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Juan de Garay foi o responsável pela segunda e definitiva fundação de Buenos Aires. Duvido que ele imaginasse a cidade sensacional que estava inventando |
Para quem vai pela primeira vez, uma semana é o tempo de explorar com calma as diversas facetas de uma metrópole tão diversa em encantos e atrações.
Para quem está voltando a Buenos Aires — sem a urgência de bater o ponto nas atrações turísticas mais badaladas — esse é o tempo para rever o que mais gostou e descobrir novas possibilidades.
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O interior do Palácio Barolo, na Avenida de Mayo. A
construção foi inspirada na Divina Comédia, de Dante Alighieri |
Além de dicas específicas, este post também funciona como um índice. Listei vários dos meus passeios favoritos em Buenos Aires (alguns ganharam posts exclusivos): o Teatro Colón, a apresentação do grupo teatral Fuerza Bruta, o Jardim Japonês, em Palermo, e os bairros de San Telmo, Palermo Soho e Recoleta.
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Teatro Colón de Buenos Aires: lindo por fora, deslumbrante
por dentro. Se não der pra ver um espetáculo lá, faça a visita guiada |
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O Museu de Arte Hispano-Americana de Buenos Aires tem uma belíssima coleção do período colonial. Fui, amei e estou puxando as minhas orelha por não ter ido antes |
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Caminhar à beira d'água em Puerto Madero é sempre um
programinha gostoso em Buenos Aires |
O que fazer em Buenos Aires
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Plaza Francia, na Recoleta |
O que fazer na Recoleta
Diariamente, das 8h às 18h. Entrada gratuita.
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Por trás desta fachada neoclássica, há todos os estilos
decorativos nos túmulos do Cemitério da Recoleta |
O túmulo mais famoso e mais disputado para fotografias no Cemitério da Recoleta é o de Evita Perón. Mas lá também estão sepultados ex-presidentes da República, como Raul Alfonsin, o Prêmio Nobel de Química Federico Leloir e a escritora Victoria Ocampo.
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Sempre tem alguma coisa interessante pra ver no Centro
Cultural Recoleta |
De terça a sexta, das 13:30h às 22h. Sábados, domingos e feriados, das 11:30h às 22h.
O acesso ao espaço é livre, mas é preciso pagar ingresso para ver os espetáculos. Para conferir a programação e os preços das entradas, consulte o site oficial do Centro Cultural da Recoleta.
Diariamente, das 8h às 22h, com entrada gratuita. Os claustros podem ser vistos de segunda a sábado, das 10:30h às 18:10h, e aos domingos, das 14:30h às 18:10h
A Basílica do Pilar e o antigo convento dos Recoletos (hoje convertido no Centro Cultural Recoleta) são o núcleo original da povoação do bairro e seu entorno mantém um certo ar de vila do interior.
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Altar-mor da Igreja do Pilar da Recoleta |
Construída no início do Século 18, a igrejinha do Pilar da Recoleta conserva belíssimos altares barrocos, contrastando com a simplicidade de sua fachada.
Preste atenção ao altar-mor, que incorpora elementos da estética dos povos andinos, como era costume na América Espanhola de então.
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A decoração barroca da Igreja do Pilar vale a visita |
O acervo desse museu abarca os séculos 16 a 19 e é composto de peças em prata, telas, esculturas e mobiliário que pertenceram a igrejas e conventos argentinos desde o início da colonização espanhola. Das galerias do claustro se tem uma bela vista para o Cemitério da Recoleta.
⭐ Livraria El Ateneo Grand Splendid
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El Atheneo deve ser a livraria mais postada no Instagram neste planeta |
É o café mais antigo de Buenos Aires (fundado em 1850) e fica de cara para o miolo turístico da Recoleta. Nos dias mais quentes, escolha uma mesa ao ar livre, à sombra de árvores centenárias.
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Café La Biela, fundado em 1850 (esq), e uma tela de Van Gogh
no MNBA |
Horários: de terça a sexta das 11h às 20h. Sábados e domingos das 10h às 20h.
Entrada gratuita
A dois passos do centrinho da Recoleta, o Museu Nacional de Belas Artes de Buenos Aires tem uma das coleções de arte mais importantes do nosso continente.
