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No alto, o Século 21 na Cidade das Artes e da Ciência.
Acima, o Século 15 na Lonja de la Seda: Valência caminha entre os tempos históricos
com uma graça e uma beleza muito raras |
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O animado vai e vem no Centro Histórico de Valência em um
final de tarde de outono. Ao fundo, a espetacular Catedral |
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A Art Nouveau Valenciana resplandece na fachada do Mercado
de Colón, ótimo lugar para bebericar e tapear |
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Valência não está para brincadeiras e já quer arrebatar seu
coração desde o primeiro instante. Desembarcar do trem na Estação del Nord é
mergulhar na Art Nouveau Valenciana |
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Eu fiquei fã dos passeios pelos Jardins do Túria, um parque
linear com mais de 10 km sobre o antigo leito de um rio |
Valência me deu tudo isso e mais o enorme prazer de ser sacudida por uma inesquecível surpresa: eu já sabia que seria legal, mas ela superou todas as minhas expectativas.
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Um grande programa em Valência é provar (devorar) uma paella na terra onde o prato foi inventado |
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As Torres de Quart, do Século 15, são uma porta fortificada
que restou da muralha medieval de Valência e uma das imagens mais reconhecíveis
da cidade |
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A Torre Micalet (Miguelete, em espanhol) é o famoso
campanário da Catedral de Valência |
A Catedral ou La Seu (a Sé) de Valência é, sem qualquer dúvida, a atração mais imperdível da cidade.
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O acachapante altar-mor da Catedral de Valência e, no alto, a
Capela do Santo Graal |
Entre os muitos tesouros da Catedral de Valência, o mais famoso é o “Santo Graal”, um cálice do Século 1º de nossa era, doado à igreja pelo rei Alfonso, o Magnânimo, no Século 15.
Se a peça é mesmo o cálice sagrado usado por Cristo e procurado por Indiana Jones, não consegui comprovar. Mas só a capela onde ele está guardado já vale a viagem.
Plaza del Mercado nº 1
🕑 Horários: De terça a sábado, das 10h às 19h. Domingos e feriados, das 10h às 14h
💲 Ingresso: € 2
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A luz rodopia junto com as colunas da Sala da Contratação,
na Lonja de la Seda |
A produção de seda foi iniciada pela comunidade judaica, no Século 14 e, 100 anos mais tarde, alcançou o posto de mais pujante atividade econômica de Valência.
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A decoração da fachada da Lonja de la Seda é super
rebuscada, tem gárgulas muito fotogênicas, motivos florais e animais |
Velluters é o bairro do Centro Histórico de Valência localizado entre as Torres de Quart e a Igreja do Pilar, a Oeste da Plaza del Mercado. Um bom motivo para esticar a visita à Lonja de la Seda por essa área (do ladinho) é ver o Museu da Seda, instalado no antigo Colegio del Arte Mayor de la Seda, do Século 17.
A construção a Lonja de la Seda teve a função prática de oferecer uma sede à atividade econômica, mas, principalmente, a missão simbólica de demonstrar e reverenciar esse comércio.
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A Sala da Contratação se abre para o belo Patio de los
Naranjos |
O ambiente mais espetacular da Lonja de la Seda é a Sala de Contratação, onde os comerciantes se reuniam para apresentar seus estoques, dar lances pelas mercadorias e contratar carregamentos de seda para diversas partes do Mediterrâneo.
A Sala de Contratação é realmente de cair o queixo: ela tem mais de 700 metros quadrados, 17 metros de altura e seu teto em abóbadas é sustentado pelas colunas mais esguias e elegantes que eu já vi — se inspiram em palmeiras, como as colunas da igreja do Mosteiro dos Jerónimos de Lisboa.
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A beleza vai do piso ao teto, sem escalas |
Em toda a amplidão da Sala de Contratação, as pedras volteiam em entalhes riquíssimos e a luz entra, farta, pelas vidraças generosas. Um escândalo de beleza.
A sala de Contratação fica logo no térreo, quase de cara para a entrada do edifício — mas faça-me o favor de não deixar de ver o resto da construção, porque é muito difícil apontar algo menos do que lindo lá dentro.
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O Salão Principal, contíguo à Sala da Contratação, tem um
forro que é um escândalo de lindo |
Garanto que você também vai ficar deslumbrada com as dependências do Consulado do Mar (os tetos são de rasgar a roupa), que funcionava nas dependências da Lonja, e com o chamado Salão Principal.
