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Depois de 70 anos, Pachamama voltou para casa (Foto: jornal La Razón) |
O ídolo de pedra, de quase 8 metros de altura e 1.800 anos de idade, fica numa sala do pequeno Museu Lítico de Tiwanaku, ao abrigo do sol e da chuva. O Monolito Bennett — o nome é homenagem ao arqueólogo que chefiou as pesquisas que levaram à sua descoberta — é considerado a relíquia mais preciosa do principal sítio arqueológico boliviano.
Mas é muito mais que isso. Que o diga a mulher de meia idade, em trajes “ocidentais”, comovida diante da imagem. "Pachamama, Pachamama”, repetia ela, de mãos postas, com lágrimas nos olhos, para espanto dos demais visitantes do museu. Ela não falava alto, não fazia alarde. Mas era toda fervor. Até que se ajoelhou diante do ídolo, emocionada.
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A Porta do Sol de Tiwanaku, no Templo de Kalasasaya, era um
calendário agrícola |
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Imagens de divindades tiwanakotas encontradas no sítio
arqueológico |
Veja como foi a minha visita a esse sítio arqueológico que conta uma história fascinante:
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A cabeças que decoram o Templo de Kalasasaya representariam os povos
conhecidos pelos tiwanacotas |
A Nação Aymara reivindica-se descendente dos tiwanacotas. Mesmo o mais urbano e contemporâneo dos paceños fala do poderio do antigo império com orgulho.
Também impressiona o carinho que eles demonstram pelo “Monolito Bennett”, para eles, a representação da divindade suprema de seus antepassados.
Quando os Andes entraram na rota turística, a Bolívia e Tiwanaku eram meros pontos de passagem para os milhares de viajantes, rumo ao esplendor de Machu Picchu. As ruínas da capital tiwanacota eram vistas como algo pitoresco, mas sem grande importância.
Há pelo menos uma década, porém, as pesquisas vêm resgatando a real importância do Império Tiwanacota que, mil anos antes dos Incas, foi o senhor do Altiplano Boliviano e estendeu sua influência por toda a Cordilheira e além.
Especula-se que Tiwanaku, a capital do império, chegou a ter 50 mil habitantes. Segundo as hipóteses mais aceitas, uma seca prolongada teria determinado o declínio e a dispersão dos tiwanacotas.
Hoje, apenas 8% da área da antiga capital estão escavados. O que se presume tenha sido seu monumento mais espetacular, a Pirâmide de Akapana, foi reduzido a quase nada, destruído para a retirada das pedras, pelos colonizadores espanhóis e pelos britânicos, que trouxeram as ferrovias.
O Monolito Ponce, outra representação de uma divindade, foi “exorcizado” pelos espanhóis, que gravaram uma cruz em sem ombro.
Nem Pachamama escapou. Amargou um exílio de sete décadas, iniciado logo após sua descoberta, em 1932.
Tratado como atração “exótica” e expressão de um “povo primitivo", a imagem de Pachamama virou atração turística, exposta em praça pública, perto do Estádio de Futebol, em La Paz. À noite, dizem que a vizinhança o ouvia chorar.
O exílio de Pachamama nunca foi bem visto pela maioria da população boliviana. Circulavam lendas de que a derrota boliviana na Guerra do Chaco e até uma enchente, ocorrida em La Paz, seriam “castigos” pela humilhação eurocêntrica imposta à divindade nativa.
Finalmente, em 2002, Pachamama retornou a Tiwanaku. Foi recebido com festas, celebrado por dezenas de comunidades Aymaras. Hoje, impressiona a quantidade de bolivianos, em trajes andinos, que visitam a imagem.
Também impressiona o carinho que eles demonstram pelo “Monolito Bennett”, para eles, a representação da divindade suprema de seus antepassados.
Quando os Andes entraram na rota turística, a Bolívia e Tiwanaku eram meros pontos de passagem para os milhares de viajantes, rumo ao esplendor de Machu Picchu. As ruínas da capital tiwanacota eram vistas como algo pitoresco, mas sem grande importância.
Há pelo menos uma década, porém, as pesquisas vêm resgatando a real importância do Império Tiwanacota que, mil anos antes dos Incas, foi o senhor do Altiplano Boliviano e estendeu sua influência por toda a Cordilheira e além.
