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O Museu Torres García está instalado nesse predinho art déco muito fofo, na Calle Sarandí, exclusiva para pedestres |
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O Peixe (1928) foi uma das muitas obras de Torres
García destruídas no incêndio do Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro, em
1978. O museu do artista exibe esta réplica |
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O Norte é o Sul (1935) é possivelmente a obra mais
conhecida de Torres García, uma afirmação da identidade sul-americana |
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O saguão do Museu Torres García tem até um laguinho com
carpas |
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As salas de exposição estão distribuídas por quatro andares
do museu |
Museu Torres García, Montevidéu
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Torres García dizia que precisava olhar as cidades de longe,
como desconhecidas, para pintá-las. Eu acho que o resultado tem muita ternura.
Acima, Rua com Casa e Nuvem Branca, de 1928 |
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Igreja em Perspectiva, de 1947 |
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Rua de Nova York, obra de 1940 |
Na exposição “A Cidade sem Nome”, que toma emprestado o título de um dos livros publicados pelo artista, a gente vê como Torres Garcia brincava
com a paisagem urbana, tomando delas os traços que vão virar abstrações
geométricas — ou se derramando em ternura para retratar cenas suburbanas,
bairros operários cinzas e ocres, cotidianos banais que se tornam extraordinários
porque tocados pelo artista.
Nas cidades de Torres García o olhar está sempre voltado para as vizinhanças fabris, para o vai e vem de uma carroça de verdureiro, os cafés boêmios e os bares proletários, a passagem do bonde.
A beira d'água e as embarcações (personagens recorrentes, para alegria desta Fragata) não se prestam a marinas bucólicas, mas à azafama dos portos entranhada na paisagem urbana.
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Em sua Fase Mediterrânea, Torres García realizou diversos
afrescos com temas clássicos. No alto, A Filosofia e a Musa, de 1911. Acima, Arquitetura
com figuras clássicas, de 1914 |
A sessão “Arte Mediterrânea” se concentra na obra produzida
por Torres García entre 1906 e 1915, quando vivia em Barcelona — nascido em
Montevidéu, filho de um catalão, o artista cruzou o Atlântico com a família,
ainda adolescente, quando seu pai decidiu retornar às origens em busca de
trabalho.
Em Barcelona, Torres García esteve ligado ao Noucentisme (um trocadilho em catalão que brinca com a ideia de “novecentismo”, referente ao Século 20, e com “nou”, que significa “novo”.
Ele acabou se afastando desse movimento e se aproximando do Modernismo, especialmente de Antoní Gaudí, o gênio que arquitetou La Pedrera e a Basílica da Sagrada Família, dois ícones de Barcelona.
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Uma cena de Nova York, onde García tentou a vida, na década
de 20 do século passado |
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Torres García também pintou sua Maja Desnuda |
(Se quiser saber mais sobre esses movimentos, veja esses
posts: Roteiro do Modernismo em Barcelona e O
que ver no Museu Nacional de Arte da Catalunha-MNAC).
Para Gaudí, Torres García chegou a desenhar alguns vitrais para a Basílica da Sagrada Família (que o arquiteto não curtiu e dispensou).
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Arte Construtiva, de 1943 |
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A permanente reflexão de Torres García sobre a
arte — seu sentido e função — está em diversos livros e artigos
publicados pelo artista e é lembrada em vários ambientes do museu |
Joaquín Torres García estudava com muita dedicação a cosmogonia dos povos da América do Sul, que acabou se tornando um elemento essencial à sua arte. Gosto de tentar identificar em seus quadros os traços pré-colombianos que andei vendo por aí, nesse meu vício por sítios arqueológicos. Ao mesmo tempo, o sotaque é sempre Modernista.
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Figuras com Pombas, de 1949 |
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Busto de Toureiro, de 1941 |
García também gostava de construir objetos aparentemente banais (bonequinhos, casinhas), mas absolutamente instigantes.