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Praça Maior de Paucartambo (1937), do peruano
Enrique Camino Brent, no MNBA |
O MNBA reúne desde peças pré-colombianas até a arte contemporânea. Dos grandes mestres da pintura europeia aos expoentes latino-americanos, o acervo do MNBA traça um painel consistente e sempre interessante em telas, esculturas, fotografias e objetos decorativos.
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A Torre Monumental, ou Torre dos Ingleses, é a imagem mais reconhecível do bairro de Retiro. Ela fica em frente à Estação Ferroviária de Retiro |
O que fazer em Retiro
Coladinho à Recoleta, Retiro é mais conhecido por sua linda estação de trens, integrada ao metrô, de onde muitos turistas embarcam para os passeios a Tigre e a San Isidro. Quando me hospedei na Recoleta, vivia passando por lá, embarcando ou desembarcando do metrô, e passava um bom tempo fotografando detalhes de sua arquitetura e decoração.
Na verdade, são três terminais contíguos. A Estação Retiro Mitre é a bonitona, mas também tem a Estação Retiro Belgrano e a Estação Retiro San Martín.
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A Estação Retiro é tão bonita que às vezes eu esqueço que ela tem uma destinação funcional |
O bairro de Retiro tem uma área residencial elegante, comércio chique (o famoso shopping Pátio Bulrich fica lá, assim como a hoje fechada filial da Harrods londrina) e muitos escritórios do centro financeiro de Buenos Aires.
Mas Retiro também tem seus contrastes, como atestam as moradias precárias de trabalhadores pobres nos arredores da área portuária.
É também nesse pedaço do bairro que estão preservadas as memórias do intenso movimento que trouxe milhões de imigrantes a Buenos Aires, a partir do final do Século 19.
Horários: segundas, quartas, quintas e sextas, das 11h às 19. Sábados, domingos e feriados, das 11h às 20. Fecha às terças.
Ingresso: 500 pesos (US$ 1,8). Grátis às quartas-feiras.
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Ostensório do Século 16 em ouro e adornado com pedras preciosas |
No Palácio Noel, em Retiro, você vai encontrar um acervo deslumbrante, principalmente de arte sacra, abrangendo a produção das colônias espanholas nas Américas, indo bem além do território que hoje é a Argentina.
As
seções dedicadas à Escola Cusquenã (de Cusco, Peru), a Escola Quiteña (de Quito, Equador) e de Potosí, na Bolívia
estão entre os pontos altos da coleção. As três povoações foram centros importantíssimos de produção artística, refletindo o poder econômico e político que detiveram
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A arte colonial das escolas de Quito (esq) e Cusco |
Outra sessão belíssima é dedicada ao barroco-guarani produzido nas missões jesuíticas que floresceram no Cone Sul da América—como San Ignacio Miní, cujas ruínas me deixaram apaixonada.
O palácio, construído no comecinho do Século 20 foi a residência do colecionador de arte Isaac Fernández Blanco. A construção em estilo colonial e os jardins de inspiração andaluza são muito bonitos e merecem atenção.
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O antigo Hotel de Inmigrantes, onde os recém chegados de além-mar se alojavam, é hoje o Museu Nacional da Imigração. Fica em Retiro, mas tem vista para Puerto Madero |
⭐ Museu Nacional da Imigração
Horário: segunda a sexta, da 10h às 17h. Sábados e domingos, das 11h às 18h.
Entrada gratuita
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Entre o final do Século 19 e meados do Século 20, a Argentina recebeu milhões de imigrantes, principalmente da Itália e Espanha. Um pouco dessa história é contada no Museu da Imigração |
Só aviso que não é uma caminhada das mais agradáveis: depois
que você passa o Terminal do Buquebus, vai andar por uma calçada maltratada, margeando
a cerca do Porto de Buenos Aires, com os automóveis passando em grande
velocidade pela avenida e com uma certa sensação de insegurança pela ausência
de movimento de pessoas.
