela excursão. Mas, para o finzinho da viagem, quando a gente já está louca para jogar a mala de uma ribanceira, foi uma ótima ideia.

O tour de dois dias custa €145 e inclui o transporte (que apanha os passageiros no hotel), ingressos para o sítio arqueológico de Delfos e dois mosteiros em Meteora, refeições e hotel três estrelas em Kalambaka (Meteora).

Entre Delfos e Meteora, há uma parada de cerca de uma hora nas Termópilas, para uma breve visita ao monumento que homenageia Leônidas e os 300 de Esparta e às fontes termais que dão o nome ao lugar.

Visita a Delfos por conta própria

Delfos (Delphi) está a 200 km de Atenas, na Fóquida (Grécia Central), região que “olha” para o Peloponeso da margem Norte do Golfo de Corinto.

A moderna cidade de Delfos, quase ao lado do sítio arqueológico, é bem pequenininha e vive basicamente do movimento de turistas que visitam o santuário.

Há também a alternativa de hospedagem em Arachova, cidade turística, “de serra”, a 12 quilômetros do santuário de Delfos. Experimentei agora, em 2024, e gostei. Fiquei no Hotel Hani Zemenou, na estrada que liga Delfos à cidade, pagando uma diária de € 39 em apartamento duplo, com banheiro privativo e varanda.

De Atenas, os ônibus para Delfos (Delphi) partem do Terminal B (veja como chegar lá e outras dicas de transporte em Atenas e arredores). 

As passagens de Atenas para Delfos custam € 16,50 e a viagem leva cerca de três horas.

No final do Século 19, os vestígios de Delfos começaram a ser escavados, sob a Vila de Kastro, totalmente removida pelo trabalho arqueológico. Junto com ela, foram perdidos importantes registros históricos

Sítio Arqueológico e Museu de Delfos

O Sítio Arqueológico de Delfos e o Museu de Delfos podem ser visto diariamente, das 8h às 20 horas (ás terças, têm horário reduzido, das 10h às 17h. Consulte o site do Ministério da Cultura da Grécia para ver os feriados em que não há visitas.

O Museu de Delfos é considerado um dos mais importantes da Grécia. Exibe achados arqueológicos da área, como os objetos doados pelas cidades ao santuário, antes guardados nos tesouros do templo.

Nem precisei consultar a Pitonisa pra saber que vou voltar a Delfos

O ingresso para o Museu e Sítio Arqueológico de Delfos custa € 12.

Mais sobre Delfos

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