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Uma cidade com a culinária de Nova Orleans nem precisava ser
linda, animada, berço do Jazz e tudo mais pra ser espetacular |
Nesse concerto culinário irresistível, os naipes das águas (peixes e frutos do mar) e da terra (carne de porco e frango) se encontram sob a regência de molhos densos e sensuais que fazem nosso paladar sair dançando pelas ruas, como nas second lines de uma parada de Mardi Gras. Comer em Nova Orleans é uma dança gustativa inesuquecível.
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Prepare-se para repetir muito os beignets do Café du Monde |
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O po'boy (esq) é o sanduba elevado à categoria de divindade. À direita, pralinês cobertos com chocolate, o tipo de coisa que não fica muito tempo na prateleira |
A sedução da culinária de Nova Orleans é uma teia requintada à qual vale a pena se entregar. Veja essas dicas de restaurantes em Nova Orleans e alguns pratos que você não pode deixar de provar:
Comer em Nova Orleans
Pratos típicos de Nova Orleans
Acho que o grande tchan dessa paella creole é a presença da andouille, a linguiça de porco defumada, herdada dos colonizadores franceses e muito presente na cozinha de Nova Orleans.
Em função da fama, a jambalaya está presente na maioria dos cardápios da área turística de Nova Orleans. Extamente por isso, há sempre o risco de comer gato por lebre em restaurantes pra inglês ver. Uma das boas jambalayas da cidade é servida no Mother's Restaurant.
Também não permita que o prato domine suas aventuras gastronômicas em Nova Orleans. Jambalaya é gostosa, sim, mas não é a única maravilha culinária que você vai encontrar na cidade.
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Preciso confessar que me acabei no Gumbo. Ô, coisa boa! |
⭐ Gumbo
O gumbo é um ensopado bem caldoso e pode ser feito com vários ingredientes da carne de porco aos frutos do mar, passando pelos embutidos, como a linguiça andouille. O que não muda é a consistência espessa, a porção de arroz servida junto e o sabor delicioso da simplicidade.
A alma do gumbo é o roux — farinha de trigo escurecida em óleo ou manteiga, outro ingrediente clássico e frequente na culinária da Luisiana que serve de base para uma infinidade de ensopados e pratos molhados .
Ah, e quando você ouvir o refrão "Jambalaya, crawfish pie and file gumbo", não se trata de gumbo de filé mignon, mas do pó de filê (sassafrás), a terceira maneira de engrossar o caldo que é a alma do prato.
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O po'boy do Mother's Restaurant emplaca qualquer lista de
melhores coisas para fazer (devorar) em Nova Orleans |
⭐Po’Boy
Há diversas variações do Po’boy, que podem ser recheados com linguiça e frutos do mar. O segredo que torna esses sandubas irresistíveis é a cozinha de Nova Orleans, seus molhos fortes e envolventes.
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Smothered okra: parece caruru, mas leva linguiça, camarões
frescos e não tem dendê |
Smothered significa, literalmente, “sufocado”. É uma forma de cozinhar os alimentos em seus próprios sucos, usando nada ou quase nada de água. A técnica também é conhecida por seu nome francês, etouffer.
Esse tipo de cozimento é aplicado a frutos do mar, carnes e vegetais e deixa tudo muito gostoso. Mas o tal do quiabo sufocado é especial.
Smothered okra lembra bastante o caruru baiano, embora fique mais sequinho e não leve dendê — o incremento fica por conta da linguiça defumada e de camarões frescos. E é muito apimentado.
⭐ Creole sauce
⭐ Blackened Fish
Sua massa é feita de farinha, açúcar, leite, ovos e fermento e frita em óleo bem quente para que os bolinhos fiquem crocantes por fora, macios por dentro.
Por cima, despejam-se quantidades industriais de açúcar de confeiteiro e... voilà, eis uma inexplicável delícia resultante de um processo tão prosaico...
⭐ Café com chicória
Café com chicória é a grande bossa do Café du Monde (além dos beignets, claro). Eu até torci o nariz pra a ideia, mas acabei curtindo. E dizem que a chicória é mais saudável.
Em Nova Orleans, a mistura ou substituição integral de um produto por outro marcou os anos da Guerra Civil Americana, quando a Marinha da União promoveu um pesado bloqueio ao porto da cidade, impedindo a entrada de inúmeras mercadorias, entre elas, o café.
Vocês sabem que eu sou viciada em café e chata pra caramba com a qualidade do que bebo, motivo que me leva a implicar com o café feito pelos norte-americanos, em geral.
Pois meu veredito é o seguinte: entre aquela aguinha suja onde os gringos desperdiçam o sagrado pó de café e um encorpado, forte e cheiroso café com chicória, prefiro mil vezes o segundo.
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Southern biscuit com geleia no Café Rose Nicaud: meu jeito
favorito de acordar em Nova Orleans |
Os southern biscuits viraram meu vício no café da manhã. Eles chegam à mesa quentinhos, macios, prontos para serem lambuzados de manteiga, geleias ou melaço (hummmmmmm) e transportarem esta comensal ao paraíso.
