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A famosa escadaria ajardinada de Montmartre, aos pés da
Basílica de Sacre Coeur |
Por mais de 100 anos Montmartre foi sinônimo de arte, boemia e vanguarda. Desde os primórdios da escola Impressionista de Pintura até os anos 60 do Século passado, esse pedacinho de Paris atraiu gente pouco convencional que criou coisas geniais.
⭐ Cartão de visitas Art Nouveau em Montmartre
⭐Le Bateau Lavoir
Place Émile Goudeau
Tenho um afeto especial pelo predinho apelidado de Le Bateau Lavoir, uma residência artística avant la lettre onde moraram ou acamparam gênios do quilate de Pablo Picasso, Juan Gris, Matisse, Braque, Modigliani e Gertrude Stein — imaginem a farra...
A casa já caía aos pedaços quando começou a ser ocupada por pintores, escritores e atores, no final do Século 19.
Bateau-lavoir (barco lavanderia) era uma invenção tipicamente parisiense, embarcações ancoradas às margens do Rio Sena onde os moradores da cidade levavam suas roupas para lavar. O apelido do casarão veio de sua condição bem detonada e dos rangidos que a construção fazia nas noites de vento forte.
⭐ Place du Tertre
⭐ Moulin de la Galette
83 Rue Lepic
Foram os impressionistas, anteriores à comunidade do Bateau Lavoir, os responsáveis por colocar Montmartre no mapa do imaginário boêmio. Esses artistas começaram a frequentar as encostas da butte (colina) para pintar e farrear nas tabernas e cabarés locais.
Um dos mais famosos ainda está de pé, o Moulin de la Galette, do Século 17, que foi um moinho de verdade até ser transformado em um restaurante, lugar de alegres bailes e reuniões populares — Renoir, Pisarro e Toulouse-Lautrec pintaram essas cenas.
A tela de Renoir O Baile no Moulin de la Galette, estrela do Museu D'Orsay, está para o Impressionismo como as Demoiselles de Picasso estão para o Cubismo. O quadro de Picasso é um dos destaques do MoMA de Nova York.
Quantos bairros do planeta podem se gabar de terem inspirado as telas inaugurais de duas das escolas de pintura mais importantes e instigantes que a humanidade já criou? (Embora o mote das Demoiselles tenha sido um bordel da Carrer de Avinyó, em Barcelona).
O Moulin de la Galette já não ocupa sua sua localização original em Montmartre. Está instalado agora no meio de uma ladeira sempre cheia de turistas, que o fotografam sofregamente, talvez sem lembrar que aquelas pás de moinho já posaram para Van Gogh.
O restaurante que usa o Moulin de la Galette como adorno não tem nada a ver com a velha taberna, mas quando você der de cara com esse velho senhor, parado naquela esquina de Montmartre, faça ao menos uma paradinha para prestar seus respeitos. Aquelas pás, hoje quietinhas, são parte da História.
⭐ Basílica de Sacre Coeur
Como chegar a Montmartre
Um passeio por Montmartre leva o viajante a encontrar as memórias de grandes artistas e o clima romântico de um tempo que ficou para trás.
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O melhor jeito de explorar Montmartre é ir desvendando as
ladeiras e escadarias, sem pressa de chegar a algum lugar específico |
Gosto de subir a pé até as alturas de Montmartre, meio que tentando me perder por suas ladeiras e escadarias.
É assim que aos pouquinhos, vou traçando meu mapa afetivo do bairro a cada visita. Uma rota que nunca é igual à anterior — e que, por isso mesmo, tem sempre as alegrias do reencontro e da descoberta.
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Uma soleira que é a cara de Montmartre e o horizonte típico
do bairro |
O que nunca falta no meu passeio por Montmartre são as paradinhas para admirar os ícones da boemia e da intensa produção artística do bairro.
Antes de subir, vale passar pelo famoso cabaré Moulin Rouge, no Boulevard de Clichy.
Depois, tem o Au Lapin Agile (na Rue des Saules), uma taberna/cabaré frequentada (e pintada) por Picasso, o Theatre de l'Atelier (na Place Charles Dullin), o primeiro do bairro, inaugurado em 1822, e Le Bateau Lavoir, onde viveu Picasso.