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No refeitório, os internos recebiam três refeições e as mulheres eram encarregadas de cozinhar e limpar todos os espaços. A imprensa argentina chamava o Hotel de Inmigrantes de "palácio dos pobres" |
O percurso do Museu da Imigração se apoia em documentos e painéis explicativos para contar a história das milhões de pessoas que buscaram a Argentina como nova pátria. O melhor da visita é entrar no clima da vida cotidiana dos recém-chegados, evocada nos dormitórios, refeitório e outras áreas do edifício.
O local é também um importante centro de documentação: mais
de 5 milhões de registros sobre a imigração no país, no período que vai de 1882
a 1960, estão à disposição de pesquisadores.
O Antigo Hotel de Inmigrantes foi construído na primeira década do Século 20 para que os recém-chegados ao país em busca de uma nova vida cumprissem os períodos de quarentena — o lugar era uma espécie de Ellis Island portenha, criado após duas epidemias de cólera, atribuídas ao fluxo migratório. Foi usado até 1955.
O espaço tinha capacidade para abrigar até 3 mil imigrantes, que permaneciam no local por pelo menos cinco dias, caso não manifestação sintomas de doenças. Nesse período, recebiam orientações sobre a vida no país, três refeições por dia e ajuda (aos homens) para conseguir trabalho.
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O acervo do museu conserva alguns objetos que pertenceram aos antigos internos da hospedaria. Abaixo, uma instalação artística com livros trazidos pelos imigrantes |
Toda a limpeza, tarefas de cozinha e cuidado com as crianças ficavam a cargo das mulheres internadas no Hotel de Inmigrantes.
Em 1974, o complexo foi transformado no Museu Nacional da
Imigração, abrigando, também, o Centro de Arte Contemporânea da Universidade
Tres de Febrero, que realiza exposições temporárias. O museu passou um longo
período fechado e só reabriu as portas em 2013.
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Grafites em Palermo Soho, meu pedacinho preferido de Palermo |
O que fazer em Palermo
⭐ Bosques de PalermoJardim Botânico – diariamente, das 8h às 18h. Entrada gratuita
Qualquer estação do ano é boa para um passeio pelos Bosques de Palermo, a área verde mais famosa de Buenos Aires e onde você vai encontrar os portenhos se divertindo ao ar livre, nos finais de semana.
O pedacinho do parque que os turistas mais curtem é o Rosedal (“roseiral”), cercado por um lago (onde você pode alugar um barquinho a remo), adornado por um bonito pátio andaluz e lar de 12 mil rosas de diversas espécies, inaugurado em 1914.
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O Rosedal de Palermo. A foto é de Daniela Almeida, do blog D&D Mundo Afora. Obrigada pelo "empréstimo", Dani! 😊 |
No romântico Jardim dos Poetas, o passeio é acompanhado por estátuas de escritores ilustres, como William Shakespeare, Alfonsina Storni, Dante Alighieri e Federico García Lorca.
Os Bosques de Palermo, porém, são muito mais que o Rosedal. O parque tem 25 hectares (250 mil metros quadrados) de jardins, áreas para piquenique, espaços para prática de esportes e equipamentos culturais.
Duas atrações bacanérrimas nos Bosques de Palermo são o Planetário Galileu Galilei e o Jardim Botânico (na Avenida Santa Fé 3951, esquina com Las Heras), com mais de 10 mil espécies de plantas.
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O Jardim Japonês é um "centro cultural verde" |
⭐ Jardim Japonês
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As flores de cerejeira (sakura) são um dos encantos do
Jardim Japonês |
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O torii é um portal tradicional no xintoísmo e
simboliza a passagem entre o mundo terreno e o mundo espiritual |
O Jardim Japonês de Buenos Aires recria a milenar arte nipônica de construir jardins como espaços de relaxamento, reflexão e busca da harmonia interior.
É lugar para caminhar sem pressa, ver as cerejeiras em flor e observar os patinhos nadando no lago atravessado por românticas pontes.
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Mesmo cheio de visitantes, o Jardim Japonês tem uma
tranquilidade contagiante. Abaixo, a Casa de Chá |
Em um canto do Jardim Japonês está a réplica de uma autêntica casa de chá. No grande pavilhão, erguido na arquitetura típica japonesa, funciona um restaurante muito bem reputado (boa pedida para o almoço) e uma loja de artesanato.
Horários: de quarta a domingo, das 13h às 19h.
