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A Cuca, de Tarsila do Amaral, pertence ao Museu de Grenoble,
na França, mas eu tive a alegria de vê-la cara a cara no MoMA de Nova York. Viajar faz bem pra os olhos |
Faz muito tempo que em vinha batucando este post. Afinal, uma das minhas principais razões pra viajar é ver coisas bonitas pintadas, esculpidas, desenhadas e grafitadas mundo afora — e cada vez me contento menos em ver a produção artística apenas dos rafaéis, caravaggios e diegos que fazem a fama dos museus.
Quero ver a arte das mulheres, também.
O empurrãozinho final para concluir o texto foi dar de cara com um cartaz/manifesto das Guerrilla Girls, novidade no acervo do MASP - Museu de Arte de São Paulo, que voltei a visitar no início de novembro, em uma temporada paulistana.
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Manifesto das Guerrilla Girls no MASP: elas têm toda a razão |
As Guerrilla Girls são um coletivo de artistas feministas anônimas, com a missão de denunciar a desigualdade de gênero e raça dentro da comunidade artística. E elas têm toda razão: o mundo da arte é machista e nosso olhar de apreciador@s de arte também é.
Apesar do apagamento da arte das mulheres — seja no desestímulo à produção artística feminina ao longo dos séculos, seja no pouco interesse de quem exibe, compra e olha — esse é um universo cheio de gênias.
As mais excepcionais conseguem furar o bloqueio e chegar até nós sem que a gente faça muito esforço — Frida Kahlo (1907-1954) e Tarsila do Amaral (1886-1973), por exemplo. Outras, a gente tem que procurar.
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A Valsa (1892), de Camille Claudel, no Museu
Soumaya da Cidade do México |
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Esculturas de Rebeca Matte no Museu Nacional de Belas Artes
de Santiago do Chile |
E foi procurando (e viajando) que eu conheci as pintoras mexicanas Remédios Varo (1908-1963) e Maria Izquierdo (1902-1955), as uruguaias Berta Luisi (1924-2008) e Petrona Viera (1895-1960), as argentinas Mildred Burton (1942-2008) e Raquel Forner (1902-1988) e a escultora chilena Rebeca Matte (1875-1929), só pra ficar nas fronteiras da América Latina e nos marcos do Século 20.
O apagamento é ainda mais intenso quando se trata de artistas negras. É o caso da brasileira Maria Auxiliadora (1935-1974), que em sua curta vida produziu uma obra fascinante, retratando a cultura popular, rituais religiosos de matriz africana e cenas cotidianas.
Autodidata, Maria Auxiliadora aprendeu arte em casa, com a mãe bordadeira, pintora e escultora. Foi descoberta quando expunha seus trabalhos na feirinha da Praça da República, em São Paulo. Teve sua obra exibida na Europa, mas a consagração como pintora só ocorreria após a sua morte.
Hoje, quadros de Maria Auxiliadora integram coleções importantes,
como a do MASP, a do Museu de Belas Artes de Boston (EUA) e do Museu de Art
Naïf de Laval (França).
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Três Mulheres, de Maria Auxiliadora, no MASP |
Também se fala muito pouco da norte-americana Laura Wheeler Waring (1887–1948). Ela foi uma das principais figuras da Renascença do Harlem, movimento que eclodiu na década de 1920 naquele bairro de Nova York, de população majoritariamente afrodescendente.
Laura teve a chance de estudar em Paris e trabalhou a vida
toda como professora de artes para poder pintar. É aclamada principalmente por
seus retratos de personalidades negras norte-americanas. Grande parte desta coleção pode ser vista na National Portrait Gallery dos EUA, em Washington.
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Fiquei encantada com esses trabalhos de Olga Sacharoff
no Museu Nacional de Arte da Catalunha, em Barcelona. Acima, Um
Casamento. No alto, Os recém-casados. As duas obras são de 1923 |
Ampliando o tempo e a geografia, as viagens me deixaram cara a cara com a obra sensacional de Artemísia Gentileschi (1593-1653), uma gênia italiana do Século 17.
Também me permitiram conhecer a existência de Sofonisba Anguissola (1532-1625), uma pioneira admirada por Michelangelo.
E me mostraram a beleza da produção de Berthe Morisot (1841-1895), uma impressionista que não deve nada aos monets, manets e companhia.