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O Salão Principal também se abre para o Patio de los Naranjos |
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Os salões do Consulado do Mar exibem forros preciosos, cheio
de entalhes e douramentos |
O Consulado do Mar é uma instituição bem mais antiga que a Lonja de la Seda. Foi criado na primeira metade do Século 13 para reunir os grandes armadores de Valência. Os líderes de cada ramo de comerciantes marítimos eram chamados de “cônsules”. Era como uma "federação do comércio" medieval.
No Século 16, o Consulado do Mar ganhou uma sede nas dependências da Lonja de la Seda, um pavilhão de três andares, em frente à Sala de Contratação, do outro lado do Patio de los Naranjos.
Plaza del Mercado
🕒 Horários: de segunda a sábado, das 7:30h às 15 horas.
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O Mercado Central de Valência é uma das preciosidades da Art
Nouveau na cidade. E o "recheio" é delicioso |
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Quer comprar apetrechos para fazer paella? No Mercado
Central tem. Mas também não deixe de provar uma horchata, bebida que é a cara
de Valência |
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As cúpulas do Mercado Central quase fazem a gente esquecer
de olhar para as gostosuras à venda |
Minhas visitas ao Mercado Central de Valência — sim, pelo menos uma por dia, enquanto estive na cidade — tinham um roteiro riquíssimo. Primeiro, eu xeretava os balcões dos restaurantes populares que funcionam do lado de fora do mercado, onde sempre surge inspiração para uma refeiçãozinha (diria Obelix) muito gostosa e a preços convidativos.
Depois, eu caminhava entre as bancas de peixes e hortaliças com a reverência de quem percorre os corredores de um museu e aproveitava para escolher umas frutinhas.
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A estrutura em ferro do mercado é bem característica da
Belle Époque |
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Do lado de fora do Mercado Central, restaurantes populares
servem ótimas comidinhas a bons preços |
O Mercado Central de Valência é um programão.
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Estonteante é um adjetivo até comedido pra a beleza da
Igreja de San Nicolás |
Calle Caballeros nº 35
🕒 Horários: de outubro a junho, as visitas são realizadas de terça a sexta, das 10h às 19h. Aos sábados, das 10h às 18:30h e aos domingos, das 13h às 19.
Entre julho e setembro, San Nicolás recebe visitas das 10:30h às 20:30h, de
segunda a sexta. Aos sábados, das 10h às 19:30. Domingos, das 13h às 20:30h.
Visitas guiadas aos sábados, ao meio-dia, e domingos, às 13h. Antes de ir, confirme os horários na agenda de San Nicolás.
💲 Ingresso: 8€, com audioguia incluído (explicações em espanhol, valenciano, inglês, italiano e francês). Há uma modalidade de bilhete combinado para ver A Igreja de San Nicolás, o Museu da Seda e a Igreja de los Santos Juanes. Informe-se sobre isso na bilheteria.
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Os afrescos barrocos renderam à Igreja de San Nicolás o
apelido de "Sistina Valenciana" |
Acreditem que eu quase passei batida por essa igreja linda, apelidada de “Sistina Valenciana” por conta dos estonteantes afrescos barrocos que recobrem todo seu interior.
É que a Carrer dels Cavallers/Calle de los Caballeros, onde se encontra San Nicolás, é só um pouquinho mais larga do que o corredor do meu apartamento e, pra completar, a entrada da igreja fica bem escondidinha.Quando você for, fique ligada em um cavalete com fotos convidando à visita para não passar direto.
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Fiquei completamente tonta e imensamente feliz na visita a San Nicolás |
A Igreja de San Nicolás é do Século 13 (antes, houve uma mesquita no mesmo local), mas o que a faz famosa é a decoração barroca, do Século 17. Prepare-se para ficar completamente tonta e imensamente feliz.
Carrer de Xátiva s/n
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O banquete visual em Valência já começa no
desembarque na Estação del Nord |
Esta fã descabelada da Art Nouveau já desembarcou em Valência com o coração aos pulos: é impossível não ser arrebatada de paixão pela beleza do principal terminal ferroviário da cidade, a Estació del Nord (bora chamá-la aqui pelo seu nome valenciano).