Entrada gratuita
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O salão principal do Palácio Errázuriz Alvear foi inspirado nos great hall dos castelos medievais |
O Museu Nacional de Arte Decorativa tem uma senhora coleção de móveis, esculturas (uma delas de Rodin), quadros (tem até uma obra de Joaquín Sorolla e um El Greco), tapeçarias do Século 16, porcelanas, pratarias e mais um monte de belas peças que adornaram palácios da aristocracia argentina.
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A sala de visitas e (abaixo) o Salão de Bailes, com seus candelabros de cristal |
E é exatamente em um desses palácios que funciona o museu, na antiga residência da família Errázuriz Alvear, de 1911 e em estilo neoclássico.
O núcleo do acervo é a coleção reunida pelos antigos moradores do Palácio Errázuriz Alvear, que compreende principalmente a arte decorativa europeia, com generosas pitadas de arte oriental. Outras doações e aquisições catapultaram o patrimônio do museu (que pertence ao Estado argentino) às atuais 6 mil peças.
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Tapeçarias do Século 16 e quadros de pintores europeus adornam diversos ambientes |
O Palácio Errázuriz Alvear é bem mais do que mera embalagem pra tudo isso. A construção é belíssima e não poupa nem uma graminha de luxo. Como era praxe entre os endinheirados, é tudo muito europeu, sem referências ao país do lado de fora dos muros.
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Um dormitório do palácio e uma escultura em bronze |
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O museu tem uma coleção de mármores bem grandinha. Na foto à direita, A Eterna Primavera, de Rodin |
Nos jardins do palácio, em estilo francês, funciona uma das filiais da rede Croque Madame, que faz sucesso na cidade.
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Nos jardins do museu funciona um restaurante |
Palermo Soho é o meu pedacinho preferido do Buenos Aires exatamente por isso: basta estar lá para encontrar algo interessante, sem precisar me concentrar em horários, filas e roteiros. Nesta passagem mais recente por Buenos Aires (setembro/22), voltei a me hospedar lá e gostei demais da experiência (que vou contar em um próximo post).
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O colorido de Palermo Soho se renova: numa tarde de sábado,
artistas montam um mosaico no muro de um casarão |
Os casarões antigos de Palermo Soho ganharam uma bela repaginada para abrigar o comércio moderninho, com muitas butiques interessantes, lojas de grifes internacionais e espaços coletivos onde jovens estilistas expõem suas criações.
Palermo Soho também tem bares animados e ótimos restaurantes (em todas as faixas de preço). Ao redor disso tudo, as ruas grafitadas e muita gente circulando a qualquer hora em busca de entretenimento completam o charme desse pedacinho de Buenos Aires.
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Palermo Soho tem seu Beco do Batman, a Calle Santa Rosa |
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Apesar do vai e vem de Palermo Soho, sempre dá pra encontrar um cantinho e relaxar, como prova o boa-vida aí da foto |
A Plazoleta Cortázar fica no cruzamento das ruas Honduras e Jorge Luis Borges (que segue para o sul como Calle Serrano) e desse epicentro fervidíssimo o movimento de espalha.
Palermo, Buenos Aires, o bairro com cheiro de maçã
Como aproveitar uma conexão em Buenos Aires
E as mudanças que citei são meio relativas: o tal horário da feira é mera manifestação cartorial-- apesar de oficialmente começar às 14hde sábado, já estava a mil por hora na manhã do sábado e foi muito além das 20h no fim de semana em que estava hospedada no bairro.
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A feirinha da Plaza Serrano é um bom lugar para começar a
descobrir Palermo Soho |
No que interessa, a Feira Honduras (eu sou disciplinada) ainda é um ótimo programa. Pra mim, que agora em setembro já acordei no sabadão de Palermo Soho (cheguei na véspera, tarde da noite) ela foi um convite irrecusável.
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O Malba é o lar do Abaporu, obra-prima do Modernismo
brasileiro pintada por Tarsila do Amaral |
Horários: de quinta a segunda, das 12h às 20h. Quartas, das 11h às 20. Fecha às terças
Ingresso: 900 pesos (R$ 36/R$ 18). Eestudantes, professores, maiores de 60 e aposentados pagam meia-entrada). Às quartas, o ingresso custa 450 pesos (R$ 18/ R$ 9) e a entrada é grátis para estudantes, professores maiores de 60 e aposentados.