Fica bom de gemer, mas como tudo na vida pode melhorar, inventaram a modernagem de acrescentar chocolate aos pralines. Pode até conspurcar a tradição da receita, mas é de fazer o comensal rolar pelo chão em puro deleite.
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Se eu tiver que escolher uma única iguaria de Nova Orleans |
O pudim de pão à moda creole é enriquecido com canela, noz moscada ou outro tipo de especiaria e é sempre servido quente, com calda de Bourbon (o uísque gringo), conhaque ou rum. Vale a viagem.
Onde comer em Nova Orleans
⭐Mother's Restaurant401 Poydras Street, Downtown.
🕒 Diariamente, das 7h às 22h.
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Mother's Restaurant: 80 anos de tradição - e bom demais |
Dizem que a casa lota no horário do almoço, nos dias de semana — hoje com um público bem mais eclético, reunindo trabalhadores braçais, engravatados do Business District e até turistas. Cheguei lá umas 16:30h e o movimento estava bem tranquilo.
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O Mother's é simples e imperdível |
Os po’boys do Mother’s Restaurante custam entre US$ 9 e US$ 16, dependendo do tamanho ou tipo de recheio.
Guarde apetite para a sobremesa: o pudim de pão com calda de brandy (porção pantagruélica por US$ 6.25) é de sair gritando pela rua.
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Bennachin, restaurante africano num cantinho sossegado da
Royal Street |
🕒 De domingo a quinta, das 10h às 21h. Sextas e sábados, das 11h às 22h
Instalado em um trechinho bem sossegado da Royal Street, o Restaurante Bennachin tem um cardápio de especialidades africanas, com ênfase na culinária das regiões que hoje são a Gâmbia e Camarões.
Como boa baiana, sou incapaz de resistir à gastronomia das diversas tradições da África e gostei muito do meu jantar.
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O ambiente no Bennachin é bem caseirão |
O carro chefe do Benachim é uma entrada, o mburu akara, bolinhos de feijão fradinho fritos, acompanhados de molho de tomate e pão. Soa familiar? Sim, akara é o nosso (meu!) acarajé, apesar dos acompanhamentos diferentes.
O akara do Bennachin merece a fama. Deu vontade de repetir. A porção custa US$10.95.
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Akara e (abaixo) ensopado de camarões: me senti em casa no Restaurante
Bennachin |
O prato é muito saboroso e gigantesco — não consegui dar conta dele inteiro, e olha que eu cheguei com fome ao Bennachin — e custa US$ 17.90. O Bennachin não é um restaurante barato, mas vale a pena.
1104 Decatur Street, French Quarter.
🕒 De domingo a quinta, das 11h às 23h. Sextas e sábados, das 11h à meia-noite
Não bastasse ter uma das melhores programações musicais que encontrei em Nova Orleans, o BB King’s Blues Club tem uma cozinha bem bacaninha.
Almocei muitíssimo bem lá, assistindo a uma ótima banda de blues — já falei pra vocês que a farra musical em Nova Orleans começa cedo.
O Pedi o yazoo creole catfish (US$ 19), saborosíssimo. O preparo é beeeem Luisiana: a posta de peixe é frita sobre temperos até ficar bem escura por fora (blackened). É servida com camarões e lagostins (crawfish) e muito creole sauce.
Os drinques do BB King’s Blues Club também são interessantes. Sobre a parte musical da casa, falei aqui neste post: Onde ouvir música em Nova Orleans - Jazz e outras maravilhas
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Gumbo do Three Muses: bom de repetir |
⭐Three Muses
536 Frenchmen Street, Faubourg Marigny.
🕒 O restaurante funciona diariamente, das 17h às 22:30h. O bar abre de segunda a quarta das 17h às 22h, quintas e domingos até as 23h e sextas e sábados até a meia-noite.
Outro lugar onde fui para ouvir música e acabei comendo muito bem. A cozinha do Three Muses é super reputada entre as casas da Frenchmen Street e os elogios não são à toa.
A fórmula do Three Muses é servir pratos não muito grandes, a preços compatíveis, pra que o estômago muito cheio do cliente não convide a encerrar a noite. Nada impede, porém que a gente repita o gumbo da casa (US$ 9), o melhor que comi em Nova Orleans.
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O French Market é uma ótima atração turística e gastronômica
em Nova Orleans |
Decatur Street, entre Saint Anne Street e Barrack Street.
🕒Diariamente, das 9h às 18h.
Antes de ser “francês”, o French Market foi indígena. Era naquela faixa de terreno à beira do Rio Mississípi e que hoje acompanha o traçado da Decatur Street que as tribos se encontravam para trocar mercadorias, antes da chegada dos europeus.
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O French Market tem diversas opções de frutos do mar a preços pagáveis |
Os colonizadores franceses e, posteriormente, espanhóis, mantiveram a tradição, assim como os norte-americanos.