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Kalasasaya era o lar original de Pachamama |
Especula-se que Tiwanaku, a capital do império, chegou a ter 50 mil habitantes. Segundo as hipóteses mais aceitas, uma seca prolongada teria determinado o declínio e a dispersão dos tiwanacotas.
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Pirâmide de Akapana: muitas pedras foram levadas daqui para outras construções |
Tratado como atração “exótica” e expressão de um “povo primitivo", a imagem de Pachamama virou atração turística, exposta em praça pública, perto do Estádio de Futebol, em La Paz. À noite, dizem que a vizinhança o ouvia chorar.
O exílio de Pachamama nunca foi bem visto pela maioria da população boliviana. Circulavam lendas de que a derrota boliviana na Guerra do Chaco e até uma enchente, ocorrida em La Paz, seriam “castigos” pela humilhação eurocêntrica imposta à divindade nativa.
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Acredita-se que apenas 8% de Tiawanaku já tenham sido escavados |
Finalmente, em 2002, Pachamama retornou a Tiwanaku. Foi recebido com festas, celebrado por dezenas de comunidades Aymaras. Hoje, impressiona a quantidade de bolivianos, em trajes andinos, que visitam a imagem.
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Um ingresso único dá acesso a todas as atrações de Tiwanaku |
Todos os dias, de hora em hora (até as 19h), os micro-ônibus partem de La Paz para Tiwanaku. O “terminal” fica na esquina das ruas José Maria Asín e P. Eyzaguirre, na área do Cemitério — lugar onde todo cuidado é pouco, não por causa dos mortos, mas dos muito vivos que andam por lá.
O bilhete custa 15 Bolivianos e a viagem, dependendo do trânsito, dura entre 1h30n e 3 horas. A chegada é na praça central do povoado de Tiwanaku, distante 15 minutos de caminhada da área do sítio arqueológico.
O ingresso ao sítio arqueológico de Tiwanaku custa 80 Bolivianos (pouco mais de US$ 10), para estrangeiros.
O bilhete custa 15 Bolivianos e a viagem, dependendo do trânsito, dura entre 1h30n e 3 horas. A chegada é na praça central do povoado de Tiwanaku, distante 15 minutos de caminhada da área do sítio arqueológico.
Nós decidimos contratar um roteiro com a Stop Tours, com transporte, guia, entrada para o sítio arqueológico e almoço incluído, por cerca de US$ 20.
É a forma mais prática e confortável de chegar lá: evita o pinga-pinga do transporte convencional e tem a vantagem da parada no Mirador Lloco Lloco, no meio do caminho, para namorar a Cordilheira Real.
É a forma mais prática e confortável de chegar lá: evita o pinga-pinga do transporte convencional e tem a vantagem da parada no Mirador Lloco Lloco, no meio do caminho, para namorar a Cordilheira Real.
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A vila de Tiawanaku vista do sítio arqueológico |
Sou bastante alérgica a excursões, mas um guia qualificado faz toda a diferença numa visita a um sítio arqueológico — não tem a menor graça ficar contemplando um monte de pedras sem compreender seu significado. Victor Hugo, nosso guia, demonstrava conhecer bem a área, além de esbanjar aquele orgulho apaixonado dos bolivianos por suas tradições.
O sol, nas ruínas, é devastador. Leve boné, óculos escuros, protetor solar e muita água.
Nós almoçamos num pequeno restaurante ao lado da saída das ruínas. Comi um bife de lhama muito saboroso, antecedido pela velha e boa sopinha de quinoa.
A Bolívia na Fragata Surprise
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Só tinha um lugar da Bolívia que eu queria conhecer: Salar de Uyuni. Mas depois da viagem ao Peru, o país ganhou algumas posições da minha wishlist.
ResponderExcluirPor aí e Por aqui, eu AMEI a Bolívia! Um povo doce, delicado, paisagens lindíssimas, história, tradição... Acho que por o Peru ser mais badalado, a gente tende a achar que esgota a "página andina" indo pra lá. Mas a Bolívia e o Equador me provaram que os Andes são muito mais diversos e interessantes. Experimente a Bolívia, que vc vai amar. E, by the way, o Titicaca é muito mais lindo na Bolívia que no Peru :)
ExcluirMuito bom. Espero conhecer um dia.
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