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A Grande Tentação (1962), obra do sensacional Antonio Berni, no Malba |
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Elevador Social (1966), de Rubens Gershmann. Só a coleção de artistas brasileiros do Malba já preencheria um museu de primeira linha no mundo |
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A escultura O Impossível (1945), da brasileira Maria Martins, é outro grande destaque da coleção do Malba |
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O estupendo Teatro Colón é uma das grandes atrações do
Centro de Buenos Aires (e da cidade toda, com licença de tudo mais) |
O que fazer no Centro de Buenos Aires
Espetáculos: para ver a pauta e comprar ingressos antecipados, consulte a bilheteria online do Teatro Colón.
Eu sou apaixonada por teatros, especialmente pela safra de casas de ópera construídas nas grandes cidades do mundo durante a esfuziante Belle Époque — um tempo em que o hedonismo não era pecado e desfrutar da grande arte era quase um dever social.
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Detalhe dos camarotes e, à direita, da marquise do Teatro Colón |
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O conforto, a beleza e a acústica chegam direitinho ao
"poleiro" |
Inaugurado em 1908, o Teatro Colón é um ícone de uma Buenos Aires que se queria elegante, cosmopolita e arejada.
Para confirmar isso, o palco do Teatro Colón recebeu todas as grandes companhias de ópera europeias e os maiores nomes da dança, da música sinfônica e do canto lírico do planeta.
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Homenagem aos 100 anos de Violeta Parra: noite inesquecível,
dedicada a uma grande compositora latino-americana |
Assisti ao concerto em homenagem aos 100 anos da compositora chilena Violeta Parra, uma récita especialíssima da orquestra do Teatro Colón com a participação de artistas populares. Até a presidenta do Chile, Michelle Bachelet, estava na plateia.
Os preços dos espetáculos no Colón variam muito, de acordo com o tipo de montagem e o setor do teatro. Duvido que você não encontre uma atração ao seu gosto para assistir.
➡️ Se não puder bancar um lugarzinho na fila do gargarejo, na plateia baixa, pode comprar ingresso para a Tertúlia Central (galeria), láááá no alto, que eu garanto que a visão do palco é muito boa. Foi lá que assisti à homenagem a Violeta Parra (pagando um terço do preço que estava sendo cobrado para os lugares mais “nobres”).
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O famoso forro da sala de espetáculos do Teatro Colón |
Basta fazer a visita guiada, realizada praticamente todos os dias do ano (exceto nos feriados de 1º de maio, 24, 25, 31 de dezembro e 1° de janeiro). O percurso leva cerca de uma hora e dá direito a conhecer os bastidores, salas de ensaio e outras dependências.
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O Teatro Colón é a construção mais bonita da Avenida 9 de
Julio |
➡️ Para as visitas guiadas ao Teatro Colón, é possível agendar e comprar ingresso online, mas não é essencial, pois os percursos são iniciados a cada 15 minutos.
Por maior que esteja a fila da visita guiada, a espera nunca será muito longa. Só fique de olho na pauta do teatro, pois quando há apresentações matutinas e vespertinas as visitas são suspensas no horário desses espetáculos.
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A Pirámide de Mayo, no centro da praça, foi construída em
1811 para marcar o primeiro aniversário da Independência da Argentina |
⭐ Praça de Maio
Em torno da Praça de Maio estão os símbolos do poder religioso e secular.
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As pedras depositadas no pedestal da estátua equestre de
Manuel Belgrano, em frente à Casa Rosada, lembram as vítimas da pandemia de Covid-19
na Argentina |
Na Praça de Maio estão a Catedral de Buenos Aires, a Casa Rosada (palácio do governo nacional), a antiga sede de da Prefeitura de Buenos Aires e o velho Cabildo, também aberto à visitação, onde funcionava o governo colonial e epicentro da Revolução de 1810, primeiro movimento pela independência do país.