Linda de fazer o coração dar uma paradinha, a Estació del Nord é uma peça fundamental na rede de transportes da cidade e da Comunidade Valenciana. Nada menos do que 14 milhões de passageiros passam por ela todos os anos, seja para usar os trens de longa distância como os trens de cercanias. Ela também está integrada ao metrô e a um terminal de ônibus urbanos.
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A Estação del Nord é tão linda que eu quase esqueci que ela tem um propósito funcional |
Mas acho que a pessoa tem que ter um coração de pedra pra chegar num lugar como aquele e se limitar a cumprir os trâmites funcionais aos quais ela está primordialmente dedicada.
Eu, mesmo depois de uma viagem de quatro horas e meia, desde Barcelona, seca pra fumar um cigarro, não tive capacidade de apenas desembarcar do trem e sair arrastando minha malinha em direção ao hotel, como se nada houvesse.
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Acho que com este cartão de visitas, Valência quer dizer ao visitante que a cidade não fica devendo nada a Barcelona, no quesito Modernismo |
Comecei babando com a decoração interna da estação, com muita cerâmica vitrificada, mosaicos e os famosos trencadís tão queridos por Gaudí — aquela canjiquinha linda feita com pedaços irregulares de cerâmica quebrada.
Do lado de fora, a decoração em cerâmica quase tem cheiro, retratando muitas laranjas e flores de laranjeiras (azahar).
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Mesmo que você não chegue a Valência pela Estação del Nord,
vai ser fácil visitá-la: ela fica bem no Centro. ao lado da Plaza de Toros (à
esquerda na imagem) |
Inaugurada em 1917, a Estació del Nord foi projetada pelo arquiteto Demétrio Ribes, um dos expoentes do estilo Modernista em Valência. Ela fica bem no Centro da Cidade, a 500 metros da Plaza del Ayuntamiento (Prefeitura) e do ladinho da Plaza de Toros. Mesmo que você não chegue a Valência de trem, vai ter zero desculpas para não ir visitar essa maravilha.
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Quer Rococó? Também tem em Valência - a Casa do Marquês de Dos Águas é um escândalo de bonita |
🕒 Horários do museu: de terça a sábado, das 10h às 14h e das 16h às 20h. Domingos e feriados, das 10h às 14h.
💲 Ingresso para o museu: € 3
O Palau del Marqués de Dosaigües (nome valenciano da casa) pertenceu a uma família nobre das mais poderosas de Valência, a partir do Século 16. O edifício tem origens góticas, mas ganhou as feições atuais — exuberantíssimas — no Século 18.
Não deu tempo de ver o palácio por dentro (quem viu, garante que é deslumbrante). Mas a fachada, recoberta de relevos em estuque, já vale a caminhada.
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As janelas rococó fazem o maior sucesso |
A entrada principal do palácio é um cartão postal conhecidíssimo de Valência, onde figuras mitológicas dos atlantes representam os rios Turia e Júcar, o dois mais importantes da região, em alusão ao marquesado de Dos Águas (Duas Águas), título nobiliárquico dos donos da casa.
Valência é tão, mas tão bacana que uma de suas maiores
atrações é gratuita e sem hora pra abrir ou fechar.
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Jardins do Túria: os cidadãos de Valência se mobilizaram e conquistaram um parque |
Uma caminhada de menos de 200 metros separava minha
hospedagem — o mui bacana Bed&Breakfast Almirante, que vai ganhar um post
exclusivo — dos Jardins do Túria, um dos parques públicos mais legais que já
conheci. Claro que eu aproveitei muito essa vizinhança.
Os Jardins do Túria foram instalados sobre o antigo leito do
Rio Túria, que cortava o Centro Histórico de Valência e era danado pra arranjar
uma inundação. Na década de 90, o curso do rio foi desviado e Valência ganhou
um parque linear com 10 km de extensão e 110 hectares.
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Fiquei hospedada do ladinho dos Jardins do Túria e curti muito esse vizinho |
Um aspecto muito bacana na história desses jardim é que o projeto original do governo espanhol era cobrir o leito do rio com um monte de asfalto e pistas para automóveis.
Foi a mobilização do povo de Valência que
obrigou o poder público a encontrar essa solução tão mais bacana — quando as
comunidades se organizam, as cidades costumam sair ganhando, né?