São os juguetes transformables, ou brinquedos transformáveis, aos quais podemos dar o ordenamento que quisermos, jogos de armar que buscam aproximar a arte do lúdico, fugindo da pompa que muitas vezes cerca a contemplação.
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Sou encantada com os brinquedos transformáveis de Torres García.
Na imagem Cão, de 1924, e Dois Homens, de 1928 |
Reproduções de alguns desses brinquedos estão à venda na ótima lojinha do museu. É claro que eu, que tenho uma coleção enorme de casinhas, não poderia deixar de ter (e de cuidar como um tesouro) a pequena vila feita de bloquinhos de madeira pintados, evocação de um bairro ferroviário.
Comprei minha vilinha na visita ao museu de 2011 e morro de amores por ela.
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Autorretrato de Joaquín Torres García, pintado em 1900 |
Um pouquinho da história de Torres García
Joaquín Torres García nasceu em Montevidéu, em 1884. Sua formação artística ganhou impulso no final da adolescência, quando se mudou para a Catalunha, terra natal de seu pai, com a família.
Lá, foi aluno da Escola Oficial de Belas Artes de Barcelona,
por onde também passaram Pablo Picasso e a nata do Modernismo Catalão, seja na
pintura, na escultura, no design ou na arquitetura.
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Lembranças de Barcelona: no desenho para ilustrar o livro A Cidade sem Nome, García retrata a "Catedral do Povo”, a Basílica de Santa Maria del Mar |
Em 1921, com 47 anos e filhos pra criar, García foi tentar a vida em Nova York, onde sobreviveu desenhando e fabricando brinquedos de madeira — ocupação que conheceu com o avô materno, uruguaio. De perrengue em perrengue, retornou à Europa e acabou se estabelecendo na França, onde se aproximou do pintor holandês Piet Mondrian e do Movimento De Stijl.
Mas foi só a partir de 1935, de volta a Montevidéu,
que Torres-García iria cozinhar todas essas referências em seu Universalismo
Construtivo genial.
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A Grade esculpida em ferro exposta no saguão do museu lembra
a obra Grafismo em Branco e Preto, um dos 74 trabalhos de Torres García
destruídos no incêndio do MAM |
Em 1978, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro realizava
uma exposição sobre Torres García, com obras cedidas por diversos acervos. Na
madrugada de 8 de julho daquele ano, um incêndio furioso destruiu o museu, que
na época era um dos mais importantes do Brasil.
Entre as perdas irreparáveis — arderam obras de
Picasso, Magritte, Miró, Portinari, Di Cavalvalcanti... — nada menos do
que 74 trabalhos do pintor uruguaio foram destruídos.
Torres García pelo mundo
Você verá o trabalho de Joaquín Torres Garcia nos principais museus do planeta. Eu, que sou fã descabelada do artista, divido os museus em duas categorias: os que têm e os que não têm obras do meu xodó — eu digo isso em relação a El Greco também. Museu bom tem que ter esses dois no acervo.
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O Beaubourg de Paris dedica uma sala inteirinha a Torres García. O peixe é uma imagem recorrente na obra do artista. A escultura em madeira (acima) é de 1946 |
Já encontrei Torres García no Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (MALBA), no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), no Centro de Artes Reina Sofia de Madri, no Centro de Artes Georges Pompidou (Beaubourg), em Paris... A lista é interminável.
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Estrutura com Esquema de Objetos, Torres-García no Museu Botero, em Bogotá |
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Torres-García no Museu Nacional de Belas Artes de Buenos Aires (MNBA) |
Calle Sarandi nº 683, Ciudad Vieja
Colonia del Sacramento
Punta del Este
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Oi, muito bacana :) Parabéns pela seleção das imagens e o texto, tá tudo maravilhoso! Só uma correção, não precisa deixar publicado. o incêndio do MAM foi em 1978 (muito triste) :(
ResponderExcluirObrigada pela correção 😊. Já arrumei o texto
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