Descobrir a arte das mulheres dá trabalho: a gente tem que pesquisar (santa internet!) e nunca esquecer de fuçar aqueles cantinhos menos concorridos dos museus. Mas o resultado do esforço é um vendaval de belezas que nunca mais vai sair das nossas retinas e memórias.
Neste post, listei um timaço de artistas mulheres que, tenho
certeza, você também vai adorar encontrar nas suas próximas viagens. Bora?
A arte das mulheres - o que vi de bacana por aí
Quando comecei a me interessar por História da Arte, lá pelo início da adolescência, parecia que aquele mundo de telas, afrescos e esculturas era exclusivamente masculino. Mas o Modernismo Brasileiro, com suas imensas Tarsila do Amaral (1886 - 1973) e Anita Malfatti (1889 - 1964), me fazia desconfiar que a história estava mal contada.
E eu tinha uma prova bem eloquente ao alcance dos olhos. Afinal, O Boi na Floresta, um quadro magnífico de Tarsila, faz parte do acervo do Museu de Arte Moderna da Bahia, onde bati ponto com frequência, nem que fosse só pra ver o pôr do sol no Solar do Unhão.
E o que dizer de A Estudante, de Anita, que sempre me deixou meio hipnotizada, a cada visita ao MASP?
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Duas provas irrefutáveis de que arte também é coisa de
mulher.Acima, A Estudante, de Anita Malfatti. No alto, o meu xodó das
artes plásticas, O Boi na Floresta, de Tarsila |
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Djanira é maravilhosa. No alto, A Costureira.
Acima, O Circo, uma obra que me emociona demais |
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9301, de Fayga Ostrower |
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Os jogos e os enigmas (1954), de Maria Leontina. As
quatro fotos acima são um convite pra você visitar o Museu Nacional de Belas
Artes, assim que ele for reaberto |
Não dá pra falar em arte no Brasil sem falar de Tarsila do Amaral, grande nome do nosso fertilíssimo e deslumbrante Modernismo.
Nascida em
uma família da elite cafeeira de São Paulo e estudante de arte na Europa, Tarsila
pintou o Brasil e o imaginário brasileiro com paixão.
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O Abaporu, a obra mais importante de Tarsila, pertence ao
acervo do MALBA- Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires |
Sua obra mais importante é O Abaporu, de 1928, um marco que inspirou o Manifesto Antropofágico de Mário de Andrade — abaporu, em língua tupi-guarani, significa “aquele que come carne humana”.
O que Mário propunha no manifesto era uma arte brasileira que soubesse devorar as referências estrangeiras para digeri-las e usá-las como insumo, construindo uma estética, uma linguagem e uma temática só nossa.
A arte de Tarsila é exatamente isso — e muito mais do que
isso.
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Exposição de Tarsila do Amaral no MoMA de Nova York, em 2018 |
Hoje parece óbvio, mas, naquele Brasil do início do Século 20, quando a produção artística ainda orbitava o acadêmico europeu, a ousadia dos nossos modernistas resultou em um dos nossos maiores patrimônios.
Eu sou louca por Tarsila do Amaral — e muito grata por O Boi na Floresta, um dos principais inventores do meu olhar.
Fiquei emocionadíssima
de ver a mostra dedicada a ela no Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA,
em 2018. Tanto pela rara oportunidade de ver tantas de suas obras reunidas
quanto por observar a reação embasbacada dos outros visitantes.
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O Mamoeiro (1925) pertence à Coleção de Artes Visuais
do Instituto de Estudos Brasileiros da USP, em São Paulo |
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O arrebatador Operários (1933) integra o acervo do
Palácio Boa Vista, em Campos do Jordão (SP) |
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Tarsila no MASP. No alto, Composição (Figura só), de 1930. Acima,
Porto I, de 1953 |
O MoMA e a viagem a Nova York me deram um super dia de Tarsila como dificilmente eu poderei repetir: imagine encontrar, juntinhos, A Cuca, Operários, A Negra, O Abaporu, O Boi na Floresta e O Mamoeiro, entre outras maravilhas...
Nesta visita ao MASP, agora em novembro, viajei com Composição (Figura Só) e Porto I.