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Casa Rosada: a cor chegou primeiro. Já se usava a mistura de cal e sangue de boi para pintar o palácio presidencial antes da inauguração do atual edifício |
O que se sabe é que a pintura em cor de rosa — mistura de
cal com sangue de boi — já cobria as fachadas desses edifícios de governo antes
da construção da Casa Rosada.
As visitas guiadas à Casa Rosada foram interrompidas durante a pandemia e ainda não fora retomadas. Consulte o site da Presidência da Argentina para se informar sobre a programação e reinicio dessas visitas, que precisam ser agendadas.
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A história da Argentina passa sempre pela Praça de Maio |
É também é na Praça de Maio que, ainda hoje, todas as quintas-feiras, se reúnem as mães dos desaparecidos na repressão política na Argentina e as avós das crianças sequestradas pelos militares e dadas em adoção, as Madres e as Abuelas de la Plaza de Mayo.
Essa busca incansável pelos desaparecidos e o papel que essas mulheres exerceram na denúncia da ditadura argentina continuam comovendo o mundo, 41 anos depois que as primeiras madres se encontraram junto ao obelisco da Praça de Maio, com as cabeças cobertas por lenços brancos. Se você encontrar com elas, saiba que está diante da História, com maiúscula, mesmo.
Visita gratuita
Mas aquele pedaço da antiga Plaza Mayor de Buenos Aires — logradouro inescapável em qualquer cidade colonial espanhola e hoje rebatizada de Plaza de Mayo — esteve ocupado pela representação do poder religioso na cidade desde sua segunda fundação, por Juan de Garay, em 1580.
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A coisa mais difícil é fotografar a fachada da Catedral de Buenos Aires sem o paredão de ônibus e carros no meio 😊. O frontão greco-romano representa o reencontro de José do Egito com a família |
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O piso da catedral, um mosaico delicado, é bonito demais |
O resultado de quase 150 anos de obras — e do vai e vem das modas e dos gostos — a gente vê nos traços da Catedral de Buenos Aires. A fachada é neoclássica e, em seu interior, há uma mescla de estilos—ainda que o sotaque predominante seja barroco.
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Mausoléu de San Martín |
A Catedral de Buenos Aires guarda os restos mortais do General San Martín, herói da Independência da Argentina e um dos líderes das rebeliões que resultaram na independência do Chile e do Peru.
O Mausoléu de San Martín é permanentemente velado por uma guarda de honra.
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A Revolução de Maio e a primeira Independência Argentina começaram no Cabildo |
Entrada gratuita
Visitas guiadas de quarta a sexta, às 15:30h. Sábados e domingos, às 11h e às 15:30h, Não é preciso reserva.
O Cabildo era uma espécie de parlamento, responsável pela administração das colônias na América Espanhola. O Cabildo de Buenos Aires foi instalado na segunda fundação da cidade — a fundação liderada por Juan de Garay, em 1580 — e funcionou até 1821, cinco anos após a independência definitiva do país.
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O Cabildo de Buenos Aires visto da escadaria da Catedral |
O mês que dá nome à praça-casa da alma argentina não salta ao acaso do calendário. Foi exatamente no dia 10 desse mês, em 1810, e exatamente no Cabildo, que eclodiu o movimento que resultaria na Independência da Argentina — a primeira, porque a definitiva data de 9 de Julho 1816.
O edifício é hoje a sede do Museu Histórico Nacional do Cabildo e da Revolução de Maio. Seu acervo não chega a ser retumbante, mas a visita guiada é muito legal, uma aulinha sobre o contexto histórico do movimento independentista.
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O Centro Cultural Kirchner tem uma pegada arquitetônica/decorativa meio CCBB-Rio e uma programação movimentada, com cinema, concertos, exposições, teatro e palestras |
Entrada gratuita. Para assistir aos espetáculos, é preciso reservar os ingressos no site do CCK. Para ver as exposições, não há necessidade de reserva.
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A Ballena Azul ("Baleia Azul), espaço sinfônico do CCK. Abaixo, mostra de fotografias de Evita Perón |
O CCK tem nove andares — a cúpula do edifício foi convertida em um mirante com vista para Puerto Madero e parte do Centro de Buenos Aires — seis salas de apresentações, espaço para leitura e recitais, galerias para exposições de artes visuais e salas de ensaio.