Antes de subir, vale passar pelo famoso cabaré Moulin Rouge, no Boulevard de Clichy.
Depois, tem o Au Lapin Agile (na Rue des Saules), uma taberna/cabaré frequentada (e pintada) por Picasso, o Theatre de l'Atelier (na Place Charles Dullin), o primeiro do bairro, inaugurado em 1822, e Le Bateau Lavoir, onde viveu Picasso.
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Montmartre ainda abriga muitos teatros independentes. O
decano do bairro é o Theatre de L'Atelier (no alto), inaugurado em 1822, e que
segue em plena atividade |
No mapa que está no final do post, marquei todos os lugares mencionados nesse roteiro por Montmartre. Mas minha sugestão é que você o use apenas como orientação inicial e descubra os seus encantos no bairro.
A graça de Montmartre é explorar e descobrir as muitas referências importantes do bairro (algumas assinaladas com plaquinhas do Patrimônio Histórico francês). Vamos passear?
Roteiro para um passeio em Montmartre
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Art Noveau da gema: no alto, a Igreja de Saint-Jean de
Montmartre e, acima, a Estação Abbesses do Metrô, uma das portas de entrada do
bairro |
⭐ Cartão de visitas Art Nouveau em Montmartre
Montmartre já é bacana na chegada, com os traços Art Nouveau da Estação Abbesses do metrô e na fachada de Saint Jean de Montmartre, de 1904, que fica bem em frente à estação.
É o cartão de visitas exato para um bairro que encarna tão bem o entusiasmo e a efervescência da virada do Século 19.
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Le Bateau Lavoir: Picasso morou aqui. Modigliani e Matisse eram
visitantes assíduos |
Place Émile Goudeau
A casa já caía aos pedaços quando começou a ser ocupada por pintores, escritores e atores, no final do Século 19.
Bateau-lavoir (barco lavanderia) era uma invenção tipicamente parisiense, embarcações ancoradas às margens do Rio Sena onde os moradores da cidade levavam suas roupas para lavar. O apelido do casarão veio de sua condição bem detonada e dos rangidos que a construção fazia nas noites de vento forte.
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Dos impressionistas à street art, Montmartre tem um longo
caso de amor com a pintura |
Quem hoje passa distraído pelo edifício de proporções modestas do Bateau Lavoir corre o risco de nem se tocar que ali era a sede do Parnasso Belle Époque, o berçário do Cubismo, onde Pablo Picasso pintou Les Demoiselles d'Avignon, considerado o marco inaugural dessa escola…
O Bateau Lavoir foi bem danificado por um incêndio, nos anos 70, e posteriormente reconstruído. Apesar disso, não tem nada de cenográfico.
O Bateau Lavoir foi bem danificado por um incêndio, nos anos 70, e posteriormente reconstruído. Apesar disso, não tem nada de cenográfico.
⭐ Place du Tertre
Apesar da fama boemia, a origem de Montmartre é das mais piedosas (o povoado surgiu ao redor de uma abadia beneditina do Século 12, cujas ruínas deram lugar a um vinhedo, ainda vivo).
A bucólica comunidade de Montmartre, porém, foi convertida à boemia ainda antes da turma de Picasso aparecer por lá.
A bucólica comunidade de Montmartre, porém, foi convertida à boemia ainda antes da turma de Picasso aparecer por lá.
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A Place du Tertre é o coração de Montmartre. Minha
curiosidade é como os artistas da praça conseguem pintar, no meio da muvuca 😊 |
A simplicidade da vida rural da pequena povoação tinha um tremendo apelo entre intelectuais e artistas do Século 19, atraídos também pela singeleza dos bailes e festejos dos trabalhadores que frequentavam a área.
Um pouco desse clima (talvez estilizado demais) ainda suspira na Place du Tertre, o coração de Montmartre, sempre congestionada de barraquinhas de artesãos e artistas que pintam os retratos dos turistas (não torça o nariz: gênios como Toulouse-Lautrec e Modiglinai também já pagaram as contas fazendo exatamente isso).
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Fotografadíssimo, o Moulin de la Galette ainda encanta uma
ladeira de Montmartre, embora tenha sido transplantado de seu sítio original |
83 Rue Lepic
Foram os impressionistas, anteriores à comunidade do Bateau Lavoir, os responsáveis por colocar Montmartre no mapa do imaginário boêmio. Esses artistas começaram a frequentar as encostas da butte (colina) para pintar e farrear nas tabernas e cabarés locais.
