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| Meus pezinhos na Calçada da Fama do Orpheum Theater de Memphis, junto com um dos reis da cidade |
Poucas vezes na vida vi uma cidade com tanta alma quanto Memphis — e de cidades com alma eu entendo, pois nasci e cresci em Salvador. Às margens da vastidão do Rio Mississippi, a capital do blues e do rock’n’roll guarda muitas histórias, cicatrizes profundas e um ritmo que convida a dançar no meio da rua.
Quando se fala em roteiros criativos, Memphis é incontornável.
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| Graceland, o castelo de Elvis, virou um imenso museu dedicado à memória do Rei do Rock'n'Roll |
Menos famosa que sua prima Nova Orleans, menos grandiosa do que Chicago ou Nova York, menos solar que Miami, ela materializa os versos de Caetano: “o negro que viu a crueldade bem de frente / E ainda produziu milagres de fé no extremo ocidente”.
Feita de ritmo e emoção, Memphis não precisou de esforço algum para entrar na lista das cidades mais apaixonantes que já visitei.
Veja por que:
Roteiros criativos - Memphis
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| Esquina da Beale Street com o Bulevar B.B. King: ô endereço chique, leitor@s |
Onde o blues encontrou uma casa
Memphis não é um parque de diversões musical. Ela carrega as cicatrizes das diásporas, da segregação e da violência racial.
A cidade se tornou a grande casa do blues a partir da chamada Grande Migração, quando cerca de 6 milhões de afro-americanos deixaram o sul dos Estados Unidos em direção a cidades do norte e do oeste. O destino eram empregos e ambientes menos opressivos em lugares como Chicago, Detroit e St. Louis.
Os mais pobres, sem recursos para seguir viagem, encontravam em Memphis um porto seguro. Foi assim que o blues rural do Delta do Mississippi criou raízes profundas na cidade.
O berço do rock’n’roll
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| O Sun Studio continua em plena atividade e pode ser visitado por apaixonados pelo Rock |
Em 5 de julho de 1954, um rapaz de 19 anos entrou no Sun Studio, em Memphis, para gravar um blues chamado That’s All Right, Mama. Sim, era Elvis Presley. Sem banda própria, ele chamou dois amigos que tocavam country para acompanhá-lo. E assim, fiat lux — fez-se o rock’n’roll.
(Embora já houvesse outros experimentos de fusão
blues-country, essa gravação se tornou lendária e marcou a história do gênero
que mais amo.)
Memphis, que já era polo do blues, rhythm’n’blues e soul, virou também a meca do rock, atraindo artistas como Johnny Cash, Jerry Lee Lewis e Carl Perkins para gravar no Sun Studio. O estúdio continua em plena atividade, recebendo visitantes como um museu — ou uma catedral da música.
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| Os shows em Beale Street começam de manhã e varam a madrugada |
Beale Street: o endereço da alma
Já contei aqui na Fragata que Beale Street foi a 5ª Avenida, a Broadway e a Wall Street da comunidade negra de Memphis, reunindo comércio, bancos e casas de espetáculo — como o Daisy Theatre, inaugurado em 1917 — para uma população que floresceu econômica, social e culturalmente, mesmo à sombra da segregação.
Hoje, mesmo lotada de turistas, a qualidade da música que se ouve ali desafia qualquer tentativa de transformar a rua em mero parque temático.
Graceland: o universo de Elvis Presley
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| Jardim da Meditação e Túmulo de Elvis em Graceland |
Além do brilho e das vitrines, Graceland mostra o homem por
trás do ídolo, com suas manias, afetos e inquietações.
Um dos pontos mais comoventes é o Jardim da Meditação, onde
Elvis gostava de refletir e onde hoje está seu túmulo.
Lorraine Motel e a luta pelos direitos civis
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| O Lorraine Motel, local do assassinato de Martin Luther King, agora sedia o indispensável Museu Nacional dos Direitos Civis |
Em 1968, Martin Luther King Jr. foi assassinado na varanda do Lorraine Motel, um instante que se tornou marco na história dos Estados Unidos.
O prédio hoje abriga o National Civil Rights Museum (Museu Nacional dos Direitos Civis), o
espaço mais poderoso que já visitei nos Estados Unidos.
O museu — assumidamente militante — narra a longa luta dos afro-americanos por direitos básicos: votar, escolher onde sentar no transporte público e existir sem ameaças.
Não é uma visita leve — nem deve ser. Mas é absolutamente
necessária.
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