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A grama do parque é pra deitar e rolar |
O trecho dos Jardins do Túria no Centro Histórico de Valência preserva as balaustradas seculares que margeavam o rio e as pontes que cruzavam o curso d’água, com um resultado muito bonito.
O trecho final do
parque é a Cidade das Artes e da Ciência, o famoso complexo concebido pelo
arquiteto Santiago Calatrava.
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As Torres de Serranos, do Século 14, antigo portão fortificado da muralha medieval de Valência |
⭐Torres de Serranos e Torres de Quart
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Serranos era a principal porta de acesso a Valência e se abria para a estrada de Zaragoza, capital do Reino de Aragão |
Originalmente, 12 portões fortificados controlavam o acesso à cidade. Com a demolição das muralhas, na segunda metade do século 19, as Torres de Quart e de Serranos estão lá para nos dar uma ideia do poderio das fortificações de Valência.
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As marcas de balas de canhão nas Torres de Quarts são testemunhas dos ataques sofridos por Valência na invasão napoleônica e na Guerra da Sucessão Espanhola |
Mas não só: as duas estruturas estão abertas ao público, que pode escalar suas escadas seculares e alcançar as plataformas superiores de ambas, dois tremendos mirantes para cidade.
As Torres de Serranos, do Século 14, eram a principal porta de acesso a Valência e se abriam para a estrada que levava à capital do Reino de Aragão, Zaragoza.
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Ao lado de Serranos, Quarts nos dá uma ideia de como era imponente a muralha de Valência, demolida no Século 19 |
As Torres de Quart são um século mais jovens do que Serranos. Nas duas velhas senhoras é possível ver as marcas dos ataques que sofreram, ao longo dos séculos, especialmente durante a invasão napoleônica (Século 19) e a Guerra de Sucessão Espanhola (Século 18).
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Eu até implico um pouco com a arquitetura acrobática de Calatrava, mas gostei muito da Cidade das Artes e das Ciências de Valência |
Em me acabei de fotografar a Cidade das Artes e das Ciências de Valência. Essa é mais uma atração que vai ganhar post exclusivo. Aguarde 😊.
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Coladinha ao Centro Histórico, a Ruzafa é um bairro de astral boêmio e meio alternativo, ótimo para farrear |
Valência também tem seu Eixample (“Ampliação”, em catalão e
valenciano), distrito que se desenvolveu a partir da povoação fora das muralhas
da cidade — assim como o Eixample de Barcelona. E é nessa região que fica o
gostoso Bairro da Ruzafa, vizinhança que está bombando entre os boêmios.
A origem do bairro é um jardim usado pela aristocracia moura
de Valência, no Século 9 (Rusafa, em árabe, significa “jardim”). Ao longo do
tempo, foi povoado por trabalhadores pobres e, no Século 19, a Ruzafa era um
bairro de operários. Agora, virou moda e tem atraído artistas, estudantes e
descolados.
Quem me levou à Ruzafa foram os queridos Nah Schiebel e João
Guilherme Brotto, de quem sou fã desde que escreviam o blog Pra ver em Londres —
hoje Pra ver no Mundo. Nah e João estavam morando em Valência e nos encontramos
pra uma farrinha deliciosa na Ubik Cafeteria Llibreria.
Antes de encontra-los, fiz um passeio pelo bairro, curtindo
o ambiente jovem e agradabilíssimo.
Se você curte lojinhas de designers, livrarias, galerias de
arte, boa gastronomia, coloque a Ruzafa no seu roteiro em Valência.
Ah, que delícia de post!!! Eu não tive tempo de perambular por Ruzafa e PRECISO voltar kkkkk
ResponderExcluirDesde que entrei no trem para voltar a Barcelona, eu planejo retornar a Valência. Fiquei apaixonadíssima pela cidade, Fer
ResponderExcluirSempre motivo de alegria ver a Fragata com texto novo :)
ResponderExcluirQue legal! É sempre motivo de alegria saber que alguém curte a Fragatinha. Bjo
ExcluirAdorei a viagem!
ResponderExcluirValência é apaixonante, Rosana :)
ExcluirAinda bem que você não está querendo vender nenhum produto, pois eu estaria falida... que post maravilhoso que faz a gente ficar com uma vontade irresistível de visitar Valencia!
ResponderExcluir😅😅 Mas pode confiar: Valência corresponde a cada palavra que escrevi aí e ainda sobra.
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