Um dos mais famosos ainda está de pé, o Moulin de la Galette, do Século 17, que foi um moinho de verdade até ser transformado em um restaurante, lugar de alegres bailes e reuniões populares — Renoir, Pisarro e Toulouse-Lautrec pintaram essas cenas.
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Made in Montmartre: dois marcos fundadores de grandes
escolas de pintura. No alto, O Baile no Moulin de la Galette (1876),
de Renoir, e as Senhoritas de Avignon (1907), de Picasso |
A tela de Renoir O Baile no Moulin de la Galette, estrela do Museu D'Orsay, está para o Impressionismo como as Demoiselles de Picasso estão para o Cubismo. O quadro de Picasso é um dos destaques do MoMA de Nova York.
Quantos bairros do planeta podem se gabar de terem inspirado as telas inaugurais de duas das escolas de pintura mais importantes e instigantes que a humanidade já criou? (Embora o mote das Demoiselles tenha sido um bordel da Carrer de Avinyó, em Barcelona).
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A Basílica de Sacre Coeur fica no ponto mais alto de
Montmartre |
O Moulin de la Galette já não ocupa sua sua localização original em Montmartre. Está instalado agora no meio de uma ladeira sempre cheia de turistas, que o fotografam sofregamente, talvez sem lembrar que aquelas pás de moinho já posaram para Van Gogh.
O restaurante que usa o Moulin de la Galette como adorno não tem nada a ver com a velha taberna, mas quando você der de cara com esse velho senhor, parado naquela esquina de Montmartre, faça ao menos uma paradinha para prestar seus respeitos. Aquelas pás, hoje quietinhas, são parte da História.
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A escadaria de Sacre Coeur é a melhor arquibancada para
"assistir" Paris |
⭐ Basílica de Sacre Coeur
Eu tenho uma relação curiosa com Montmartre: adoro o bairro, mas não consigo achar a menor graça em sua principal atração, a Basílica de Sacre Coeur.
Acho que vou apanhar, mas, do ponto de vista arquitetônico, a Basílica de Sacre Couer me parece uma tentativa mal sucedida de copiar o Taj Mahal.
Mas mesmo esta ranzinza aqui tem que admitir que a escadaria de Sacre Coeur é a melhor arquibancada para assistir o espetáculo que é Paris.
Fora que aquele monte de gente suspirando pela cidade conjura um astral de encantamento irrepetível...
Acho que vou apanhar, mas, do ponto de vista arquitetônico, a Basílica de Sacre Couer me parece uma tentativa mal sucedida de copiar o Taj Mahal.
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O jardim em frente à Basílica de Sacre Coeur é um refúgio
gostoso |
Mas mesmo esta ranzinza aqui tem que admitir que a escadaria de Sacre Coeur é a melhor arquibancada para assistir o espetáculo que é Paris.
Fora que aquele monte de gente suspirando pela cidade conjura um astral de encantamento irrepetível...
O jeito mais usual de chegar a Montmartre é descer na Estação
Anvers do metrô (Linha 2), que fica bem pertinho da imensa escadaria
ajardinada que leva a Sacre Coeur.
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O jeito mais usual de chegar a Montmartre é pelo jardim aos
pés de Sacre Coeur. Mas fique atenta aos achacadores de turistas |
De lá, dá para subir a pé ou tomar o Funicular.
Essa opção poupa tempo e já te deixa de cara para a basílica.
Meu jeito preferido, porém, é pegar o metrô até a Estação
Abbesses (Linha 12) e daí ir subindo sem prestar muita atenção ao mapa,
alternando ladeiras e escadarias.
Dá para voltar pelo mesmo ponto, ou pegar o
metrô na Estação Lamarck - Caulaincourt (também da Linha 12), que fica perto do
Museu de Montmartre.
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Os joelhos reclamam um pouquinho, mas o jeito mais
"íntimo" e divertido de explorar Montmartre é subindo e descendo
rampas e escadas |
Segurança em Montmartre
Se você chegar a Montmartre pela Estação Anvers do metrô, prefira subir com o funicular. É que as escadarias que dão acesso ao bairro, neste trecho, estão sempre apinhadas de achacadores de turistas. Eles são chatos, insistentes e até meio agressivos.