No Museu Nacional de Belas Artes, no Rio (quando reabrir), não deixe de ver Autorretrato ou Le Manteau Rouge (1923), pintado por Tarsila quando vivia em Paris.
Em tempos recentes (que, felizmente, parecem ter ficado pra
trás), todas as vezes que eu me desanimava com o Brasil, olhar fotos das obras
de Tarsila era um dos antídotos contra a vontade de jogar a toalha.
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Em 2015, o Museu de Arte do Rio - MAR apresentou uma exposição sensacional com Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e outras modernistas. Eu amei |
Anita Malfatti
Em dezembro de 1917, um artigo do escritor Monteiro Lobato publicado no Estadão atacava duramente a obra de uma jovem pintora. Conhecido como “Paranoia ou Mistificação”, o texto espumava contra o que, poucos anos depois, seria tratado e perseguido pelo fascismo como “arte degenerada”.A jovem artista (com 28 anos, na época) era Anita Malfatti, uma das grandes expressões da pintura Expressionista no Brasil.
A fúria de Lobato contra a obra de Anita — de quem ele até reconhecia o talento — quase estancou a expressão de uma das gênias da nossa raça. Ela entrou em depressão, parou de pintar e, depois, foi aprender a fazer naturezas mortas, estilo tão comum às mulheres pintoras de então, confinadas ao ambiente e à temática doméstica.
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Interior de Mônaco |
A obra mais famosa de Anita é A Boba (1915), que tanto ofendeu os olhares conservadores quando exposta ao público. Hoje, a tela pertence à coleção do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo.
Para muitos, a obra-prima de Anita Malfatti seria O Homem Amarelo, também de 1915 (na verdade, há duas versões do quadro, ambas incorporadas ao acervo do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo.
No MASP, preste atenção em A Estudante (1915), que eu aaaaamoooo, e a Interior de Mônaco (1925). Também gosto imensamente de Tropical (1917), no acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, e de O Barco (1915) e de A Japonesa (1924), ambos da coleção do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
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A arte das mulheres no MASP: A Vendedora de Flores (1947), de Djanira |
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Autorretrato (1947), de Lucy Citti Ferreira |
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Moças do Boulevard Raspail (1939), de Noemia Mourão |
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Mulher Pensando, de Georgina de Albuquerque |
No início da minha adolescência, os pintores impressionistas ficavam apenas uns dois degraus abaixo dos Beatles, no mesmo patamar dos Rolling Stones, no meu Panteão de paixões. Foi a época em que comecei a me interessar de verdade por artes visuais e era capaz de passar tardes inteiras mergulhada em livros que reproduziam telas de Monet, Manet, Degas e companhia.
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Jovem com decote e flor no cabelo (1893) pertence ao acervo do Petit Palais de Paris, mas eu vi o quadro em uma mostra temporária em Nashville, nos EUA |
O fato de eu ter levado pelo menos duas décadas pra descobrir a existência de Berthe Morisot diz muito sobre o apagamento das mulheres no mundo da arte. Porque Berthe não foi uma simples coadjuvante do movimento: é difícil citar @s grandes do Impressionismo sem colocá-la no alto da lista.
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O Penteado, de Berthe Morisot, no Museu Nacional de
Belas Artes de Buenos Aires |
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Caça às Borboletas (1874), quadro de Berthe da coleção do Museu d'Orsay de Paris |
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Um dos motivos de Chicago estar super na minha lista de viagens é ver ao vivo Mulher em sua Toalete, tela que Berthe concluiu em 1880 e integra o acervo do Art Institute of Chicago |
O melhor lugar para ver as obras de Berthe Morisot é, possivelmente, o Museu d’Orsay, em Paris, dono da maior coleção de pinturas impressionistas do mundo — está para esse movimento como a Galleria degli Uffizi está para o Renascimento.
E quando a gente fala que tem mulher no Impressionismo, é sempre bom lembrar de Eva Gonzalès (1849-1883), Marie Bracquemond (1840-1916) e Mary Cassatt (1844- 1926), três artistas muitíssimo interessantes.
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Artistas mexicanas - outro timaço
Um dos grandes banquetes visuais que as viagens me deram foi a visita à muy instigante Cidade do México. Lá tem os diegos, rufinos e siqueros, mas também tem uma mulherada hipnotizante. A maior delas, claro, é Frida Kahlo, um ícone que dispensa apresentações. Mas, assim como no Brasil, a arte das mulheres mexicanas reúne um timaço.