Hoje, o French Market se estende por seis quadras, e — para além das barracas de artesanato, antiguidades e hortaliças — é a sede de vários ícones gastronômicos de Nova Orleans, como o Café du Monde e a loja Aunt Sally’s Original Pralines.
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Dá pra fazer uma boa farra gastronômica no French Market. Eu adorei esta lagosta frita (dir) |
Eu experimentei os frutos do mar do Seafood Dock, que também serve pratos tradicionais, como o gumbo. A cauda de lagosta frita ao molho de manteiga (US$ 18) estava um show. E as ostrinhas também estavam deliciosas.
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Eat: boa comida e bons preços em um espaço sossegado |
900 Dumaine Street, French Quarter.
🕓 De terça sexta, 11h às 14h e das 17:30h às 22h. Sábados: brunch das 9h às 14 e jantar das 17:30h às 22h. Aos domingos, abre só para o brunch, das 9h às 14h. Fecha às segundas.
Como prato principal, pedi costeletas de porco defumadas e purê de batatas (US$ 18). Elas são servidas com um molho similar ao barbecue, mas ainda mais espesso e mais condimentado.
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O Café du Monde fica 24 horas no ar para sua orgia de
beignets |
Eu já fui várias vezes a Roma e nunca vi um papa. Mas ir a Nova Orleans e não passar pelo Café du Monde seria um pecado mortal.
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Beignets do Cadé du Monde? Quero todo dia |
A catedral dos beignets está localizada estrategicamente no meio da área mais movimentada do French Quarter, em uma das pontas do French Market, a uma curta distância de Jackson Square exatamente (desconfio) pra ninguém ter desculpa: tem que ir lá pedir a bênção.
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O Café du Monde vive lotado e a produção frenética na
cozinha (abaixo) acompanha o ritmo do salão |
Os garçons do Café du Monde já tiram os pedidos por telepatia — observando aquele mundaréu de mesas lotadas, não vi ninguém consumindo nada que não fosse uma xícara de café com chicória e sua porção de beignets (esse "combo" custa US$ 6). E tá certo: pra quê variar o que é perfeito?
⭐ Café Rose Nicaud
632 Frenchmen St, Faubourg Marigny
🕒 De segunda a sexta, das 7h às 18h. Sábados e domingos, das 8h às 18h.
Meu primeiro café da manhã em Nova Orleans foi neste café simpático, bastante procurado por moradores do Faubourg Marigny. Lá eu fui apresentada aos southern biscuits e pronto, viciei. Outra coisa que me fisgou pra valer foi o café forte, bem diferente da aguinha norte-americana.
O café oferece várias modalidades de breakfast, inclusive aqueles menus pantagruélicos onde entram salsichas e feijões.
Eu, que sou frugalzinha de manhã, recomendo as panquecas (ótimas), os muffins e, claro, os southern biscuits. O café da casa é forte e saboroso, a gente até esquece que está nos Estados Unidos — e, de certa forma, em Nova Orleans a gente não está, mesmo 😀.
🕒 Diariamente, das 8h às 18h.
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Quer bagels novaiorquinos em Nova Orleans? Pois teeeeeeem |
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Aunt Sally's, os pralinês mais famosos de Nova Orleans |
Doces em Nova Orleans
⭐Aunt Sally's Original Pralines
810 Decatur Street, Frenchmen Market, French Quarter
O tempo passou, mas a empresa garante que o processo artesanal de prepare desse típico caramelo de Nova Orleans continua o mesmo.
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Depois dos pralinês, experimente outros encantos do balcão
da Tia Sally |
Além da versão tradicional, há os pralinês cremosos, em cinco sabores (caramelo, chocolate, banana foster, especiarias e café com leite). Os de chocolate são de morrer.
Experimente, também, o doce de casca de laranja coberto com chocolate amargo de Tia Sally e você não vai se arrepender.
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Tente não enlouquecer com as cerejas cobertas por chocolate
amargo da Evan's Creole Candy Factory |
🕒 Diariamente, das 9h às 18h
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Evan's: bastaria um motivo - mas, felizmente, são muitos |
Meu roteiro musical nos EUA
Dicas de transporte em Nova Orleans - como chegar e como circular pela cidade
Nova Orleans e o Bonde chamado Desejo
Onde ouvir música em Nova Orleans - Jazz e outras maravilhas
Hospedagem em Nova Orleans - French Quarter e Faubourg Marigny
Arredores de Nova Orleans - bate e volta
Todas as dicas dos Estados Unidos - post índice
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Depois da leitura dessas delícias, só o frio para tolher a minha ida imediata à New Orleans. O jeito é esperar!!!!
ResponderExcluirO inverno de Nova Orleans é bem camarada, Kenneth - e as delícias da culinária local esquentam a alma e o corpo :)
ExcluirBom dia! Por favor, conhece algum guia brasileiro em Nova Orleans?Estarei lá de 11 a 17 de agosto! Obrigada!
ResponderExcluirInfelizmente, não conheço brasileiros morando em Nova Orleans. Mas o povo da cidade é muito simpático :)
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