Vai ser bem difícil você não encontrar algo interessante para ver no Kirchner e é bom saber que a programação do CCK é gratuita, ainda que seja necessário retirar ingressos com antecedência no caso de espetáculos, por conta da lotação das salas de apresentações.
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A antiga sede dos Correios é um edifício de 1890 |
O Centro Cultural Kirchner está instalado no antigo Palácio dos Correios, uma bela e imponente construção em estilo
Beaux Arts de 1890, a apenas 600 metros da Praça de Maio e com uma estação de Subte literalmente na porta.
Vale a pena conferir, especialmente, a programação do Auditório Nacional, sala de concertos com 1.750 lugares e casa da Sinfônica. A Sala Argentina (famosa por sua acústica) é outro espaço importante do CCK.
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Que tal um mergulho na música de Piazzolla? |
E já que estamos falando em música, não percam o espaço dedicado a Astor Piazzolla, onde projeções de vídeo e fotos envolvem o visitante, ao som de grandes composições do cara que revolucionou o Tango.
⭐ Avenida de Mayo
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Sou arriada de quatro pneus pela arquitetura da Avenida de Mayo |
As fachadas dos edifícios imponentes da Avenida de Mayo são um catálogo dos estilos decorativos em voga no final do Século 19 e início do Século 20.
A memória do burburinho social e da efervescência cultural e política daqueles tempos em Buenos Aires ainda persiste em cafés históricos, como o Tortoni e o Los 36 Billares.
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A visita ao Palácio Barolo é um programão |
O que fazer em Abasto
Ingresso: 500 pesos (US$ 1,80). Maiores de 60, aposentados e estudantes não pagam entrada. Às quartas-feiras, a visita ao museu é gratuita para todos os públicos.
O que fazer em Puerto Madero
Horários: de quinta a domingo 12h às 20h.
Ingressos: 400 pesos (US$ 1,40). Menores de 12 anos, estudantes, professores e maiores de 60 pagam meia-entrada.
O que fazer em San Telmo
Quando uma epidemia de febre amarela fez a elite portenha migrar de San Telmo para a Recoleta, no final do Século 19, foi substituída, em grande parte, pelas famílias dos trabalhadores do antigo porto de Buenos Aires, artistas e intelectuais.
Vem daí a tradição boemia que San Telmo faz questão de preservar.
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O Mercado de San Telmo virou um espaço gourmet bem
interessante |
Uma delas é a Casal de Catalunya ("Casa da Catalunha") com uma fachada art nouveau de matar qualquer um de paixão e um restaurante onde jantei muito bem, há alguns anos.
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A fachada art nouveau da Casal de Catalunya |
Também fica em San Telmo a Associación Casa de Galicia, cujo salão costuma abrigar animadas milongas.
É sempre um prazer passear por San Telmo. Se você curte antiquários, lojinhas descoladas, restaurantes e cafés interessantes, vai amar bater perna nesse pedacinho da cidade.
Como em Palermo Soho, a graça maior de San Telmo é o todo, do astral à arquitetura. Mas atrações turísticas não faltam por lá.
Realizada todos os domingos, a clássica Feira de Antiguidades de San Telmo faz o bairro ferver — e se você perder, pode se consolar fuçando os inúmeros antiquários do bairro, que funcionam de segunda a segunda e se concentram, principalmente, na Calle Defensa.
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A feirinha de San Telmo é sempre um programa divertido |
⭐ Cafés históricos de San Telmo
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Acima, a Igreja Católica de Belém, primeira do bairro e sede
da Paróquia de San Telmo. Nas fotos abaixo, a Catedral Ortodoxa Russa da
Santíssima Trindade |
O Mercado de San Telmo, inaugurado em 1897, tem a clássica estrutura de ferro e vidro típica da época (e que sempre resulta encantadora). Ele ganhou uma reforma e agora abriga uma série de restaurantes concorridos, como o vietnamita Saigon, o mexicano La Fábrica del Taco (as carnitas são deliciosas) e o coreano Shabu Shabu, onde tive uma experiência pouco feliz.