Em 2016, vi cara a cara a arte das mulheres do México em uma sensacional exposição em Brasília chamada Frida Kahlo: Conexões entre Mulheres Surrealistas no México. Na Cidade do México, quase pirei com as maravilhas que vi no Museu Frida Kahlo (a Casa Azul), no Museu de Arte Moderna do México e em uma exposição temporária do imperdível Palácio Nacional de Belas Artes.
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Obras de Frida Kahlo expostas na Casa Azul: no alto, Frida
e a Cesariana (1931) expressa a frustração da artista por não conseguir
levar adiante uma gravidez. Acima, Viva la Vida (1954) |
Foi também uma militante e defendia que a luta das mulheres não podia se apartar da luta de classe.
A trajetória de Maria Izquierdo não foi fácil. Não bastasse ser mulher em uma sociedade conservadora, os
esquerdomachos do Movimento Muralista também a escantearam.
Mas essa mulher iluminada produziu uma obra avassaladora,
transbordante de cores, onde a figura feminina é a protagonista.
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Três Mulheres com Corvo (1951), de Leonora Carrington |
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Autorretrato (1952) de Rosa Rolanda, no Museu de Arte
Moderna da Cidade do México |
Na minha visita mais recente a Montevidéu (maio/2022) eu me esbaldei com a riqueza da
pintura uruguaia. Teve muito Torres García, Pedro Figari, José Gurvich e Manoel Blanes. Mas o que me deixou mais feliz foi
descobrir a arte das mulheres do Uruguai, especialmente os trabalhos de Petrona
Viera e de Berta Luisi.
Petrona foi um expoente do Planismo e a primeira mulher a se
profissionalizar como pintora no Uruguai. Era maravilhosa no uso das cores e é
autora de uma das telas (Composição) que eu mais amei no espetacular Museu
Nacional de Artes Visuais de Montevidéu (MNAV) — e olha que a concorrência ali é duríssima.
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Composição, de Petrona Viera, no MNAV de Montevidéu |
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Adorei conhecer esses trabalhos da uruguaia Petrona na retrospectiva em Cartaz no Museu Nacional de Belas Artes do Chile, em Santiago |
Filha de um presidente da República, Petrona perdeu a audição na infância em decorrência de uma meningite, mas teve acesso a uma educação esmerada e estudou pintura com professores de renome, como Guillermo Laborde.
Pouco mais de um ano depois dessa descoberta, reencontrei Petrona Viera em uma exposição temporária linda no Museu Nacional de Belas Artes do Chile, em Santiago, e voltei a me esbaldar com as cores quentes e aconchegantes de seus quadros.
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Berta Luisi: Composição com círculo, meia lua e peixe (1977) |
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Cartas (esq) e Mesa de Ateliê, ambos de 1988 |
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Fundo do mar noturno (1977) |
Era a primeira mostra individual dedicada a Berta na
história — é difícil acreditar que uma artista do porte de Berta tenha esperado
a vida inteira e mais 15 anos após sua morte para ter seu trabalho exibido
individualmente, mas esse é o fato.
Berta Luisi foi uma das mais destacadas integrantes do ateliê de Joaquín Torres García (por onde também passaram as pintoras Elsa Andrada, Linda Kohen, Marta Morandi e Eva Olivetti). Pintou jardins de pedra, catedrais e fundos do mar e escreveu poemas que permanecem inéditos.
Do outro lado do Rio da Prata, andei me encantando com a
obra da surrealista Mildred Burton e da expressionista Raquel Forner — a
tela Presságio, que ela pintou em 1949, é simplesmente espetacular.
Conheci essas pintoras argentinas no Museu
Fortabat, um ótimo lugar para descobrir a produção de artes visuais dos Hermanos.
Esse ainda é um começo de namoro — confesso que conheço muito pouco dos
artistas argentinos em geral — mas desconfio que será uma relação promissora. Duro
é que diante das últimas notícias eu acho que vou me abster de visitar Buenos Aires nos próximos anos 😑.
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Rebeca Matte: no alto, Ulisses e Calipso, esculpida em
1915, em Florença. Acima, Maternidade |
Em Santiago, gostei muito de conhecer o trabalho das irmãs Magdalena Mira (1859-1930) e Aurora Mira (1863-1939), pioneiras entre as mulheres pintoras do Chile.
