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O Mercado da Cantareira virou passeio turístico, mas era lá que eu gostava de fazer compras quando morava em São Paulo |
Se
São Paulo me ensinou a gostar de
feiras,
Piracicaba me ensinou a gostar de mercados. Foi em 1980, eu estava na cidade participando do 32º Congresso da UNE. Na época, era comum fazermos mutirões para vender os jornais das nossas organizações políticas. O meu era a Tribuna da Luta Operária (TLO) e o local escolhido foi o
Mercado Municipal, lotado na manhã de sábado.
Nem lembro se consegui vender toda a minha cota de TLOs, mas jamais esqueci as jabuticabas reluzentes, que quase não cabiam na casca, de tão gordas. Enquanto devorava um quilo das preciosas em menos de uma hora, ia sendo iniciada na devoção à infinidade de apelos aos cinco sentidos que há nos mercados e eu, até então, conhecia mais das leituras das Mil e Uma Noites do que da vida real.
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Congresso da UNE, Piracicaba, 1980:
no meio da militância, tinha as jabuticabas |
Uma década depois de Piracicaba, morando em São Paulo, descobri o Mercado Municipal, na Rua da Cantareira, outra festa cinco sentidos.
Foi a época do encantamento pelos temperos, quando ficava horas contemplando-os, todos juntos, num quadro inebriante. Adorava a sugestão de terras distantes em cada cheiro. Voltava a ser a criança dona de um estojo de lápis-de-cor com 72 peças, pouco ligando para meu inexistente talento para o desenho — até hoje, arrisco-me pouco além do alho, da páprica e do manjericão no trato com as panelas.
Na última passagem por São Paulo, fui matar a saudade do Mercado da Cantareira, que anda meio turístico, mas não perde o poder de me seduzir.