O golpe que aplicam é famoso: amarram uma pulseira em seu braço e depois cobram caro por ela.
Nesta passagem por Montmartre, desci do bairro pela escadaria e tive que rosnar para uns três que insistiam em vender coisinhas e me "dar um presente" — um deles chegou a tentar segurar o meu braço.
Se for abordada, não dê trela. Seja firme, não se intimide e não pare para discutir.
O café de Amélie Poulain em Montmartre
O golpe que aplicam é famoso: amarram uma pulseira em seu braço e depois cobram caro por ela.
Nesta passagem por Montmartre, desci do bairro pela escadaria e tive que rosnar para uns três que insistiam em vender coisinhas e me "dar um presente" — um deles chegou a tentar segurar o meu braço.
Se for abordada, não dê trela. Seja firme, não se intimide e não pare para discutir.
Onde comer em Montmartre
No post sobre onde comer em Paris eu falei da Galette du Moulin, onde comi um ótimo croque
monsieur. Montmartre é muito bem servida de cafés e restaurantes.
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Au Marché de la Butte, onde Amélie Poulin fazia compras |
O café de Amélie Poulain em Montmartre
Ultimamente, parece que Montmartre foi inventada pelo filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, como se o bairro se resumisse ao tal café onde trabalha a personagem principal.
Eu vi o filme, acho bacaninha, mas nunca fui ao café Le Deux Moulins (muita muvuca). Mas, se você quiser dar uma passada, o endereço é o número 15 da Rue Lepic.
Um cenário da vida de Amélie Poulin que eu recomendo é o Marché de la Butte, onde a personagem fazia compras. É um grande lugar para quem quer se abastecer de frutinhas e outras gostosuras para mordiscar durante o passeio por Montmartre. Fica no número 56 da Rue des Trois Frères.
Curtiu este post? Deixe seu comentário na caixinha abaixo. Sua participação ajuda a melhorar e a dar vida ao blog. Se tiver alguma dúvida, eu respondo rapidinho. Por favor, não poste propaganda ou links, pois esse tipo de publicação vai direto para a caixa de spam.
Eu vi o filme, acho bacaninha, mas nunca fui ao café Le Deux Moulins (muita muvuca). Mas, se você quiser dar uma passada, o endereço é o número 15 da Rue Lepic.
Um cenário da vida de Amélie Poulin que eu recomendo é o Marché de la Butte, onde a personagem fazia compras. É um grande lugar para quem quer se abastecer de frutinhas e outras gostosuras para mordiscar durante o passeio por Montmartre. Fica no número 56 da Rue des Trois Frères.
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Sabe que também achei a Sacre Cour meio sem graça? O bairro em si é muito mais charmoso e interessante - e claro, dá pra ir no café onde gravaram Amélia Poulain! :)
ResponderExcluirEu não fui ao café de Amélie Poulain, Bárbara. Acho que o filme é muito mais recente que as minhas referências preferidas do bairro, rsss
ExcluirAcho que Sacre Couer tem um problema de falta de personalidade arquitetônica. Sou meio implicante com pastiches (a catedral "gótica" de Quito, do começo do século 20,com gárgulas "tropicais", por exemplo, me deixou com dor de cabeça) e a ideia de construir cúpulas bizantinas em uma cidade que não tem nada a ver com esse estilo me desagrada profundamente. Mas eu gosto de ver a silhueta da basílica no horizonte da cidade (de longe).
Fiquei em Pigalle. Rue des Martyrs. Foi muito legal. Andei muito por lá. Não fui na Basílica. Sem grandes interesses.
ResponderExcluirCláudia Maas
Acho a Basílica a parte menos interessante do bairro, Cláudia, mas a vista de lá é muito bonita :)
ExcluirCyntia
ResponderExcluirMontmartre é sempre um grande prazer visitar. Mesmo conhecendo o bairro há anos, fiz um passeio guiado pelo bairro. Meus restôs prediletos são Le Relais Gascon , Le Poulbot e recentemente descobori La villa des Abesses.
Jorge, já anotei suas dicas para a próxima visita :)
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