Mas a grande estrela da arte das mulheres em cartaz no Museu
Nacional de Belas Artes do Chile é, sem dúvida, a escultora Rebeca Matte, cuja
obra está exposta com destaque no foyer da instituição.
Rebeca Matte foi a primeira mulher de seu país a ter
uma obra de arte instalada em um espaço público (Ícaro e Dédalo, de 1922, hoje na
área externa do museu) e teve diversas obras encomendadas pelo governo chileno —
um selo de reconhecimento, naquela época. Entre essas obras está a escultura A
Guerra, doada pelo Chile à Corte Internacional de Justiça, em Haia (Holanda).
Ela estudou em Paris, foi professora da Academia de Belas
Artes de Florença.
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Esther e Assuero: Artemisia Gentileschi no Metropolitan
Museum de Nova York |
Artemisia Gentileschi
Em anos recente, a vida e a obra de pintora italiana
Artemisia Gentileschi vêm ressurgindo de um apagamento que durou mais de três
séculos.
Telas magistrais, como Susana e os Anciões (do acervo da
Pinacoteca Nacional da Emília-Romanha, em Bolonha) e Judite decapitando
Holofernes (da Galleria degli Uffizi, em Florença) saíram das salinhas laterais
dos museus para correr o mundo em exposições, cartazes e reproduções na
internet.
Artemisia, primeira mulher a ser admitida na Academia de
Belas Artes de Floresça, foi uma artista genial que conseguiu viver de seu
trabalho. Mas, como uma mulher do Século 17 que não se limitou ao universo
doméstico, ela conheceu o inferno.
Filha e irmã de pintores, Artemisia foi estuprada, aos 18
anos, por um sujeito que pintava e frequentava sua casa e ateliê da família. E
teve a coragem de denunciar o crime e enfrentar o combo que acompanha essa
ousadia: a incredulidade e a culpablização da vítima — se hoje ainda é assim,
imaginem no Século 17.
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Artemisia: Judite decapitando Holofernes (no alto) e Suzana e os velhos |
As passagens bíblicas sobre Judite decapitando Holofernes — a viúva hebreia seduz o general assírio que sitiava sua cidade e o assassina, para livrar seu povo — foi pintada por Artemisia pelo menos três vezes. As telas são vistas pelos estudiosos de sua obra como uma espécie de tentativa de catarse da pintora em relação à violência sofrida por ela.
Em janeiro de 2017, tive a alegria de ver a exposição temporária Artemisia Gentileschi e seu tempo no Museu de Roma (Palazzo Braschi). Suas principais obras estavam lá, ao lado de trabalhos de seus contemporâneos. Antes, já tinha tido a alegria de ver Artemisia no Metropolitan Museum de Nova York (Esther e Assuero) e a magistral recriação da cena de Judite e Holofernes que está na Galleria degli Uffizi de Florença. Essa pintora vale a viagem.
Classificada pelos estudiosos como uma caravaggesca — do grupo de artistas
influenciados pelo estilo de Carvaggio — Artemisia era uma força da natureza.
Excelente a postagem. Parabéns. Para mim, viajar também é isso, além da gastronomia e dos lugares bonitos, pitorescos, agradáveis, etc. Claro que é muito mais gratificante viajar e conhecer - pessoalmente ou pela matéria acima - essas obras de arte do que ficar se deliciando com uma foto de um Starbucks moderníssimo que abriu em Chicago ou no Tocantins. Uma coisa que sinto é a falta de reproduções de muitas dessas obras. Encontramos mais facilmente(principalmente nas lojinhas dos museus) reproduções de Klimt, de Van Gogh, de Edward Hopper, etc, mas não encontramos reproduções de outros quadros de artistas nem sempre tão famosos mas que nos agradaram mais, p.ex. E, ainda em tempo, a postagem demonstra, cabalmente, a grande qualidade das mulheres nas artes, lembrando que os caminhos trilhados pelas mulheres nem sempre são ou foram plácidos. Que venham outros tantos. Se não podemos visitar todos os museus que desejamos, ao menos ocupemos um camarote na Fragata e naveguemos por esses mares sempre bonançosos. É de graça!!!!
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