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O Mercado de San Telmo ganhou um banho de loja meio gentrificante, mas ainda preserva os boxes de alimentos, lojinhas de antiguidades e um astral simpático |
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Milonga na Associación Casa de Galicia |
⭐ Casas de Tango em San Telmo
Para acompanhar a programação do tango em Buenos Aires e o calendário das milongas, dá uma passada no ótimo blog Aqui me Quedo, escrito pelo jornalista brasileira Giselle Teixeira, que vive há quase uma década em Buenos Aires e também tem dicas espertíssimas de passeios, atrações e restaurantes.
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Parque Lezama, local da primeira fundação de Buenos Aires |
Horários: segundas, quartas, quintas e sextas, das 11h às 19h. Sábados, domingos e feriados, das 10h às 19h. Fecha às terças.
Ingresso: 250 pesos para cidadãos do Mercosul (R$ 10/ R$ 5). Crianças com menos de 12 anos, maiores de 60 e pessoas com deficiência não pagam entrada.
O Parque Lezama não tem uma história muito bonita: um mercado de escravos funcionou lá até o Século 18. No final do Século 19, foi convertido em chácara pela Família Lezama, ricos comerciantes de gado que trouxeram um paisagista europeu para remodelar o matagal.
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Museu Histórico Nacional da Argentina, no Parque Lezama |
No interior do Parque Lezama, na antiga mansão dos Ezeiza, funciona o Museu Histórico Nacional da Argentina, dedicado especialmente à Revolução de Maio (de 1810, primeira proclamação da independência) e à Guerra de Independência (1810-1816).
O Fuerza Bruta foi criado em 2003 e, desde então, manteve pauta cativa em longas temporadas no Centro Cultural Recoleta. Atualmente (2022), quando o grupo está em Buenos Aires, as apresentações são no Estádio Obras Sanitárias (Avenida del Libertador nº 7345, Nuñez).
O espetáculo é uma espécie de Cirque de Soleil ligado no 220, uma mistura frenética de música, luzes, acrobacias e efeitos especiais que ocupam todo o espaço de apresentação (mais um galpão do que uma sala teatral).
A festa do Fuerza Bruta começa ainda no foyer da sala de espetáculo, onde um grande bar convida o público a comprar sua bebida, admitida dentro da sala de apresentação, e a música muito alta já vai esquentando o clima.
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Vá ver Fuerza Bruta. Aposto que você vai gostar |
Se seus planos de viagem coincidirem com as apresentações do Fuerza Bruta, essa é uma atração para colocar no topo do topo da lista.
Descubra se sua estadia em Buenos Aires vai coincidir com as apresentações do grupo consultando a agenda do Fuerza Bruta.
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Você toca numa questão bastante interessante, a de voltar a lugares já vistos. De modo geral, nunca planejo voltar a cidades ou lugares onde já estive. Creio que uma das poucas exceções foi Veneza, que já visitei 5 vezes, e uma ou outra mais por motivos como conexão, acompanhando alguém em primeira visita ou a visitar algum amigo. Mas realmente percebe-se muito mais as cidades quando nós ali estamos em revisita, sem aquela obrigação de ticar TODOS os pontos turísticos existentes. Eu sou bastante criterioso nessa questão. Não é porque o Tripadvisor ou o Frommers me diz que, p.ex., a Estátua da Liberdade é um lugar imperdível, que vou para lá. Nunca fui. A uma, por não achar interessante. A duas, pelas imensas filas. Creio que um termo bom para definir aquela viagem a lugares já vistos é "flanar". Para mim define bem a questão : andar à esmo, sem destino, olhando as pessoas, coisas, ruas, etc, etc.
ResponderExcluirAcho que você flanou por demais em Buenos Aires. Não ficou atração sobre atração. Para visitar ou flanar.
Buenos Aires é uma cidade que convida a flanar. Já passei dias e mais dias por lá sem sequer lembrar de "fazer turismo" no sentido clássico. Eu gosto de voltar a lugares conhecidos, especialmente os que oferecem a possibilidade de um encontro assim, sem "obrigações".
ResponderExcluirE sabe o que é mais interessante nisso tudo, Kenneth? É que tem um mundo de coisas que eu não vi em Buenos Aires, ainda. Minha lista de pretextos para voltar é muito maior do que a das atrações já "ticadas".
Bjo